A Alma do Negócio!
- Kaio Feroldi Motta

- há 3 dias
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Por: Kaio Feroldi Motta.
Administrador; Especialista em Gestão Hospitalar; Mestre Organizações & Empreendedorismo.
Em um mundo de incertezas geopolíticas, volatilidade econômica e rápida transformação digital – tudo isso atrelado ao cenário econômico-financeiro do nosso país – a questão que paira sobre a cabeça dos empresários não é se a atual (ou uma futura) crise vai atingir o seu negócio, mas sim ‘quando’ e ‘como’ a empresa estará preparada para enfrentá-la (e aqui me refiro a todo tipo de empresário; desde o dono de grandes corporações até mesmo o proprietário da empresa pequenina, local). Para as Micro e Pequenas Empresas, principalmente, o impacto de uma crise – seja ela financeira, de imagem ou apenas operacional – pode corroer os alicerces da atividade, ameaçando a sobrevivência do negócio.
Em se tratando especificamente do Brasil, ser dono de um negócio é, no mínimo, desafiador. Desde flutuações no valor da moeda até questões operacionais e crises de imagem nas mídias sociais, a sobrevivência da empresa está intrinsecamente ligada à capacidade de antecipar e mitigar situações negativas. Para as Pequenas e Médias Empresas (PME’s)– que representam mais de 95% dos negócios no país – a ausência de um plano de contingência pode ser fatal. Logo, uma Gestão de Riscos estruturada, ancorada em ferramentas como a Matriz de Risco e o Compliance, por exemplo, emerge não como um luxo existente apenas em grandes corporações, mas como a principal linha de defesa contra a erosão do patrimônio e a destruição da reputação da empresa.

Dados da Serasa Experian e de órgãos como o SEBRAE, por exemplo, mostram que a falência de PME’s é frequentemente desencadeada por eventos previsíveis, como a má gestão do fluxo de caixa, ações trabalhistas e perda do market share em nichos específicos [market share = mede em porcentagem as vendas ou receitas de uma empresa, em relação ao total do mercado em que ela atua]. Uma pesquisa da consultoria KPMG sobre resiliência global indica que empresas com planos de negócios bem elaborados, estruturados e seguidos à risca são significativamente mais rápidas na recuperação financeira após um evento adverso. O custo de implementar um compliance básico é sempre inferior ao custo de uma multa ou processo por inobservância da legislação ou por irregularidades fiscais [compliance = conjunto de práticas e processos que uma empresa adota para garantir a conformidade com leis, regulamentos, padrões éticos e políticas internas, visando minimizar riscos, prevenir irregularidades e fortalecer a integridade e reputação do negócio].
A fim de auxiliar nesse processo, é que se usa a chamada ‘Matriz de Risco’ [ferramenta de gerenciamento que ajuda a identificar, avaliar e priorizar riscos com base na probabilidade de ocorrência e no impacto que eles podem causar]. Por exemplo, uma indústria de alimentos pode classificar a falha no controle de qualidade como risco de ‘probabilidade quase certa’ e ‘impacto catastrófico’, forçando o investimento em auditorias internas e treinamento de pessoal. A metodologia simples de cruzar ‘o que pode acontecer’ com ‘o quanto isso vai doer’ transforma a ameaça em uma prioridade de ação e tratamento (não se acredita que tudo vai bem e se age quando o problema acontece; ao contrário, a crença é no fato de que, uma vez que algo pode dar errado, prevenir é mais viável – e barato – do que remediar).

Exemplo de Matriz de Risco.
Muitas crises de imagem ou operacionais começam, na verdade, como crises financeiras. A volatilidade da taxa Selic e a oscilação cambial impactam diretamente o custo de produção, o capital de giro e a taxa de inadimplência. O Instituto Brasileiro de Economia da FGV (IBRE) frequentemente destaca a dificuldade do acesso a crédito por PME’s; neste contexto, a Gestão de Riscos implica na constante projeção de cenários (otimista, realista e pessimista), utilizando o fluxo de caixa como ferramenta de vigilância e estabelecendo políticas de cobrança rígidas para evitar a dependência de empréstimos bancários.
Outro risco – cada vez mais certo de acontecer em sua empresa, infelizmente – é o ciberataque. De acordo com o Relatório de Cibersegurança da Fortinet, o Brasil continua entre os países mais atingidos da América Latina por ataques de ransomware e phishing. Para as PME’s, um ataque que paralisa sistemas ou vaza dados de clientes pode causar um dano duplo: prejuízo operacional imediato e multas onerosas sob a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Neste caso, um compliance digital exige investimentos acessíveis, como firewalls atualizados, soluções de backup automatizado em nuvem e a constante sensibilização (e atenção) dos funcionários contra golpes virtuais.
Ferramentas como a Matriz de Risco (ou até mesmo o Compliance) devem ser vistas como um código de boas práticas, e não como um fardo, ou uma burocracia desnecessária. A criação de um Código de Conduta claro e o estabelecimento de um Canal de Ética (mesmo que seja um contato de e-mail ou um formulário simples) são passos fundamentais para que garantir que a reputação (e o patrimônio) da empresa não escoem pelo ralo. A compliance evita o risco de fraude interna, que, em PME’s, costuma ser significativo por ocorrer em um ambiente de alta confiança. Ao mapear riscos, a empresa mitiga tais ocorrências e demonstra integridade a bancos e investidores, facilitando futuras negociações e o crescimento sólido da organização.
Diante das incertezas do mercado, uma boa Gestão de Riscos e Crises deixa de ser uma opção e se torna um imperativo estratégico para a Pequenas e Médias Empresas. A adoção da Matriz de Risco e de práticas de compliance, ainda que simplificadas, é o verdadeiro remédio para evitar o caos. Ao investir em planejamento de maneira preventiva, as empresas não apenas se protegem contra perdas financeiras e de imagem/reputação, mas também constroem resiliência, que as posiciona de forma mais segura para navegar pelas complexidades do cenário econômico atual, garantindo longevidade e prosperidade no longo prazo.













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