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Morte

A morte talvez seja a coisa mais natural em nossa vida, pois, como diziam os antigos, “a única certeza que temos na vida é que um dia morreremos”. Mas nem por isso ela deixa de ser assustadora, de ser dolorida para os entes queridos que ficaram vivos. O desenvolvimento da sociedade, especialmente da ciência, trouxe o combate efetivo de várias doenças que tempos atrás eram causa de morte, como a tuberculose e a AIDS, mas ainda convivemos com doenças que ainda não sabemos a sua cura, como o câncer, e que, portanto, também nos amedrontam e nos angustiam. A morte, como reflete o sociólogo alemão Norbert Elias, em A Solidão dos Moribundos, cada vez mais é jogada para o fundo da cena social, ela é higienizada e, apesar dos avanços científicos e das explicações racionais, as pessoas, no geral, têm dificuldade de falar sobre ela. Então, vamos falar um pouco sobre a morte...

 

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Em sua Carta sobre a Felicidade, dirigida a seu discípulo Meneceu, o filósofo grego Epicuro, que viveu entre os séculos IV e III antes de Cristo, assim escreve sobre a morte: “Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.” As palavras de Epicuro são tão sábias e plenas de sentido como difíceis de aplicar no nosso cotidiano. Independente da idade que a pessoa tenha, a morte sempre representa para os vivos uma interrupção de algo, de um futuro que poderia ou deveria ser vivido.

 

Eu tive um professor no curso de Filosofia que dizia algo mais ou menos assim: quando nascemos, começamos nossa caminhada em direção à morte. Do ponto de vista biológico nada mais correto, pois realmente nossa vida, a qualquer momento, pode deixar de existir, e o que fica depois é nossa não existência física. Refletir sobre a morte, portanto, é, na verdade, pensar sobre a nossa vida. Para as pessoas que acreditam que há uma outra vida depois da morte física, fica o alento de um dia rever seus entes queridos em um outro plano, espiritual e não mais material. No entanto, praticamente todas as religiões mais praticadas no mundo condicionam, de certa forma, a existência pós-terrena em um paraíso à uma conduta digna na existência terrena. Então, mesmo numa perspectiva religiosa, a morte, como nos diz Norbert Elias, é um problema dos vivos.

 

Como lidamos com a ideia da morte é algo que nos diz respeito. Cito novamente Epicuro para ilustrar: “Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais”. Lidar com a ideia da morte é, de certa forma, lidar com a ideia que cada pessoa faz do seu próprio futuro. E, parece que as pessoas lidam com o futuro como se fosse algo certo, e a própria ideia de que a morte vai interrompê-lo, já é causa de mal estar ou de sofrimento. De certa forma, queremos ou pretendemos ter a direção de nossa vida, controlar o que somos e o que seremos, no entanto, a parte do futuro que não é nossa pode nos colocar como passageiros em um veículo às vezes desgovernado, outras vezes dirigido por outras pessoas. As palavras de Epicuro podem nos fazer encarar a morte com mais naturalidade, como algo que, por inúmeras circunstâncias que muitas vezes não dependem de nós, pode acontecer.

 

É claro que existem mortes que são mais sentidas pelas pessoas que ficam, especialmente aquelas repentinas, motivadas por acidentes ou um mal súbito ou, ainda, causadas por outras pessoas por meios violentos, e também aquelas que causam grande comoção para além da família e amigos; mas há aquelas que a pessoa contrai uma doença que a faz ir definhando aos poucos, em que a pessoa vai ficando moribunda, e chega um momento que as pessoas ao redor desejam acima de tudo o descanso do ente querido. No segundo caso talvez seja menos difícil falar da morte, pois ela está próxima, e no primeiro caso, não vemos necessidade de tal. O que importa, ao meu ver, é que não tenhamos preconceito em falar da morte; falar sobre ela, em qualquer circunstância, não atrai azar ou emergias negativas, pois, no fundo, é falar sobre a vida e, inclusive, na medida das possiblidades, de como gostaríamos que nossa vida terminasse.

 

Por fim, quando penso sobre a morte e sobre os mortos, sempre me lembro do Dia de los muertos no México, que tive o prazer de presenciar por duas vezes, em que se lembra dos entes queridos que já se foram, mas com muita alegria, ao invés de tristeza. As pessoas enfeitam igrejas, túmulos, fazem as comidas que os mortos gostavam, tocam e cantam as músicas que os falecidos gostavam, as crianças de vestem de fantasias de caveiras, enfim, celebram a vida da pessoa querida que já se foi, e não ficam apenas lamentando sua morte. Sempre achei que é uma forma muito bonita de lidar com a morte. Para quem não conhece esta tradição mexicana recomendo assistir Viva, a vida é uma festa, uma animação da Pixar, de 2018, e que venceu o Oscar de melhor filme de animação.

 

(Dedico estas reflexões ao meu irmão, falecido no último dia 06/12. Lori, celebraremos sua vida sempre que a família estiver reunida!!)

 

 

Meu Instagram: @costajuvenalcelio

 

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