O Brasil está chato!
- Walber Guimarães

- 17 de jan.
- 4 min de leitura
Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.
Ainda que os mais velhos nos ensinem que política e religião são devem ser temas de debates, milhares de varandas, nas versões românticas, ou mesas de boteco sempre foram palcos de memoráveis plenárias sob todo e qualquer tema, onde nem sempre se muda de opinião, mas, ainda que sob a imposição de vozes elevadas, a educação e o respeito se somavam para permitir trocas de opiniões diversas que, mesmo sem alterá-las de imediato, permitiam uma democrática convergência, ainda que parcial. Velhos tempos, anteriores aos exércitos truculentos amarelos e vermelhos.

Atualmente, qualquer pós-graduado em redes sociais ou mestres do whats up se sente autorizado, de posse de “informações privilegiadas”, de lacrar em qualquer assunto, impondo leituras definitivas e sempre celebrando lugares comuns que condenam os adversários ideológicos ao inferno, como se não houvesse inteligência no espectro oposto.
Resumindo é justo dizer que o Brasil está chato. Não há espaço para a controvérsia, exceto se você estiver disposto a ser carimbado com selo definitivo de inimigo público do consenso.
É justo registrar que esta situação decorre de um processo lento que se acelerou em 2022, por conta da polarização obtusa que dividiu o país em dois grupos, metade composta de cidadãos inteligentes e a outra de imbecis, sempre classificados sob a ótica do mensageiro. Se você não quer receber o crachá ideológico, nem ouse iniciar uma discussão sobre os temas da hora porque, com toda certeza, uma centena de fakes já definiram o certo e o errado, sem espaço para divergências.
Inúmeros articulistas já escreveram sobre o tema, inclusive com minha assinatura neste espaço, explicando didaticamente que há uma estratégia inteligente e bem elaborada em uma guerra silenciosa pela mente das pessoas. Pautas são milimetricamente definidas, em paralelo aos objetivos principais ou em adaptação da pauta política cotidiana.
Nada é gratuito, sendo bem projetados para cumprir objetivos de curto, médio e longo prazo, todas convergindo para a meta primordial, conquistar mentes e ampliar o exército de convertidos, dispostos a brigar com irmãos, pisar no pescoço da mãe, se necessário, mas jamais recuar aos oponentes para impedir que as chamas do inferno invadam nossas casas, chamuscadas pelas opiniões contrárias.
Claro, sempre plenamente convencidos que são os oponentes, apenas eles, as vítimas do processo de lavagem cerebral que elimina os neurônios do bom senso e os substitui por similares especialistas em arrogância e radicalismo.
A questão vai muito além do processo eleitoral seguinte, é importante perceber que os tempos modernos, a era digital, deslocou a luta pelo poder dos eixos tradicionais. Em postagem anterior, expliquei que a supremacia dos povos se impôs em função do domínio de armas ou tecnologia, em uma cronologia que se iniciou com instrumentos de pedra medievais, domínio do metal, da pólvora, das armas modernas até os arsenais nucleares, tão poderosos que disseminam medo, mas não são efetivas pelo poder de destruição globalizado, talvez por isso, o domínio do fluxo de informações passou a ser primordial na luta pelo poder.
O mundo percebe a consolidação de um novo parâmetro; as big techs, poderosas empresas de comunicação se sobrepõe aos governos por sua capacidade de impor opiniões e permitir, inaugurando uma nova era para a humanidade, onde estes grupos precisam ter sintonia com as diretrizes e a ideologia dos governantes, sob pena de impor, via algoritmos, suas leituras à maioria dos cidadãos comuns, desprovidos de capacidade de proceder leituras mais isentas porque são contaminados por milhares de fakes, de mesmo sinal ideológico, que se transformam em verdades universais.
Julgo ser imprescindível que o cidadão comum entenda o que ocorre ao seu redor e, sem necessariamente mudar de opinião ou ideologia, se permitir a avaliação de opiniões contrárias, inclusive como, eventualmente, parte do processo de consolidação de suas leituras sob os diferentes fatos que os impactam diariamente.
Não é justo que se terceirize o direito de realizar leituras isentas, permitindo que as redes de fakes, sustentadas pelos algoritmos das redes sociais, continuem impondo um padrão universal de interpretação dos fatos, contaminadas pela postura de seus comandantes.
Elon Musk e Mark Zuckerberg não podem ser os novos “grandes irmãos”, se posicionando acima das nações, pela capacidade de conduzir massas de dominados, com mentes treinadas para repetirem incessantemente as versões que se mostrem coerentes com a ideologia ou os acordos das big techs com os governos.
Todos têm o direito de lutar por suas convicções, mas é importante que percebam como são manipulados com facilidade, em espaço de tempo cada vez menor, acreditando em versões, tal qual uma criança esperando papai Noel ou o coelhinho da Páscoa. Acho muito cruel assistir gente com excelente nível cultural aceitar passivamente serem conduzidos por mentiras em cadeia.
A medíocre história do pix taxado foi apenas a última comédia que produziu estragos no debate nacional e, sem entrar no mérito, não me parece razoável que as pessoas sejam conduzidas com tanta facilidade, como gado conduzido ao abate, com a ressalva de que a estratégia nunca foi exclusividade de uma ponta da régua ideológica.
Os exemplos históricos mostram que estas aventuras nem sempre tem final feliz.













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