O dilema de Sofia no colo de Bolsonaro.
- Walber Guimarães Junior
- 12 de jun.
- 4 min de leitura
Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.
Não foi exatamente um “date”, embora as preliminares tenham sido muito intensas, gerando uma grande expectativa para o F2F (o famoso face to face) que, todavia, não foi nem um lance romântico, muito menos um duelo à moda antiga, ainda assim o cara a cara Alexandre de Moraes x Jair Bolsonaro foi o fato mais relevante da semana.

As condições eram desiguais porque um deles, Moraes, detinha em suas mãos um malhete, símbolo de sua autoridade e demarcando bem a condição indesejada de Bolsonaro, presente na condição de réu em um processo que não lhe desenha expectativas agradáveis. Nada explicitou mais esta condição que o ousado convite de Jair para uma parceria, rejeitada de pronto por Alexandre, talvez ainda ressentido pela citação pouco lisonjeira na operação punhal verde amarelo. Se ainda fosse um cupido com as cores da Pátria ....
É evidente que Jair Bolsonaro estava desconfortável, sob a ameaça de uma implacável guilhotina que se ergue logo acima de seu pescoço que, ainda que não lhe ameace a sobrevivência, atenta contra sua vida política, sujeita ao término pela sentença do STF, ainda que o histórico do atual presidente aponte para possíveis mudanças de cenário, sob a inspiração das urnas de 26.
Um verdadeiro dilema de Sofia constrangia Bolsonaro, com uma faca de dois gumes ameaçando sua posição. A credibilidade política de um lado e a sobrevivência jurídica como alternativas quase irreconciliáveis, com um espaço mínimo para que se locomovesse, sem comprometer sua segurança pessoal ou sua carreira política. Espremido pelas opções conflitantes de agradar seus advogados ou seu grupo político, Bolsonaro fez o que lhe foi possível.
Sob olhares atentos, com leituras conflitantes, Bolsonaro cometeu erros e acertos, de acordo com os interesses de quem o julga, simplesmente porque não havia um ponto ótimo, um caminho inquestionável a ser seguido e, nesta tensa corda bamba, as opiniões se dividem entre os que esperavam um comportamento vitimista, que constrangesse os ministros, a aqueles que apostavam em Bolsonaro ao natural, altivo, no limite da arrogância, talvez até peitando Alexandre em alguns pontos, algo impensável pela avaliação de seus advogados.
Com momentos relevantes, Jair tentou tirar de seu colo a acusação de incendiário ao pregar contra as urnas, colocando ao seu lado Flavio Dino e Carlos Luppi, esquerdistas que, em algum momento, também se indignaram com as urnas eletrônicas, conseguindo aliviar o ranço radical da postura de condenação das urnas e tomando o cuidado de limitar as críticas às urnas e não ao resultado eleitoral, foi firme na defesa do voto impresso, tirando o foco da fraude eleitoral com boa estratégia. Apresentou também um bom conjunto de argumentos atenuando sua má vontade com a nova gestão, inclusive com a citação de evitar uma vaia histórica caso estivesse na transferência de cargo. Pode até ser um argumento cômico, mas inquestionável.
Jair Bolsonaro também fez gols contra em seu depoimento, alguns que podem deixar sequelas em seu grupo porque serão intensamente explorados nas redes sociais. Declarou, com extrema descortesia aos seus seguidores, que só idiotas permaneceram em frente aos quartéis, além de admitir algumas situações que podem complicar ainda mais sua defesa, como confirmar que leu e mostrou aos comandantes as pretensas minutas do golpe, precedente gravíssimo mesmo quando sublinhou que buscava saídas dentro das quatro linhas para “entubar o resultado das eleições”.
Resumindo, não estava presente o atrevido Bolsonaro que chamou o ministro Alexandre de canalha em palanque público nem o Jair que, intermediado por Temer, pediu humilhantes desculpas ao ministro alguns dias depois, logo persiste a dualidade que desperta amor e ódio entre os brasileiros.
Ambas as leituras, pontos positivos e negativos, poderiam se estender, mas, neste caso apenas registro uma opinião pessoal, assim como observadores isentos, Bolsonaro também parece ter total convicção de sua condenação e trabalha muito mais para administrar seu espólio que lhe preserve forças para definir seu herdeiro político em 2026, impondo o nome ou, mais provável, indicando o vice e o expresso compromisso de anistia logo no início de 2027, com a eventual vitória da direita nas urnas.
Seguramente fora das urnas de 2026, ciente que a fuga ou exílio vira epílogo da sua história, além da expectativa de um martírio curto, até o início de 2027, com vitória da esquerda, ou pelas benesses legais do cargo e da idade, Bolsonaro parece estar mais sereno e preparado para uma condenação que o STF dá indícios de tentar finalizar ainda este ano, um açodamento que pode indicar zelo pelo processo eleitoral seguinte, mas cuja leitura nas ruas potencializa a construção de uma narrativa de perseguição política que funcionou extremamente bem com Lula, cujos processos eram bem mais contundentes aos olhos do cidadão comum.
Com os adversários enxergando apenas um desejado abate, Bolsonaro e seu grupo preferem enxergar uma fênix que cobrirá seu futuro ninho com incenso e, com paciência, aguardará os raios de sol que permitiram uma nova ave fortalecida.
O enredo correto para o fim desta história será construído por milhões de eleitores nas urnas em 2026.
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