Por que os adolescentes de hoje sentem vergonha dos pais?
- Gedeon Lidório
- 23 de jun.
- 2 min de leitura
Parte 3
O adolescente que se envergonha dos pais não está, em geral, apenas lidando com conflitos internos — ele está cercado por uma cultura que alimenta e reforça essa vergonha. Na era digital, a pressão pelo pertencimento é feroz. Likes, seguidores, comentários e padrões impostos por influenciadores funcionam como pequenos tribunais cotidianos que julgam aparência, linguagem, comportamento e até vínculos familiares.

A vergonha dos pais pode surgir de forma espontânea, mas muitas vezes é imposta pelos colegas. Quando um adolescente é zombado por ter pais considerados “simples”, “religiosos”, “velhos demais”, “fora de moda” ou “pobres”, ele começa a associar a imagem dos pais com um risco social. O medo da exclusão e do rótulo leva ao afastamento afetivo, mesmo que internamente ele ame os pais.
É o que a antropologia social chama de “controle por ridicularização”: o grupo define o que é aceitável e envergonha quem se desvia. É o “bullying reverso”: o adolescente que honra os pais, que anda com a mãe ou chama o pai de “meu herói”, pode ser ridicularizado pelos colegas por demonstrar afeto e respeito que são valores vistos como “fraqueza” na lógica do mundo.
“Não se conformem com este mundo, mas sejam transformados pela renovação da sua mente” - (Romanos 12:2a, NVT)
Este versículo é mais atual do que nunca. O mundo moderno ensina adolescentes a se envergonharem de tudo que não se encaixa no ideal de sucesso e liberdade absoluta. Mas o Evangelho nos convida a uma mentalidade transformada, que valoriza o que é eterno e honra o que tem valor aos olhos de Deus.
Outro fator que contribui para a vergonha dos pais é a desconexão emocional. Muitos pais, sobrecarregados, cansados, feridos ou despreparados, param de se comunicar com os filhos em linguagem afetiva. Quando o adolescente não encontra um espaço de escuta, validação e confiança dentro de casa, ele procura fora. E ao encontrar afeto condicionado nos pares, começa a ver os pais como "entraves", "juízes" ou "figuras ultrapassadas".
Há pais que confundem autoridade com controle, que usam a Bíblia como ferramenta de censura, mas não de diálogo, ou que se omitem totalmente com medo de conflitos. Essa ausência emocional contribui para o abismo.
“Pais, não irritem seus filhos, para que eles não se desanimem.” - (Colossenses 3:21, NVT)
A autoridade dos pais deve ser exercida com sabedoria, não com humilhação. O excesso de crítica, a ausência de reconhecimento e a falta de presença geram filhos desanimados, que buscam em outros lugares o que lhes faltou em casa.
Paradoxalmente, vivemos uma geração que tem acesso a todo tipo de informação, mas carece de afeto autêntico. A “vergonha dos pais” é também um grito por relevância, por pertencimento, por alguém que entenda a luta interna de quem está tentando se definir em meio a vozes contraditórias.
A função dos pais e líderes cristãos não é apenas repreender ou lamentar a distância, mas reconstruir pontes com amor, escuta ativa e verdade. A vergonha não se vence com imposição, mas com presença. Não se cura com punição, mas com paciência.
Prof. Gedeon Lidório
Teologia, Antropologia, Filosofia e Psicanálise
Instagram: @gedeonlidorio
E-mail: gedeon@lidorio.com.br
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