Por que os adolescentes de hoje sentem vergonha dos pais?
- Gedeon Lidório

- 18 de jun.
- 3 min de leitura
Parte 2
No mundo atual, onde os vínculos familiares são frequentemente fragilizados por discursos de autonomia absoluta e rejeição da autoridade, a ideia de “honrar pai e mãe” parece ultrapassada para muitos adolescentes. Mas, à luz das Escrituras, honrar os pais não é apenas uma exigência moral: é uma afirmação de identidade e pertencimento espiritual.

Não honrar é desprender-se da sua origem, gerando uma crise de identidade que refletirá em tudo o que é, faz ou fará.
A primeira vez que aparece na Bíblia, o mandamento “Honra teu pai e tua mãe” está entre os Dez Mandamentos (Êxodo 20:12), e aparece repetido por Moisés, por Jesus e pelos apóstolos. A palavra hebraica usada para “honrar” é כָּבֵד (kavêd) — a mesma raiz de “peso”, “glória”, “valor”. Ou seja, honrar é reconhecer o peso de importância que o outro tem em nossa vida.
“Honra teu pai e tua mãe. Então terás vida longa plena na terra que o Senhor, teu Deus, te dá.” (Êxodo 20:12, NVT)
Este mandamento é o único com uma promessa explícita de longevidade e bênção. Em outras palavras, a saúde de uma sociedade está profundamente ligada à saúde do relacionamento entre gerações.
Negar a honra aos pais é, em última instância, romper com uma estrutura espiritual criada por Deus para proteção, nutrição e continuidade da vida.
É importante dizer aos adolescentes — e aos pais — que honra não é conivência, não é silêncio diante do pecado, e não exige idolatria familiar. Há pais que falham, que ferem, que se afastam. A Bíblia não esconde as histórias de pais complicados: Davi falhou com seus filhos, Isaque favoreceu um filho em detrimento do outro, Jacó repetiu padrões disfuncionais de afeto.
Mas em todos os casos, o princípio de honra permanece — não porque os pais sejam perfeitos, mas porque eles representam o lugar de origem. Honrar é reconhecer isso com reverência, mesmo quando for necessário manter distância ou buscar cura para feridas.
“Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo. ‘Honra teu pai e tua mãe’ — este é o primeiro mandamento com promessa — ‘para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra’” - (Efésios 6:1–3, NVI)
Essa honra é ensinada no contexto da vida “no Senhor” — ou seja, não se trata de obediência cega, mas de uma postura espiritual de respeito, memória e humildade diante da nossa própria origem.
A crise de identidade na adolescência — muito acentuada nas últimas gerações — é também uma crise de filiação. Quando o adolescente rejeita os pais, muitas vezes está, sem perceber, rejeitando a si mesmo. Ele tenta apagar as marcas da sua história, desejando se reinventar a partir de modelos impostos pela cultura de massa. Mas identidade não nasce do isolamento: ela se constrói no encontro.
Na tradição bíblica, a identidade de um filho está ligada ao nome da família, à bênção transmitida, à responsabilidade geracional.
“Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles.” - (Provérbios 22:6, NVT)
Pais e filhos são chamados a caminhar juntos no processo de formação. E isso exige esforço mútuo: os pais precisam ensinar com sabedoria e paciência; os filhos, aprender a ouvir e dialogar.
Honrar os pais, portanto, é mais do que uma atitude externa — é um ato profundo de reconhecimento da própria história, da graça que sustenta a família e da identidade que nos vincula a algo maior do que nós mesmos.
Prof. Gedeon Lidório
Teologia, Antropologia, Filosofia e Psicanálise
Instagram: @gedeonlidorio
E-mail: gedeon@lidorio.com.br














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