Com vergonha alheia dos nossos poderes, quero fugir para Passárgada.
- Walber Guimarães Junior

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Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.
Acredito que me associo ao sentimento de milhões de brasileiros ao afirmar que estou com vergonha alheia dos nossos poderes. Executivo, Legislativo e Judiciário parecem que se uniram para testar a paciência do brasileiro comum, aquela raça desprotegida que paga impostos para sustentar a nação e a mordomia dos três poderes. Realmente, está difícil ser brasileiro em 2025.

Começando pelo Executivo que recebeu licença americana para fugir das pautas preocupantes e viaja pelo mundo falando pelos cotovelos, aparentemente sem preocupação com nossas demandas. Talvez, Lula até tenha razão em não querer negociar com outros países em dólar, mas por que só ele persiste chutando a canela do polaco gigante de topete laranja?
Também não concordo com ninguém invadindo o quintal do vizinho, mas se não condeno a agressão russa à Ucrânia, qual a coerência em defender a Venezuela de hipotético ataque americano? Diplomacia realmente não é para amadores, mas ainda assim consegui aprender a mais importante das lições; país não tem amigos, tem parceiros comerciais. Por favor, alguém pode avisar isto ao Lula?
Todavia, a maior provocação da semana foi a declaração infame que “traficante é vítima do usuário”, na linha do bandido vítima da sociedade. Ainda que, com excesso de zelo, se busque uma ínfima relação entre esses conjuntos, Lula afronta o senso comum da sociedade ao se apresentar como advogado da delinquência.
Fico muito feliz com um presidente que tem preocupações sociais, indispensáveis em um dos países mais injustos do mundo, mas o limite das benesses precisa ser o bolso do cidadão comum que não tolera mais novos impostos ou taxas. Muito legal que este governo tenha concedido aumento real do salário mínimo e corrigido o piso de isenção de imposto de renda, algo que Bolsonaro não teve coragem de fazer porque sua preocupação central era o andar de cima, todavia Lula precisa buscar estas receitas no bolso dos ricos, como tenta fazer para desespero da elite nacional, mas também com redução dos gastos públicos, não apenas por responsabilidade mas por pragmatismo tributário, porque basta abrir os olhos para perceber o teto da paciência do brasileiro roçando as taxas de comprometimento de seus rendimentos com recolhimento de impostos.
Fico até preocupado em falar do Legislativo para não externar a minha decepção com a atual gestão e suas peripécias. Ainda que registre momentos positivos, o casuísmo da anistia focado apenas no ex-presidente se soma a intensa defesa dos interesses pessoais, externados com descaramento na PEC da Blindagem, um dos maiores desaforos que o legislativo tentou fazer contra o cidadão comum, quase permitindo que o tempo transformasse o plenário em extensão das punições penais rasas, porque bandido travestido de excelência jamais seria condenado.
Sorte do Congresso que a maioria da nação não saiba que um deputado provoca gastos diretos de mais de duzentos e cinquenta mil reais mensais e que um deles, o irresponsável Eduardo Bolsonaro, trama contra seu país que remunera seu ócio e financia sua saga de vingança contra aqueles que defenderam a democracia brasileira. Muitas vezes é preciso desprendimento para não usar meias palavras; a Câmara se recusa a impedir que os impostos do cidadão brasileiro sejam consumidos por um deputado que não trabalha. Como devo me referir a isto; cumplicidade, irresponsabilidade ou assalto consentido?
Para não subir o tom, deixemos as famigeradas emendas secretas de lado para não usar vocabulário impróprio.
Por fim, o judiciário que, a despeito da respeitável defesa da nossa soberania, resolver mudar seu status para instituição política, para revolta do cidadão comum que assiste aos interesses dos políticos acima das razões legais. Assim como os demais poderes, se recusa a fazer a lição de casa e exigir que seus membros cumpram a Constituição e recebam abaixo do teto legal. Por gentileza, na falta de outro fórum, alguém assina comigo uma petição para o Papa?
Preciso esticar o fim anunciado no parágrafo anterior para registrar a minha mais profunda indignação contra a última pérola do judiciário. Legalizaram o nepotismo! Agora, amparado pela lei, chefes do executivo estão liberados para nomear parentes em ministérios ou secretarias, mas, prestem atenção nas limitações, apenas se os parentes forem “notoriamente competentes”, como se já houvesse nascido no Brasil um único parente de político que não seja um “Ronaldinho na administração”.
Tenho um caro amigo que, nesta semana, externou o desejo de ir para Passárgada, terra dos sonhos de Manoel Bandeira. Confesso que fiquei tentado, mas resta uma dúvida; quem comanda Passárgada?
Executivo, legislativo ou judiciário já chegaram por lá?













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