Por: Marcio Nolasco e Mike Madeira - BNews
Movimentos sociais, coletivos e entidades cumprem papel emergencial - a fome tem pressa!
A fome voltou com força nos lares brasileiros pós-pandemia, e por aqui em nossa Cianorte não foi e não é diferente, pessoas já enfrentavam sérias dificuldades nos últimos anos e foram atingidos em cheio pela crise social e econômica resultante da pandemia.
Em meio a essa alarmante realidade, as populações dos municípios são muitas vezes desassistidas pelos governo federal, estadual e municipal, ou assistidas de forma insuficiente. Muitos destes governantes públicos oferecem uma ajuda assistencial que não suporta a real necessidade de quem tem fome, a população que não tem comida na mesa.
Verbas são gastas em obras de "embelezamento" de cidades, em algumas praças por exemplo são gastos mais de 1.5 milhões de reais em revitalizações, outras chegam a quase 2.0 milhões, quando com apenas 300 mil reais uma entidade (como a CASA DA SOPA) teria condições por um período de 1 ano todo oferecer comida para quem tem necessidade, pessoas e crianças em situação de vulnerabilidade e mínimas condições de alimentação diária.
Veja o que diz a Constituição Federal:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Assim sendo e se fazendo cumprir a lei (Constituição), não é nenhum favor os governantes federais, estaduais e municipais prestarem serviço assistencial alimentar aos cidadãos de nossos municípios, é obrigação...
À sua própria sorte, famílias em vulnerabilidade social lutam para conseguir prover comida numa realidade de inflação dos preços dos alimentos, que dispararam nos últimos anos, principalmente durante a pandemia, ainda existe o problema do desemprego, em cidades mesmo estando no TOP das colocações de emprego no mercado de trabalho.
Não fosse pela solidariedade de movimentos sociais, instituições, organizações sindicais, coletivos, iniciativas comunitárias e empresas privadas, muitas delas como é o caso da CASA DA SOPA de Cianorte, que a quase 30 anos presta serviço assistencial de amparo e fornecimento de alimentação, a situação estaria ainda muito pior.
Nesta manhã de sexta feria (17/02/23) fomos visitar a CASA DA SOPA, ver e entender como funciona os serviços naquela entidade, nossa conclusão é clara, a entidade presta um lindo e maravilhoso serviço, além de muito humanitário, porém vive momentos de dificuldade, pois o número de assistidos diariamente pela Casa da Sopa vem crescendo muito nos últimos meses, reflexos de problemas sociais no nosso município, e assim deixam a população em situação de vulnerabilidade e insegurança alimentar.
A Casa da Sopa, que é comandada pelo casal Ester e Ailito, vive momentos difíceis, atualmente atende uma média de 50 a 60 pessoas dia e serve até 90 refeições dia (prato feito + algumas repetições), a entidade tem uma ajuda do poder público municipal de 22 refeições diárias e por um período agora de 6 meses (deixou de ser anual).
Foto: Senhora Ester e Senhor Ailito - Dirigentes da Casa da Sopa de Cianorte
A demanda de pessoas buscando alimentação na Casa da Sopa, vem tendo aumento crescente, isso faz com que seja necessário mais profissionais envolvidos nos trabalhos, que vão deste a preparação dos alimentos, atendimento, limpeza, segurança, administração e outras funções vitais ao bom funcionamento da entidade. Dessa forma é necessário um apoio mais eficaz do poder público que tem a obrigação por lei constitucional de dar assistência. Os custos operacionais da CASA DA SOPA - Anual, são na ordem de 300 mil reais para a sua manutenção e sobrevivência.
Foto: Dirigentes e equipe da cozinha, da esquerda para a direita, ao lado de Sr. Ailito, temos a Sra. Mara, que à 27 anos trabalha com prestação de serviços assistenciais.
"Nunca passamos em todos esses quase 30 anos de trabalho, um período onde tantas pessoas em Cianorte buscam alimentação diária, é triste sabermos que nossa sociedade tem fome" - comentou Mara que trabalha na Cozinha e servindo refeições todos os dias.
Ajuda da iniciativa Privada:
A Casa da Sopa, ainda esta ativa, graças à ajuda de empresários municipais do setor privado que fazem mensalmente algumas doações de alimentos, "Isso ainda nos ajuda a manter as portas abertas" - afirmou a Sra. Ester, presidente da instituição.
Imagens: Cozinha e Depósito de alimentos - Mike Madeira e Sr. Ailito
Quem são as pessoas atendidas todos os dias na Casa da Sopa
Nossa equipe ficou na entidade por algumas horas e constatamos a chegada um a um dos cidadãos, cidadãs e até famílias inteiras (pai, mãe, filhos) por volta das 11 horas da manhã deste dia 17/02.
Todos que são atendidos tem sua história de vida, entre um tempo passado e hoje serem pessoas em insegurança alimentar e que tem fome, outros são moradores de rua e nem tem um teto para descanso e um mínimo de conforto.
Algumas pessoas chegam diariamente na Casa da Sopa em precária situação de saúde, seja por falta de alimentos ou por uso de drogas e álcool, muitos são violentos e causam grandes problemas até no momento das refeições.
Porém, todos são seres humanos, como nós os cidadãos que de certa forma estamos em mais vantagem social, e a fome que não causa dor em nossos corpos, causa até brigas de relacionamento em várias pessoas da sociedade cianortense que buscam por um prato de comida, é humilhante para alguns, podemos ver nos olhos das pessoas com fome a sombra da infelicidade, da dor, do sentimento de inferioridade, da intimidação e da tristeza em seus corações... é preciso ser humano e ter forças para entender o porque!! Ninguém quer passar fome, ou ver seus filhos com fome por desejo próprio... todos querem ter dignidade.
Conhecemos o Sr. Zé (como é chamado), entre as pessoas atendidas diariamente na Casa da Sopa, "Seu Zé" tem um espírito iluminado, já passou por bons momentos em sua jornada nesse plano de vida, e hoje vai todos os dias em busca da alimentação, é lá, na Casa da Sopa que ele conversa, ri, passa 1 hora, sente estar vivo e o melhor de tudo, "Seu Zé" de alma limpa e humilde é um grande professor - Como é maravilhoso ouvir "Seu Zé"!
"Seu Zé", já foi grande professor de artes e artesanatos, dava aula em clube social de Cianorte, teve vários, centenas de alunos, hoje é apenas ele, somente o "Seu Zé" uma pessoa que deseja se alimentar diariamente... A vida lhe atribui mais de 70 anos, e na sua profissão de artesão o mercado não lhe deu mais condições de trabalho.
Assim como ele, muitos tem suas histórias e seus motivos em estarem hoje em situação de vulnerabilidade na sociedade e insegurança alimentar, é fato, e é necessário uma política pública para atender essa demanda em nossa sociedade.
Vídeo: Mike Madeira e "Seu Zé" - "Se a Casa da Sopa fechar vai ser muito ruim e muitas pessoas vão pra rua pedir" - afirma Sr. Zé.
Tempos de Glória - Sr. Zé e sua turma de alunos de artesanatos, na cabeça seu chapéu que lhe acompanha por 18 anos, feito de tiras de jornal:
A riqueza de "Seu Zé" esta com ele, dentro de um saco plástico de lixo de cor verde, onde tem alguns objetos pessoais e seu tesouro, 5 pequenos álbuns de fotos de várias épocas de sua vida, uma vida honrada e de muita luta. O coração de "Seu Zé" é tão GRANDE, TÃO GRANDE... não cabe dentro de sua sacola de lixo que ele leva à tira colo...
Intenção e Oração todos os dias antes das refeições: