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Rolagem infinita: como as redes sociais estão mudando a forma como as pessoas recebem o evangelho

Você já deve ter percebido: basta abrir qualquer rede social e seu dedo automaticamente começa a rolar a tela. Uma postagem interessante, um vídeo rápido, uma frase de efeito, em questão de segundos, você já está no próximo conteúdo. Esse fenômeno tem nome: rolagem infinita (ou scroll infinito). Projetado para manter você preso por mais tempo na plataforma, o recurso entrega pequenas doses de recompensa ao cérebro, gerando uma sensação de prazer imediato.

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No entanto, essa praticidade tecnológica traz consigo uma consequência preocupante. A constante busca por algo novo e instantâneo está transformando nossa capacidade de focar e refletir profundamente. Se a atenção está sendo fragmentada, a capacidade de absorver conteúdos mais complexos, como mensagens espirituais que exigem introspecção e reflexão, também está sendo seriamente afetada.


A cultura da rolagem infinita está mudando a maneira como as pessoas recebem e interagem com o Evangelho e é preciso compreender o problema, mas também discutir maneiras eficazes de capturar e sustentar a atenção, comunicando a mensagem eterna do Evangelho de forma clara e relevante no contexto digital atual.


Isso faz parte da missão de cada cristão!


Nosso cérebro é incrivelmente adaptável—o que significa que ele se ajusta rapidamente às rotinas que estabelecemos em nosso dia a dia. No contexto das redes sociais, isso tem um efeito impressionante: quanto mais consumimos conteúdos breves e superficiais, mais nosso cérebro é treinado a preferir esse formato de informação. Cada curtida, comentário ou vídeo curto gera uma liberação rápida de dopamina, o neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e recompensa imediata. E é justamente essa recompensa instantânea que nos leva a buscar continuamente conteúdos novos, curtos e que não exigem reflexão profunda.


Especialistas têm alertado sobre as consequências dessa realidade digital. De acordo com estudos recentes, incluindo pesquisas conduzidas pela neurocientista Susan Greenfield, o uso intenso das mídias sociais está associado a uma diminuição clara na capacidade de concentração prolongada e na retenção de informações complexas (Greenfield, 2015). Pesquisadores como Nicholas Carr, autor do livro A Geração Superficial, apontam que essa exposição constante à gratificação rápida está literalmente reprogramando nosso cérebro, reduzindo drasticamente nossa habilidade natural para a concentração profunda (Carr, 2011).


O resultado disso é preocupante: estamos perdendo gradualmente a capacidade de nos engajar em pensamentos profundos e reflexivos. Em outras palavras, quanto mais mergulhados estamos na dinâmica da rolagem infinita, mais superficial e fragmentada se torna nossa atenção, afetando diretamente como recebemos mensagens essenciais, como o Evangelho.


Essa transformação neurológica, causada pela atenção fragmentada, afeta diretamente a maneira como as pessoas estão receptivas à espiritualidade e às mensagens profundas do Evangelho. Tradicionalmente, o Evangelho exige uma disposição interna para reflexão, silêncio, contemplação e uma pausa para compreender verdades profundas sobre Deus, a vida e nós mesmos. No entanto, esses momentos de introspecção parecem cada vez mais raros em um cenário dominado pela rapidez da comunicação digital.


Quando nosso cérebro está condicionado a consumir informações breves e superficiais, tendemos a sentir desconforto ou impaciência diante de mensagens mais densas, longas ou complexas. Essa impaciência não só limita a compreensão do Evangelho, mas também pode levar ao total desinteresse ou mesmo à rejeição antecipada da mensagem espiritual.


Por exemplo, imagine uma pessoa navegando rapidamente pelo feed de sua rede social. Ela encontra um vídeo cujo título sugere uma reflexão espiritual importante.


Ao clicar, percebe que a mensagem começa lentamente, exigindo uma concentração que ela não está disposta a oferecer naquele momento. Em poucos segundos, ela já passou para o próximo conteúdo, talvez algo mais simples e visualmente atraente, como um meme ou um vídeo curto e engraçado. Em outro cenário, um texto sobre perdão, graça ou salvação pode ser rapidamente fechado porque, na dinâmica do scroll infinito, não oferece uma recompensa imediata. A consequência é que conteúdos espirituais essenciais são ignorados ou, na melhor das hipóteses, assimilados superficialmente e, portanto, mal interpretados.


Diante dessa realidade, o grande desafio para quem comunica o Evangelho é entender profundamente essas mudanças comportamentais e adaptar estratégias para que mensagens espirituais profundas possam ultrapassar a barreira inicial da atenção fragmentada.


Neste cenário desafiador da atenção fragmentada, evangelizadores, pastores, líderes e criadores de conteúdo cristão precisam reconsiderar suas abordagens.

Adaptar não significa diluir ou simplificar o Evangelho, mas sim aprender a falar uma linguagem clara, direta e atrativa para a realidade atual.


Compreender a mudança comportamental provocada pela cultura da rolagem infinita é um ato de responsabilidade espiritual. Não podemos simplesmente ignorar que o ambiente digital está moldando a forma como as pessoas pensam, reagem e se relacionam com tudo ao seu redor, inclusive com o Evangelho.

Aceitar essa realidade não significa diluir ou comprometer a mensagem bíblica, mas sim aprender a comunicá-la com mais clareza, relevância e impacto para esta geração.


O Evangelho permanece o mesmo, eterno e imutável. O que precisa mudar é a nossa abordagem, nossa sensibilidade e nossas ferramentas para levar essa mensagem às pessoas. É fundamental sermos criativos e intencionais, pensando estrategicamente sobre cada conteúdo compartilhado. Nosso objetivo é ultrapassar a barreira da atenção fragmentada, indo além das curtidas superficiais e oferecendo oportunidades reais para reflexões profundas, autênticas e transformadoras.


Ao criar ou compartilhar conteúdos evangelísticos online, pergunte-se sempre:


"Estou comunicando o Evangelho de forma relevante, profunda e adaptada à realidade digital? Estou capturando a atenção e levando as pessoas a uma reflexão genuína?" Se adotarmos essa postura estratégica, certamente veremos não apenas curtidas e compartilhamentos, mas vidas tocadas, transformadas e profundamente conectadas à verdade eterna do Evangelho, mesmo na era das redes sociais.


Prof. Gedeon Lidório

Teologia, Antropologia, Filosofia e Psicanálise

 

Instagram: @gedeonlidorio

Carr, N. (2011). The Shallows: What the Internet is Doing to Our Brains. W. W. Norton & Company.

 

Greenfield, S. (2015). Mind Change: How Digital Technologies Are Leaving Their Mark on Our Brains. Random House.

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