Incultura Política: NÓS CONTRA ELES ou NÓS CONTRA NÓS?
- Nelson Guerra
- 22 de jul.
- 3 min de leitura
Por Professor Nelson Guerra
Como a polarização política transformou o Brasil em um Fla-Flu sem fim.
Se o futebol já foi o nosso "ópio do povo", hoje esse título pertence à política. Em 2026, teremos mais uma edição do maior reality show do Brasil: as eleições presidenciais. E nesse jogo, já sabemos o roteiro: torcidas organizadas, xingamentos no Zap da família e um jogo onde o placar nunca é justo para todos.
A diferença? No futebol, pelo menos no final da partida, todo mundo vai para o churrasco. Na política, o churrasco já começa com a costela só para um lado e a linguiça estragada para o outro.

"MEU CANDIDATO, MINHA PAIXÃO" – QUANDO A POLÍTICA VIRA TORCIDA
O brasileiro adota candidatos como se fossem craques de futebol. Se o político erra um pênalti (digamos, um escândalo de corrupção), a torcida grita: "Foi armação da oposição!" Se acerta (ou seja, faz o mínimo), viram heróis nacionais.
E assim vamos discutindo política como se fosse um debate entre Flamengo e Corinthians, onde a razão perde para a emoção, e os fatos são menos importantes que o grito de "TÁ ÓBVIO QUE É GOL!"
"NÓS CONTRA ELES" – O JOGO SUJO DA DIVISÃO
A polarização política no Brasil se alimenta de uma lógica simples: "Se você não está comigo, está contra mim." E assim, criamos dois times:
O "Nós" – Seja Lula, Bolsonaro ou qualquer outro líder, este lado acredita piamente que só eles salvam a pátria.
O "Eles" – O inimigo a ser derrotado, responsável por todos os males do país.
O problema? Quando o jogo vira "nós contra eles", esquecemos que o adversário não é um rival a ser destruído, mas um concidadão com quem devemos debater.
POLARIZAÇÃO AFETIVA: QUANDO O CUNHADO VIRA INIMIGO
Já percebeu como, hoje, descobrir que o primo vota em outro candidato é pior do que ele torcer para o rival do seu time? Isso é a polarização afetiva em ação.
Antes: "Ah, ele vota no outro, mas faz uma feijoada ótima!"
Agora: "Ele vota no outro? Nem olho na cara!"
O problema é que, quando a política vira questão pessoal, perdemos a capacidade de ouvir. E sem diálogo, viramos uma república de torcidas rivais, onde o debate é substituído por memes e xingamentos.
VIÉS DE CONFIRMAÇÃO: O ALGORITMO DO "EU SEMPRE TENHO RAZÃO"
Se nas redes sociais você só vê notícias que confirmam suas crenças, bem-vindo ao viés de confirmação – o fenômeno que faz com que o brasileiro médio leia só o que quer ler.
Se você é de esquerda, seu feed só mostra os erros da direita.
Se você é de direita, só aparece as falhas da esquerda.
E assim, vivemos em bolhas onde a verdade é aquilo que nos convém, e não o que é real.
CÂMARA DE ECO: O WHATSAPP E AS FAKE NEWS QUE VIRAM "FATOS
Grupos de WhatsApp são as novas arquibancadas da polarização. Lá, as fakes circulam como gols de placa – mesmo que sejam gols contra.
"O candidato X vai confiscar seu imóvel!"
"O candidato Y vai acabar com a família tradicional!"
Quando a mentira vira moeda política, elegemos não os melhores, mas os que souberam mentir melhor. E o Brasil já cansou de perder esse jogo.
CONCLUSÃO: SERÁ QUE UM DIA O JOGO ACABA?
Enquanto tratarmos política como um Fla-Flu sem fim, onde o importante não é debater, mas vencer a qualquer custo, continuaremos perdendo como nação.
Em 2026, tentemos algo novo:
Menos torcida, mais análise.
Menos ódio, mais debate.
Menos fake, mais fatos.
Afinal, no estádio da democracia, ou jogamos juntos, ou perdemos todos.
(Nelson Guerra é professor e consultor em Gestão Pública. Escreve com um olho na política e outro na bola, sem xingar o cunhado)
Ninguém deveria ter imunidade para esconder-se atrás de mentiras nem ter o poder de espalhá-las sem que tenha que arcar com as consequências.
A certeza da impunidade é que transforma a política num fla x flu.
Excelente texto Guerra ! Analise crítica e imparcial ! Na verdade todos somos passageiros do barco chamado Brasil e, portanto, todos deveriam remar no mesmo sentido ! Peracio
Bom... Muito bom!!! Parabéns professor!