MICHELLE BOLSONARO: a Rainha que Move as Peças do Bolsonarismo
- Nelson Guerra

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Entre alianças desfeitas e filhos contrariados, a ex-primeira-dama avança no tabuleiro da direita.
(por Prof. Guerra)
O jogo político brasileiro assiste a um fenômeno raro e poderoso: a ascensão de uma liderança feminina que, longe de ser uma coadjuvante, começa a ditar as regras e a desafiar as estruturas internas de seu próprio campo.
Enquanto o bolsonarismo navega nas águas turbulentas da sucessão, Michelle Bolsonaro emerge não como uma simples herdeira, mas como uma força política própria, catalisando um debate que vai muito além das alianças partidárias e toca no cerne do papel da mulher na política nacional.

Imagem criada por IA – Nelson Guerra
A pergunta que paira no ar, entre um evento religioso e uma reunião de estratégia, é simples: estamos diante apenas de uma fiel "ajudadora do esposo" ou de uma "leoa" pronta para liderar o próprio bando? Os últimos acontecimentos sugerem que a resposta se inclina, cada vez mais, para a segunda opção.
Na Mesa do Jogo, a Família Vira Palco de Conflitos
O cenário era o Ceará. O Partido Liberal (PL), sob a bênção do marido e ex-presidente Jair Bolsonaro, costurava um apoio pragmático à candidatura de Ciro Gomes ao governo do estado. Era uma jogada de xadrez eleitoral, calculada para ampliar influências. De repente, Michelle foi ao tabuleiro e derrubou a peça. Em um ato público, questionou abertamente a aliança com quem "xinga o meu marido o tempo todo".
A reação dos filhos de Bolsonaro foi imediata e dura. O senador Flávio Bolsonaro qualificou a atitude da madrasta de "autoritária e constrangedora", afirmando que ela havia "atropelado" uma decisão do próprio pai. Carlos e Eduardo Bolsonaro ecoaram a crítica, defendendo a autoridade paterna. O que poderia ter sido um desastre de imagem, no entanto, transformou-se em uma demonstração de força.
Michelle não recuou. Em um comunicado público, reafirmou seu direito de "pensar diferente" e expressar suas opiniões "com liberdade e sinceridade". O gesto foi muito mais do que uma defesa pessoal; foi uma afirmação de autonomia dentro de um círculo político notoriamente masculino.
Esse episódio escancarou uma fratura que vai além de desentendimento familiar. Ele revela o embate entre duas visões de poder: uma pragmática e negociada, representada pelos filhos e setores do partido; outra, ancorada em lealdade ideológica rígida, personificada por Michelle.
Xadrez político: Submissão Saudável ou Jogo de Poder Afiado?
À primeira vista, pode parecer uma contradição: como conciliar a imagem de esposa que prega uma "submissão saudável" ao marido com a postura de uma mulher que enfrenta publicamente os enteados e desafia a cúpula do partido? Para analistas, porém, não há contradição, mas sim uma estratégia política sofisticada.
Como presidente nacional do PL Mulher, Michelle foi responsável por crescimento de 930% no número de filiadas em apenas um ano, conectando-se às bases com linguagem acessível, de palestras motivacionais a encontros religioso.
No Tabuleiro, a Rainha Ofusca os Peões
Com Jair Bolsonaro inelegível, a disputa pelo seu valioso capital político está aberta. Pesquisas revelam que Michelle é a preferida do eleitorado bolsonarista, superando os enteados Eduardo e Flávio. Em cenários nacionais, chega a ser competitiva contra Lula — algo que os filhos não conseguem.
O PL, no entanto, tenta enquadrá-la: reunião emergencial masculina reafirmou que sua posição no PL Mulher é “honorífica”. Paralelamente, a aposta principal para 2026 recai sobre Flávio Bolsonaro, ignorando a rejeição e falta de tração nacional dos filhos.
Movimentação no Tabuleiro
Ignorar Michelle é ignorar a força política que mais cresce dentro do espectro da direita. Abraçar a ex-primeira-dama plenamente, porém, significaria romper estruturas familiares e partidárias. Enquanto isso, governadores como Tarcísio de Freitas observam atentos, cientes de que o “guarda-sol da direita” pode se fragmentar.
Momento Certo para o Xeque-Mate
Michelle já declarou que só seria candidata à Presidência se recebesse "um chamado divino". Os últimos acontecimentos, porém, sugerem que ela já responde a um chamado terreno: o da oportunidade política e da construção de um legado próprio.
Seu embate com os filhos não é simples briga de família, mas tensão que define o futuro da direita: fragmentar-se em pragmatismo de alianças ou radicalizar-se em torno de identidade ideológica pura, encarnada por uma mulher que converteu discursos de submissão em ferramentas de empoderamento político inédito.
Quem entende de xadrez sabe: a rainha possui mais poder que o rei. O Brasil, acostumado a dinastias masculinas, assiste ao nascimento turbulento de uma liderança feminina que pode mudar o jogo.
(Nelson Guerra é comunicador e consultor em Gestão Pública. E, como todo bom enxadrista, já perdeu mais peões do que copos no boteco da esquina — mas segue acreditando que a rainha é quem decide a partida.)














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