Livros para colorir
- Célio Juvenal Costa
- 11 de jun.
- 3 min de leitura
Por Célio Juvenal Costa, professor da UEM
Em recente estatística publica pela Publish News, com o apoio da Câmara Brasileira do Livro, é mostrado em dos 20 livros mais vendidos em 2025, até o mês de maio, 7 são livros para colorir, e um deles encabeça a lista como o mais vendido. Também em recente reportagem em um jornal na televisão, foi mostrado que tais livros se tornaram sucesso editorial e as pessoas os compram para relaxar ante a dura realidade da vida. Mas, isto não chega a ser uma novidade, pois há dez anos, os livros para colorir Jardim Secreto e Floresta Encantada venderam juntos mais de 1 milhão de cópias no Brasil.

Me perguntava há dez anos e volto a me perguntar agora: será que o apelo por este tipo de "leitura" é algo espontâneo ou responde a um tipo de comportamento social? Assim como os livros de autoajuda, que são sucessos editoriais por responderem a anseios da população em encontrar auxílio para sair de crises e se dar bem pessoal, social e profissionalmente, os livros para colorir devem estar ligados a algum tipo de vazio existencial presente, em abundância, na atualidade.
Não sei se meus leitores já viram, ou provavelmente alguns já até compraram, mas, o fato, é que os tais livros para colorir são boas edições, com desenhos minuciosos e com muitas páginas. Os livros são vendidos como antiestresse em meio à agitação do dia-a-dia e para que as pessoas se desliguem um pouco da TV e das redes sociais, e como um remédio para a nomofobia, que é a dificuldade que as pessoas têm de se desligar da internet, tida como uma das novas doenças da atualidade. No entanto, depois de analisar atentamente um dos livros que minha filha comprou (Jardim Secreto) há dez anos, fiquei me perguntando que vazio(s) este tipo de "literatura" preenche(m) de fato na vida dos adultos, já que são eles os principais consumidores?
Quando algo vira moda, seja lá o que for, eu sempre me pergunto os motivos, pois me intriga o fato de que, de uma hora para outra, milhões de pessoas passarem a consumir ou pensar da mesma forma. Para mim, especialmente quando se trata de algum produto, há sempre dois polos envolvidos: um do idealizador, que, por alguma razão, enxergou naquele produto uma demanda a ser potencializada; o outro polo é o consumidor que, também por algum motivo, passa a sentir necessidade daquele produto porque ele traz prazer e faz sentir-se feliz. O problema é que, na maioria dos casos, o produto da moda vai ao encontro de vazios existenciais preenchidos por conteúdos empobrecedores, fluidos e, portanto, lastimáveis.
Não estou aqui julgando ninguém em particular e muito menos afirmando que todas as pessoas se encaixam na minha análise, pois sempre procuro pensar nos aspectos mais gerais das questões. No caso dos livros de colorir penso três coisas: primeiro que eles não acrescentam nada na vida dos adultos, não informam nada de novo, não problematizam a vida do leitor, não acrescentam nenhum dado cultural, não apresentam nenhum novo personagem, enfim, de fato, não são livros; segundo, enquanto fenômeno editorial, me parece que se trata de algo que contribui para a infantilização da vida adulta, pois pintar, para a imensa maioria das pessoas (tirando os artistas, os quais, aliás, acho que se recusariam a ficar pintando desenhos), é brincar, é repetir uma brincadeira e não criar algo novo, pois os desenhos estão prontos para serem consumidos, ou melhor, para serem pintados e, além do mais, pintar desenhos prontos é uma atividade própria para as crianças pequenas que estão aprendendo o sentido da lateralidade espacial; e, em terceiro lugar, é um fenômeno de massificação de algo um tanto sem sentido, que padroniza comportamentos e busca combater o vazio da existência com algo igualmente vazio de significado, pois, de fato, ao se trocar a possibilidade de combater a dependência da internet com livros reais (sejam de papel ou eletrônicos) e seus significados culturais, por livros com desenhos prontos para serem pintados, criamos um sério risco de esvaziarmos ainda mais a nossa já combalida humanidade.
Finalmente, os livros para colorir são realmente bonitos. Quem gosta de pintar desenhos prontos, cheios de detalhes, que se deleitem, não os julgo e muito menos os condeno. Mas saibam que fazem parte de uma onda que tende a despersonalizar o ser humano, infantilizar o adulto e tomar uma espécie de placebo contra o vazio da existência humana, ou seja, remédio que não ataca a causa e, a rigor, nem os efeitos.
Meu Instagram: @costajuvenalcelio
Obs: Esta é uma versão revisada e atualizada de um texto originalmente publicado no blog: devaneioseoutrasreflexões.blogspot.com.
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