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A punição de Moraes e a tibieza de Haddad.

Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.


Ainda que as testemunhas sejam limitadas, raramente neste espaço personificamos qualquer espécie de crítica, exceto quando relacionadas ao desempenho de funções públicas. Todavia, na situação em questão, dois personagens, Alexandre de Moraes e Fernando Haddad, por razões diversas se tornaram “trend topics” das redes sociais brasileiras, gerando sentimentos diversos na população, perplexidade, comemoração e indignação, talvez na ordem descrita.



Segue-se o start meramente descritivo.


Em sessão da Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Representantes, o Secretário de Estado americano Marco Rubio declarou que os EUA avaliam a possibilidade de punir o ministro brasileiro Alexandre de Moraes, ou como se segue textualmente "está sob análise neste momento e há uma grande possibilidade de que isso aconteça” porque, já nas palavras do Deputado Cory Mills, o Brasil estaria enfrentando um "alarmante declínio dos direitos humanos que inclui censura generalizada e perseguição política contra a oposição", conforme mencionado por Mills.


Segundo fato; na última quinta-feira, às 17 horas, o Ministro Haddad anunciou um conjunto de medidas, todas em direção à contenção de gastos públicos ou aumento de arrecadação, logicamente buscando uma redução da defasagem entre despesas e receitas ainda em 2025. Dentre elas, uma controversa medida que incluía taxação de IOF em operações de transferência e câmbio, algo muito complexo porque estes valores são extremamente móveis, indo e vindo muitas vezes, até no mesmo período, criando quase impossibilidade de aplicação da medida e, muito pior, geraria um terrível desconforto para investidores, comprometendo diretamente a estabilidade e credibilidade do Brasil neste mercado.


Em poucas horas, o comando político, sem a presença do ministro Haddad, se reuniu e indicou o cancelamento do ato, seguida de reunião técnica, já no ministério, algumas horas depois, onde se procedeu ao ajuste das medidas, com eliminação de qualquer aspecto que alterasse as regras do IOF. Três ou quatro horas para revogar um ato programado por algumas semanas.


São duas situações diversas que, em conjunto, permitem entender a complexidade do momento que o Brasil vive, sob intensa instabilidade jurídico política e com muita pressão econômica porque a nossa capacidade de represamento é cada vez menor e, em algum momento, talvez no curto prazo, o governo terá que ser mais contundente para o enfrentamento do déficit público por falta de espaço de manobra, como ocorre em qualquer empresa onde o fluxo de caixa adquiriu gritantes tons avermelhados.


Em relação ao ministro Alexandre de Moraes, resta um debate sobre a legitimidade da ação americana que, em princípio, parece transgredir a soberania nacional, todavia o Secretario americano tem amplo respaldo na legislação interna para, eventualmente aplicar as penalidades, ainda que sua justificativa seja unilateral e retirada da cartilha da direita brasileira, independente de avaliação de juízo.


Quase todas as sanções ocorrem em solo americano, embora, se levadas ao extremo, podem evoluir, por exemplo, para punição de agentes financeiros que possuíam ativos do ministro, gerando grande constrangimento até no Brasil. Sinceramente, não acredito que Rubio vá além de um bom alento à direita brasileira, embora não endosse o discurso da esquerda de agressão à nossa soberania. Não permitimos que os EUA discutam nossas regras quando punimos Elon Musk, por exemplo, logo por que exigir o direito de contestar a legislação americana neste caso?


Infelizmente, a polarização interna é mais um produto brasileiro, outra jaboticaba genuína, que exportamos, ainda que sem receitas, e que mobilizam debates em muitas nações desenvolvidas, que se alternam em aprovar um ou outro lado, ao sabor das identidades ideológicas, mas sem esconder o fundamental; nossa polarização obtusa e desprovida de bom senso, compromete nosso conceito e expõe nossas feridas externas, confirmando que o personalismo está bem acima das demandas urgentes que limitam nosso crescimento.


Sem minimizar a ação açodada do Ministério da Fazenda que resultou em cancelamento em poucas horas de ato desenhada por uma quinzena, o recuo de Haddad expõe mais uma vez a submissão dos atos econômicos às diretrizes políticas, com razão restrita a apenas este caso em particular.


Qualquer brasileiro que possua companheiros para o Tico e o Teco cerebral, sabe que razões políticas são extremamente mais relevantes do que as econômicas, parâmetro que atravessa governos como verdade universal e define como axioma a supremacia dos fatores eleitorais sobre qualquer outra demanda nacional.


De novo, os fatos comprovam que o foco na reeleição é determinante das ações em todas as direções e não seja injusto em olhar apenas para um lado, porque o próprio julgamento da tentativa de golpe comprova, no governo anterior, que permanecer no poder precisa ser tentado a qualquer custo. Mais uma vez, repito a conclusão incômoda; nada iguala, mais Dilma, Temer, Bolsonaro e Lula que a paixão desenfreada pelo exercício do poder.


Uma semana constrangedora onde dois fatos, a possibilidade de punição à Alexandre de Moraes pelos americanos e o recuo em tempo recorde de Haddad, expõem diversas feridas abertas da nação brasileira que se somam na construção de um mosaico triste da nossa política.


Soberania, liberdade de expressão, perseguição política, liberdade econômica, credibilidade, estabilidade e tantos outros ingredientes são jogados à mesa das discussões, simplesmente por um fato extremamente lamentável, ainda que minha conclusão seja apenas resultante de minha limitada capacidade de interpretação dos fatos.


Somos reféns da vaidade de nossos políticos e da intensa submissão de nossos interesses aos projetos pessoais de nossos líderes. Desejamos o desenvolvimento com qualidade de vida e segurança econômica, mas ouso dizer que a eles o exercício do poder, e suas benesses, são determinantes de suas ações.


Alexandre de Moraes e Fernando Haddad foram apenas exemplo de didáticos que a semana passada nos ofereceu.

 

 

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