UM SILÊNCIO LAMENTÁVEL
- Redação Bisbilhoteiro

- 25 de abr.
- 2 min de leitura
Como se não nos bastassem Trump, Putin, Netanyahu, Xi Jimping, para completar a tragédia vai-se Francisco. As coisas estão cada dia piores neste mundo de Deus.

Cala-se uma das únicas vozes sensatas do mundo, neste instante em que a intolerância dita as normas e comanda as ações humanas. Francisco era uma fala dissonante neste universo de interesses pequenos que movem o mundo atual.
Tinha nos radicais de direita seus desafetos maiores, em virtude de sua postura inclusiva e tolerante. Os migrantes sobreviventes dos horrores do Mediterrâneo tinham nele um aliado de esperança, eles que traziam a desesperança estampadas no rosto e o desespero na alma; eles que deixavam para trás a pátria, a família, premidos pela necessidade de pão, de liberdade, por vezes, de ambas, em busca de um sonho que se resumia em sobreviver e que muitas vezes findava nas águas azuis e bravias do mar.
A Igreja Católica que sempre foi acusada de elitista teve na figura desse jesuíta uma mudança de paradigma. Esse sul-americano que viu de perto a truculência das ditaduras do cone sul, sabia perfeitamente como o pensamento radical leva ao sofrimento dos povos.
Enquanto no mundo de hoje, os maiores tentam se impor sobre os menores por força das armas e das tarifas: as primeiras com objetivos expansionistas e a segunda com o propósito de aumentar seu poder financeiro, mesmo que isso leve ao aumento da miséria dos mais pobres, ele tinha como arma: a força moral da sua palavra e o seu exemplo.
Agora quando Roma e o mundo se preparam para exéquias desse homem que durante alguns anos dividiu seu pontificado com outro papa, Bento XVI, considerado um teólogo conservador, e, harmoniosamente, soube conviver com ele, numa demonstração de respeito àqueles que pensam diferente.
É esse seu exemplo de tolerância e resiliência que faz com que os opositores de seu modo de pensar, numa demonstração de reverência se disponham a assistirem às homenagens que lhe presta a igreja na sua despedida.
Tertuliano considerado um dos “pais da igreja antiga” (Século III d.C.), dizia: “O que Atenas tem a ver com Jerusalém?” Para dizer que a mensagem do Cristo Crucificado, nada tinha com a filosofia grega.
Neste momento em que a laicização do mundo é uma marca, o Papa Francisco, ao contrário dos seus antecessores, que tentavam explicar as verdades da igreja a um mundo em ebulição, seguiu o caminho oposto: explicar à Igreja a realidade do mundo atual, como suas mudanças e idiossincrasias, para dizer que ela tem tudo a ver com os excluídos, com os perseguidos, com os discriminados e que essa era é a mensagem que nos deixou o crucificado em Jerusalém.
É essa voz que agora se cala. É esse o silêncio lamentável.
Pádua Sousa
Antonio de Pádua Silva Sousa,médico urologista Maranhense, romancista. Membro da Academia Maranhense de Medicina, da Sociedade Brasileira de Médicos escritores ( SOBRAMES), da Academia Atheniense de Letras e Arte ( ATHEART), e Membro fundador da Academia Bernardense de Letras e Artes (ABELA). Obras: Contos: "O Velejador"
Romances:" Rosas para Laura", "Encontros" ," Rosas para Laura"e "Confraria do Caos"













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