VIGÍLIA, TORNOZELEIRA E FUGA: O sábado em que Bolsonaro trocou o sofá pela cela
- Nelson Guerra

- há 12 horas
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Se fosse novela, o capítulo de sábado teria direito a trilha sonora dramática e câmera lenta. Flávio Bolsonaro, em redes sociais, convocou apoiadores para uma vigília em frente ao condomínio onde o pai cumpria prisão domiciliar. Parecia cena de “velório político” com velas e bandeiras, mas acabou virando o estopim para o Supremo Tribunal Federal decretar a prisão preventiva de Jair Bolsonaro.

O ministro Alexandre de Moraes enxergou na convocação não um ato de fé, mas um risco de tumulto, aglomeração e até fuga. Afinal, como bem lembrou a decisão, a casa do ex-presidente fica a apenas 13 km da embaixada dos Estados Unidos — uma “porta de emergência” tentadora para quem já ensaiava passos de evasão.
A tornozeleira que virou abacaxi
Na madrugada de sábado, logo após a meia-noite, Bolsonaro tentou violar a tornozeleira eletrônica. O dispositivo, que deveria ser um simples “GPS de pulso”, virou um abacaxi eletrônico: em vez de vigiar, denunciou. A tentativa de burlar o monitoramento foi mais um ingrediente para Moraes concluir que a prisão domiciliar não segurava o ímpeto do ex-presidente.
Com isso, a Corte ganhou mais um argumento para, no futuro, não autorizar novamente o cumprimento de pena em regime domiciliar. Afinal, quem tenta escapar do cercadinho eletrônico mostra que não está disposto a respeitar as regras do jogo.
STF como zelador da ordem
O Supremo, nesse episódio, agiu como zelador de condomínio em dia de festa clandestina: apagou as luzes, chamou a polícia e garantiu que o barulho não virasse tragédia. A decisão de Moraes foi clara: garantir a ordem pública e impedir que a vigília se transformasse em repetição dos acampamentos golpistas de 2022.
A imprensa internacional repercutiu o caso, destacando que a prisão preventiva ocorreu dias antes de Bolsonaro começar a cumprir a pena de 27 anos por liderar tentativa de golpe. Ou seja, o STF não apenas aplicou a lei, mas também mandou recado: não há tornozeleira, vigília ou discurso que drible a Constituição.
Metáfora final
Se Flávio Bolsonaro achou que estava organizando uma vigília de fé, acabou acendendo o pavio de uma bomba jurídica. O gesto não só precipitou a prisão preventiva do pai, como também pode ter plantado espinhos no próprio caminho. Afinal, além de prejudicar Jair Bolsonaro em futuros pedidos de prisão domiciliar — já que a tornozeleira virou prova de insubordinação — o senador pode ser acusado de incitação ao crime.
Em outras palavras, Flávio corre o risco de trocar o papel de “porta-voz da vigília” pelo de “companheiro de cela”. Se o STF entender que sua convocação foi mais do que um ato político e sim um estímulo à desobediência judicial, o destino pode reservar ao filho o mesmo endereço do pai: não mais o condomínio, mas a prisão.
(Nelson Guerra é comunicador e consultor em Gestão Pública. Estuda política e economia enquanto investiga se tornozeleiras eletrônicas têm gosto de abacaxi)














Às vezes me pergunto... Como "estes" chegaram tão longe. Me assusta a falta de habilidade no traquejo do político-jurídico. Ainda bem... Senão, poderíamos de fato, estarmos encrencados!