OS TALENTOS E TRISTEZAS DE CIANORTE
- Kaio Feroldi Motta
- 3 de set.
- 3 min de leitura
Por Kaio Feroldi Motta - Administrador.
Cianorte enfrenta um paradoxo silencioso: de um lado, o (tímido) crescimento populacional dos últimos anos; de outro, o surgimento de pequenos negócios, através das micro e pequenas empresas. Em meio a isso, o cenário — apesar de aparentar positivo — é, na prática, a de escassez de oportunidades de emprego para os jovens. A cidade, com seus 80 mil habitantes e forte dependência do setor público em serviços essenciais, se revela, na verdade, um lugar de partida, e não de chegada. A busca por desenvolvimento profissional e salários mais atrativos, principalmente em áreas tecnológicas, tem forçado a fuga de seres pensantes, o que prejudica o potencial de crescimento e inovação do município.

O cenário econômico da cidade, predominantemente composto pela confecção, avicultura e alimentos (atualmente, não mais nessa ordem), embora vital para a economia local, não oferece o dinamismo necessário para absorver os jovens talentos com formação técnica e superior. A ausência de um maior número de grandes empresas e a baixa diversificação da matriz econômica limitam as opções do jovem adulto, deixando de lado áreas promissoras e de grande demanda em centros urbanos maiores. Muitos universitários e recém-formados se veem obrigados a aceitarem posições que não condizem com suas qualificações ou, na maioria dos casos, a procurarem empregos em outras cidades (por vezes, que distam menos de 100 quilômetros da Capital do Vestuário).
A carência de um polo tecnológico na cidade é o reflexo mais evidente desse problema. Enquanto a economia global migra cada vez mais para o digital, Cianorte permanece com um ecossistema analógico e ultrapassado, batendo palmas para as vagas de emprego abertas (sem observar o número de rescisões que as acompanham). A falta de empresas de software, startups e centros de pesquisa e desenvolvimento não apenas restringe as oportunidades para quem se forma em áreas como Análise de Sistemas, Engenharia de Software ou Design Digital, mas também impede a criação de uma base sólida para a inovação local. Sem a presença desses nichos, a cidade não consegue gerar empregos de alto valor agregado e, consequentemente, não obtém o retorno com as mesmas.
Além da falta de empregos diretos, a ausência desse ecossistema de trabalho cria um ciclo vicioso: sem significativas oportunidades, há pouca demanda por profissionais qualificados e, sem a demanda, as instituições de ensino locais e os próprios jovens têm menos incentivos para investir em cursos e capacitações. Tal descompasso entre a oferta de formação e a demanda do mercado faz com que muitos profissionais busquem outras cidades, onde possam não apenas trabalhar, mas também se desenvolver em um ambiente que valorize (e fomente) a inovação tecnológica.
O êxodo narrado de jovens talentos impacta diretamente o futuro da nossa amada Cianorte. O município perde não apenas mão de obra qualificada, mas também o potencial e criativo profissional que a nova geração poderia trazer. Novas ideias, soluções e a própria capacidade de diversificar ficam no mundo dos sonhos. O resultado? Um freio no desenvolvimento de novos setores, tornando a cidade cada vez mais dependente de sua matriz econômica tradicional e, consequentemente, mais vulnerável a crises e estagnação.
A forte dependência do poder público em áreas essenciais como saúde, educação, segurança e transporte, embora represente a espinha dorsal dos serviços municipais, também contribui para o problema. O setor público, apesar de ser um grande empregador, muitas vezes não consegue absorver a totalidade da mão de obra qualificada disponível, especialmente em áreas de nicho. O resultado é um mercado de trabalho com poucas opções e baixa concorrência, o que afeta negativamente os salários e as condições de trabalho. A solução, portanto, não está apenas na criação de empregos públicos, mas na atração e fomento do setor privado, principalmente em novas áreas.
Para reverter esse cenário, é crucial um esforço conjunto entre o poder público, a iniciativa privada e as instituições de ensino. O impulsionamento de um ambiente favorável à inovação, por meio de incentivos fiscais para grandes empresas, programas de aceleração de startups e parcerias com universidades,l poderia ser um primeiro passo. Investir na qualificação profissional dos jovens em áreas de tecnologia e criar espaços de co-criação e networking poderiam ser a chave para construir um futuro em que Cianorte seja, de fato, uma cidade linda e transformadora, e não apenas uma estação de passagem para seus jovens talentos.
É fácil? Não. O cenário muda rapidamente? Não. Mas, é preciso começar; caso contrário, Cianorte continuará sendo uma 'cidade-trampolim', repleta de seletas oportunidades e fornecimento de força de trabalho para outros municípios.
Há bastante tempo, eu e outros formandos buscamos emprego na área de desenvolvimento de software. O problema é que as instituições de ensino de Cianorte não oferecem, em geral, cursos que realmente exijam do aluno a qualificação necessária. Isso contrasta com graduações como Ciência da Computação, ofertadas pela UTFPR, a poucos quilômetros da cidade. Assim, muitos alunos concluem o curso com lacunas importantes e, ao ingressar no mercado, encontram empresas que priorizam perfis já prontos, com pouca estrutura para formar do zero.
Graças a Deus, tenho muitos amigos que trabalham como programadores e, por indicação de um deles, consegui meu primeiro emprego — no qual sigo até hoje. Na minha visão, a cidade ainda investe pouco em evolução tecnológica e…