Craques em fim de carreira.
- Walber Guimarães Junior
- há 1 dia
- 4 min de leitura
Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.
Não está fácil. Agora com o escândalo do INSS, mexendo com aposentados, a leitura pode ficar ainda pior e a ampulheta eleitoral segue vertendo areia e pode até se esgotar antes do processo eleitoral. Lula precisa fazer milagres e não tem cartola, muito menos um coelho para surpreender o público.

A fórmula Millei, referendada até por Maquiavel, é muito mais eficiente. A lua de mel das urnas te concede um período em que as “maldades” são admitidas, veja que eu não disse aprovadas, e executá-las pode ter um preço elevado de curto prazo, mas concede todo o resto do mandato para a colheita de prestígio decorrente dos ajustes. Millei fez isto, foi até cruel com servidores e aposentados, mas o déficit público praticamente zerou e a economia embicou para cima, será um processo longo, porém a matéria prima fundamental, confiança, aumentou em estoque e pode durar até as próximas eleições. Lula acreditou demais no seu carisma.
Lógico, que a conclusão supramencionada é simplista, embora seja realmente um dos fatores mais fortes da largada do Lula 3. Ocorre que Lula joga duas partidas em simultâneo, em um xadrez complexo onde tem a política e a popularidade dos lados opostos de cada tabuleiro, com a agravante que jogadas iguais produzem resultados muito diversos em cada uma das disputas. Entender esta contradição é essencial para uma leitura mais precisa das limitações da atual gestão. Em plena era digital, a eloquência do discurso não resolve nenhuma das frentes porque as regras de ambos os jogos mudaram desde a última década.
A população, armada de artefatos digitais, recebe muito mais informações, ainda que contaminada por fakes, e tem inúmeros canais de manifestação. Versões, sempre um caminho percorrido pelos governos anteriores, não se sustentam com a proliferação de fluxos de informações. Lula não perdeu o encanto, apenas se mostra em preto e branco na tv colorida, fala em mono no aparelho estéreo, não se ajustou aos novos padrões e sua comunicação segue obsoleta, sem cumprir a finalidade.
No outro tabuleiro, político, nem acho que tenha culpa. Bolsonaro sofreu com as mesmas limitações impostas pela presidência de coalisão que, decifrada por profissionais concentrados ao centro, comandam o jogo, impõe regras e cobram pedágio na forma de emendas, modalidade de corrupção, sem o pecado da generalização, mais sutil que mensalões ou equivalente, mas na prática produzem o mesmo efeito; aprisionam o cara da sala principal do Palácio do Planalto, sob a trava do impeachment exigem ministérios e verbas obscenas que limitam qualquer possibilidade de ajuste fiscal.
As alternativas de Lula são cada vez menores e conflitantes entre si. Agradar políticos e recuperar popularidade tem um custo que o Brasil não suporta pagar e agora resta pouco tempo para correções de rumo. Todos sabem que eliminar o déficit é fundamental para recuperação econômica e até da credibilidade, porém é a direção oposta do caminho das urnas. Escolher os caminhos certos da economia não leva ao destino até 2026 e resulta em derrota eleitoral antes de consolidar resultados, restando paliativos para resgatar popularidade que, geralmente, deixam belas contas para a gestão seguinte.
A conclusão é cruel para esquerda; só tem Lula, sem lado B, e depende muito mais do erro do adversário do que de seus acertos, cada vez mais improváveis naquilo que é essencial. Sua sorte é que o principal atleta do adversário, ídolo da torcida, atualmente mais atrapalha que ajuda.
O craque da direita, Bolsonaro, não abandona o campo por nada, mesmo acometido de contusões jurídica (processos) e eleitoral (rejeição elevada), tem todo um elenco no aquecimento, gente competente que pode entrar em campo e dar conta do recado, mas nenhum jogador resolve a partida se entrar em campo aos quarenta do segundo tempo. Como um velho ídolo que não se enxerga fora do campo, insiste em se manter em atividade e limita a carreira dos que estão na fila.
Tarcísio, Ratinho, Caiado, Zema e Eduardo Leite, testados e aprovados em seus estados tem habilidade para definir o jogo, principalmente se a equipe se mantiver unida, com a torcida incentivando, mas em conflito poderá ver o adversário crescer e até com possibilidade de decidir o jogo no primeiro tempo, porque todos sabem que nem é tão difícil assim reforçar o time com atletas republicanos, unidos, populares ou mesmo de outras agremiações, cujos passes de pagam com recursos de terceiros, no caso nós mesmos, os eleitores.
A estrada asfaltada para o governo termina em doze meses, depois serão atalhos difíceis de percorrer, mas sempre pode comprar combustível a prazo, para pagar em 2027, portanto é a direita que precisa se resolver, escalando o que tiver de melhor e seguindo em frente, somando seus torcedores aos desagarrados do time adversário, decepcionados com a campanha do time nos últimos três anos.
Um pouco de sinceridade faz bem, ainda que incomode. Como no futebol, os partidos viraram SAFs que priorizam o lucro, fazer negócios com quem quiser pagar, mesmo que isto comprometa o resultado em campo.
Acabou o amor à camisa, ou ao partido, o passe de todos está à venda, por isso a eleição segue em aberto.
Comments