Um Deus de Propósitos
- Christina Faggion Vinholo
- há 1 dia
- 2 min de leitura
Christina Faggion Vinholo, teóloga, especialista em AT e NT.
Vivemos numa cultura marcada por metas, realizações e a incessante busca por sentido. Não é raro ouvir que “Deus tem um propósito” para cada um de nós — e, geralmente, isso é interpretado como a promessa de um futuro confortável, o cumprimento de sonhos ou a conquista de vitórias pessoais. Mas o testemunho das Escrituras nos conduz a algo muito maior: o verdadeiro propósito de Deus é a Sua própria glória. “Porque dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre!” (Romanos 11:36).

Deus não age por impulso nem é surpreendido pelos acontecimentos. Ainda que nossos caminhos muitas vezes pareçam desconexos, ou quando a dor e a frustração batem à porta, podemos confiar que tudo está inserido em um plano eterno e intencional. Ele “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Efésios 1:11), e o fim último de tudo que existe — inclusive da nossa própria vida — é que Ele seja conhecido, exaltado, glorificado. Isso não nos diminui, pelo contrário: nos liberta de viver uma fé centrada em nós mesmos.
A história da cruz é a revelação mais clara disso. Jesus não morreu porque o plano falhou; Ele morreu porque o plano era esse. “Este homem lhes foi entregue por propósito determinado e pré-conhecimento de Deus” (Atos 2:23). O que, à primeira vista, parecia derrota e tragédia, era na verdade o maior triunfo da história: Deus glorificando a Si mesmo ao redimir um povo para si. O sofrimento do Servo do Senhor foi “do agrado do Senhor” porque cumpria Seu propósito soberano (Isaías 53:10). Isso nos ensina que, muitas vezes, a glória de Deus se manifesta justamente nos caminhos mais difíceis, na dor que não compreendemos, na espera que nos desgasta. “Pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles” (2 Coríntios 4:17).
Diante disso, a pergunta que guia nossa caminhada muda. Não perguntamos mais: “Qual é o plano de Deus para que eu seja realizado?”, mas sim: “Como posso viver para que Deus seja glorificado?”. Essa mudança de foco transforma nossa maneira de orar, de tomar decisões, de enfrentar lutas e de interpretar vitórias. A vida cristã deixa de ser um caminho para o nosso engrandecimento e se torna uma jornada de rendição e confiança, onde até mesmo o que não faz sentido tem valor eterno. Afinal, “quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31).
Essa é uma fé que nos desafia, mas também nos consola. Porque, no fim, não depende de nossa capacidade de entender, mas da fidelidade do Deus que conduz todas as coisas. E é nesse lugar de rendição que encontramos descanso. Não um descanso baseado em resultados visíveis, mas uma paz profunda baseada no caráter de Deus — soberano, sábio, bom. E assim, mesmo que nossas expectativas mudem, nosso coração permanece firme. Não vivemos em busca de um propósito pessoal, mas entregues ao propósito eterno dAquele que nos criou para a Sua glória.
Instagram: @chrisvinholo
E-mail: chrisvinholo@gmail.com
Comments