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Como encontrar Deus em todas as coisas da vida diária

Por Gedeon Lidório


Muitos de nós associamos a presença de Deus a momentos específicos: o culto de domingo, a oração da manhã, a leitura bíblica em silêncio. Embora esses instantes sejam preciosos, a Escritura chama a algo ainda maior: enxergar Deus no fluxo comum da vida. O apóstolo Paulo resume isso com clareza: “Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10:31).


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Essa frase simples abre uma visão profunda: não existe separação entre o que é espiritual e o que é cotidiano. Comer, trabalhar, estudar, descansar, conversar, usar o celular ou mesmo navegar pelas redes sociais podem se tornar oportunidades de glorificar ao Senhor. O desafio está em aprender a viver com essa consciência.


Encontrar Deus em todas as coisas não significa espiritualizar artificialmente cada detalhe, mas cultivar um coração atento, que reconhece a presença do Criador no ordinário – ou encontrá-lo apesar do momento ordinário. É a redescoberta de que a vida inteira é espaço de culto, seja no silêncio de um quarto de oração, seja no barulho de uma reunião de trabalho, seja no brilho frio de uma tela de celular.


Cultuar é muito mais do que praticar atos religiosos ou estar presente em atividades sagradas – o culto a Deus deve ser o nosso movimento respiratório, onde cada coisa que fazemos, mesmo que inconscientemente, glorifiquem a Deus e não lhe tragam tristeza, mas alegria por nos ver como filhos e filhas.


Em Romanos 12:1-2, Paulo nos chama a apresentar nossos corpos como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, o que ele chama de “culto racional”. A ideia é clara: o culto não se limita ao templo, mas se expande para a vida inteira. Tudo o que fazemos pode ser um ato de adoração.


Isso quebra a falsa divisão entre “sagrado” e “profano”. O trabalho não é menos espiritual do que a oração, se feito para a glória de Deus. Preparar uma refeição, pagar contas, estudar ou até organizar uma planilha podem se tornar parte de um culto contínuo, quando oferecidos com consciência diante do Senhor e digo sempre que, mesmo inconscientemente (talvez aí resida a nossa maior forma de “sermos de Deus”!) precisamos resplandecer como luzeiros e isso é ser espiritual na vida e não apenas no templo.


Jesus foi mestre em mostrar o divino no simples. Ele falava de sementes, moedas, aves do céu, flores do campo, fermento e pescadores. Ao usar imagens tão comuns, Ele lembrava que o Pai está presente nos detalhes mais discretos da vida (Mt 6:26-29).


Isso significa que encontrar Deus não é fugir do mundo para um espaço “puro” e separado, mas abrir os olhos para perceber Sua presença no mundo criado. O problema nunca foi a vida comum em si, mas nossa distração diante dela e quando falamos em distração, logo já entra em cena o digital.


Grande parte do nosso cotidiano acontece diante de telas. O celular vibra a cada minuto, as redes sociais disputam nossa atenção, o trabalho muitas vezes acontece em reuniões virtuais. Se não aprendermos a reconhecer Deus também nesse ambiente, viveremos uma fé fragmentada (falo disso em um livro que escrevi recentemente: 5 mudanças mentais que você precisa conhecer para evangelizar a geração digital).


No celular, cada mensagem enviada pode expressar cuidado ou agressividade. Paulo nos orienta: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação” (Ef 4:29).


Nossa presença digital pode ser palco de vaidade, comparações e falsidade, mas também pode ser espaço de luz: “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:16), assim como, no consumo de conteúdo, somos desafiados a cultivar discernimento. Paulo sugere um filtro: pensar no que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável e de boa fama (Fp 4:8).


No tempo de tela, é preciso aprender a parar, porque nem tudo pode ser acelerado. Deus nos lembra: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46:10).


A espiritualidade cristã não exclui a tecnologia, mas a redime. O problema não é a tela, mas o coração que a usa.


Diante da vida, é preciso agradecer pelas pequenas coisas, desde o pão de cada dia até a tecnologia que nos permite estudar, trabalhar e nos comunicar. Isso é espiritualidade sadia.


Precisamos desenvolver o hábito de lembrar que estamos diante de Deus em qualquer lugar, inclusive ao abrir um aplicativo. O salmista dizia: “Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim” (Sl 16:8).


Um dos grandes problemas da nossa vida moderna é que vivemos correndo, acumulando tarefas, consumindo informações sem parar e achamos que isso é ser eficiente, ser antenado, ser alguém que sabe o que faz e que dá certo, tem sucesso. Muitas vezes não percebemos, mas, transformamos o trabalho, o dinheiro ou até a própria tecnologia em ídolos. O autor de Eclesiastes já denunciava a vaidade de uma vida sem direção (Ecl 1). Jesus também nos alertou: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6:24).


Encontrar Deus em todas as coisas não é viver fora do mundo, mas viver no mundo com os olhos abertos para a Sua presença. É transformar a rotina em altar: o trabalho em adoração, as conversas em bênção, a tecnologia em instrumento de serviço.


Paulo encerra o assunto com simplicidade: “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de coração, como ao Senhor e não aos homens” (Cl 3:23). Essa é a chave. A vida cristã é uma vida inteira diante de Deus, seja no templo ou na cozinha, no escritório ou na rede social, no silêncio ou no barulho.


Deus pode ser encontrado em tudo. A questão é: temos olhos para vê-Lo?

 

Prof. Gedeon Lidório

Teologia, Antropologia, Filosofia e Psicanálise

 

Instagram: @gedeonlidorio

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