A vida que acontece na simplicidade
- Christina Faggion Vinholo

- há 15 horas
- 2 min de leitura
Christina Faggion Vinholo, teóloga,
Especialista em AT e NT.
Somos tentados a acreditar que a verdadeira vida está sempre no extraordinário: nas grandes respostas, nos grandes sinais, nos grandes acontecimentos que parecem mudar tudo de uma vez. Mas, quando olhamos com atenção, percebemos que a vida que Deus nos dá floresce mesmo é no terreno silencioso da simplicidade. É ali, nos gestos comuns, no trabalho fiel, no cuidado diário, na mesa posta, no riso que nasce sem aviso, no abraço que consola, no pão partido à mesa, na oração feita em silêncio, nos passos fiéis de cada dia.que o Senhor derrama Sua graça de maneira constante e formadora.

O extraordinário é raro — e, por ser raro, não pode ser o fundamento da nossa fé. Há pedidos profundos que fazemos e que não se cumprem como desejamos. Há portas que não se abrem, sonhos que não se concretizam, milagres pelos quais clamamos e que parecem tardar. Mas o não de Deus, ou o seu “ainda não”, nunca é descaso; é cuidado. Ele vê o que não vemos, conhece o que não compreendemos e conduz a nossa história com sabedoria perfeita. Confiar nisso é um exercício diário de fé e humildade. Faz parte de nossa maturidade cristã.
Neste tempo de Advento, voltamos o olhar para a manjedoura — símbolo maior da escolha divina pela simplicidade. O Deus eterno decidiu alcançar nosso coração não por meio de poder humano, mas pelo caminho da humildade. O Salvador não veio em palácios, mas em um estábulo; não nasceu cercado de poder terreno, mas de humildade; não iniciou Sua obra com espetáculos, mas com serviço.
Paulo descreve essa descida voluntária em Filipenses 2.5-11: Cristo, sendo Deus, esvaziou-se, tomando forma humana e servindo até o limite da obediência — a morte, e morte de cruz. E por causa dessa obediência, Deus O exaltou soberanamente, concedendo-Lhe o Nome que está acima de todo nome.
A cruz, porém, não foi o fim. Ela foi o arco que abriu o horizonte da ressurreição. Do túmulo vazio brotou a certeza de que a simplicidade da obediência conduz à glória da vida eterna. E é por isso que, mesmo vivendo hoje na tensão entre o já e o ainda não do Reino, aguardamos com esperança o dia em que Cristo voltará para os Seus, em glória, no tempo determinado pelo Pai.
E então, aquilo que hoje chamamos de extraordinário — o consolo perfeito, a alegria sem mistura, a justiça plena, a presença visível e incontestável do Rei — será nossa nova normalidade. O extraordinário se tornará ordinário, porque viveremos para sempre diante d’Aquele que é a própria fonte de toda maravilha.
Enquanto esse dia não chega, seguimos aprendendo com a manjedoura a encontrar Deus no simples, na vida real, nos passos discretos da fidelidade cotidiana, contentamento em Deus mesmo quando o extraordinário parece distante.
A manjedoura e a cruz nos lembram que o Reino de Deus se move na contramão do brilho passageiro deste mundo.
E você — tem percebido onde Deus está moldando seu coração para reconhecer a graça do cotidiano enquanto espera, com esperança, a glória que virá?
E-mail: chrisvinholo@gmail.com
Instagram: @chrisvinholo














Comentários