O Reino de Deus: Portas Abertas, Não Muros
- Christina Faggion Vinholo

- 20 de fev.
- 2 min de leitura
Por Christina Faggion Vinholo, teóloga, especialista em AT e NT.
Nos últimos dias, vi circular nas redes sociais a afirmação de que “o céu tem muros e rígidas regras de imigração; quem tem política de portas abertas é o inferno”, frase atribuída ao atual presidente dos EUA, Donald Trump. Muitos cristãos têm apoiado essa perspectiva, como se estivesse alinhada com os princípios do Reino de Deus. No entanto, pergunto-me: que Bíblia estão lendo? Que Evangelho estão pregando?

É inegável que Trump foi eleito por seu discurso conservador e sua postura firme diante de questões políticas e sociais. Muitos americanos, cansados do liberalismo, veem nele um líder que protege os valores tradicionais. No entanto, a forma como ele exerce esse poder levanta uma questão importante: seu governo e suas palavras refletem os valores do Reino de Deus? Se ele representa alguns cristãos, eu posso afirmar com clareza que ele não me representa como cristã.
O Reino de Deus não é um império terreno baseado em muros, regras de imigração rígidas e políticas de exclusão. Pelo contrário, a entrada no Reino não é baseada em nacionalidade, status social ou mérito próprio, mas na graça de Deus. Efésios 2:8-9 nos lembra: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie.”
Cristo não veio estabelecer barreiras, mas derrubá-las. Ele acolheu os rejeitados, tocou os impuros, comeu com pecadores e proclamou boas-novas aos pobres. O próprio apóstolo Paulo afirma: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus” (Efésios 2:19). O Reino de Deus é um reino de acolhimento, não de exclusão.
É verdade que a Bíblia fala sobre justiça e ordem. No entanto, essa justiça divina não é fria, arbitrária ou baseada em nacionalidades. A justiça de Deus anda de mãos dadas com a misericórdia. O profeta Miquéias resume isso bem: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, ames a misericórdia e andes humildemente com o teu Deus?” (Miquéias 6:8).
Quando líderes políticos promovem políticas de opressão, xenofobia e desprezo pelos necessitados, e fazem isso usando linguagem cristã, é nosso dever discernir e não nos deixar enganar. O Reino de Deus não se fundamenta no poder humano, mas no amor transformador de Cristo.
Se há um lugar que tem “política de portas abertas”, é o Reino de Deus. Jesus mesmo declarou: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). Seu convite é universal, gratuito e fundamentado na graça.
Portanto, não podemos permitir que uma visão política rígida e excludente seja confundida com a mensagem do Evangelho. Como cristãos, devemos defender a justiça, sim, mas sempre com compaixão. Devemos ser prudentes, mas nunca frios. Devemos buscar a verdade, mas sem nos esquecer do amor.
Que jamais nos esqueçamos de que, um dia, éramos estrangeiros no Reino de Deus, mas fomos acolhidos pela graça de Cristo. E essa mesma graça nos chama a estender as mãos aos que ainda estão do lado de fora, não a levantar muros para impedi-los de entrar.
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