Lady Gaga no Brasil: Entre Fake News, Cores e a Celebração da Diversidade

A passagem de Lady Gaga pelo Brasil deixou um rastro de euforia, talento inegável e, como de costume na era digital, uma teia de fake news e interpretações polêmicas. Diferentemente da recepção controversa de outra diva pop, Madonna, cujo show a um ano  gerou críticas de setores conservadores, a passagem de Lady Gaga parece ter surfado em ondas inesperadas de aprovação, inclusive por parte de um público que outrora se mostrara mais resistente a manifestações artísticas com forte teor de diversidade.

Um dos pontos mais curiosos dessa visita foi a leitura inusitada sobre as cores utilizadas no show. O vermelho, que representa a esquerda, o verde, o amarelo e o azul, que naturalmente remetem à bandeira brasileira, foram apropriados por alguns como símbolos de uma suposta guinada ideológica da artista. Em grupos de WhatsApp e comentários online, especialmente entre o público evangélico e conservador, ganhou força a narrativa de que a troca de figurino de Lady Gaga, do vermelho para o verde e amarelo, representaria uma alegoria à "destruição do PT" e uma exaltação do patriotismo conservador. Essa interpretação, por mais fantasiosa que possa parecer, viralizou, demonstrando o poder de narrativas distorcidas em um cenário polarizado.

A criatividade do brasileiro, sempre fértil, também se manifestou na forma de memes. A figura de Lady Gaga transcendeu o palco e invadiu o imaginário popular com montagens que a colocavam como uma potencial candidata à presidência do Brasil. Essa brincadeira, impulsionada pela notoriedade da artista e sua forte presença global, evidencia o quanto figuras públicas impactantes podem despertar a imaginação do público. A relação da cantora com o presidente Lula e a drag queen Pabllo Vittar também foi alvo de especulações bem-humoradas, assim como a ressurreição da antiga fake news sobre a nota de R$ 50 com o rosto de Pabllo Vittar – uma prova de como desinformações podem circular e ganhar novas roupagens em diferentes contextos.

Mais uma vez, o Brasil se mostrou um palco vibrante e acolhedor para um talento internacional do tamanho sem igual de Lady Gaga. A visita da artista injeta recursos na economia, atrai os holofotes da mídia global e demonstra a nossa capacidade de sediar eventos grandiosos. Revela ao mundo um Brasil plural, colorido e inteligente, capaz de vibrar com a arte em suas diversas formas.

Artistas como Lady Gaga desempenham um papel crucial para a comunidade LGBTQIAPN+. Ao darem visibilidade à causa, oferecem apoio a indivíduos que lutam contra a depressão, a baixa autoestima e o peso do preconceito. Suas músicas e performances se tornam hinos de empoderamento, injetando coragem e força para enfrentar as adversidades. A identificação com essas divas pop proporciona um senso de pertencimento e a certeza de que não estão sozinhos em suas jornadas.

Que a passagem de Lady Gaga e de tantos outros artistas talentosos continue a inspirar e a nos lembrar que, um dia, veremos os nossos sonhos de uma sociedade mais justa e inclusiva serem coroados.

Leonna Moriale

Travesti Arte’ativista