O mundo em revisão
- Walber Guimarães Junior
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Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.
Ainda que bastante anunciado durante a campanha eleitoral, a gestão Trump iniciada em 2025 está produzindo intensos efeitos no equilíbrio comercial entre as nações, as tais tarifas protecionistas que exigem um realinhamento dos países e profundas alterações no fluxo de mercadorias, de toda a ordem, porque impactam os preços e são esses os determinantes do comércio internacional.

Observamos estas transformações em quase todos os momentos da história, com destaque para a largada do comércio, com os fenícios ou, logo depois, com as rotas comerciais entre Ásia e Europa, até que as descobertas e a navegação alterassem os produtos e fatores envolvidos.
Desnecessário afirmar que as navegações buscavam muito mais que novas terras, mas a prioridade eram riquezas, além dos metais, especiarias e produtos que desequilibravam as balanças comerciais das maiores nações, todavia estes ajustes demandavam várias décadas, gerações inteiras para revisar os parâmetros comerciais, jamais com a velocidade do modelo Trump.
Este ano foi tudo diferente. De repente, em uma única canetada, como um peso enorme despejado sobre apenas um lado da balança, Trump promoveu um profundo rearranjo no equilíbrio de preços do comércio mundial, por consequência alterando valores e volumes do fluxo de comodities, manufaturas e até produtos com maior inserção tecnológica.
Praticamente todos os governos do mundo, tiveram que ajustar variáveis econômicas e políticas para reestabelecer o jogo entre os países, etapa ainda em processamento porque Trump não cansa de surpreender e alterar as regras do jogo. Vejo chefes de estado de todos os continentes e vertentes ideológicas debruçados sobre o mesmo dilema; a opção pela prioridade econômica, fechando os olhos para as variáveis políticas, ou buscando reações que registrem o desconforto com as imposições do Tio Sam.
Cada chefe de Estado tem diante de si um imenso conflito de interesses porque a resposta intempestiva, fórmula utilizada por alguns, pode impor sanções e prejuízos enormes para setores inteiros de sua nação, exigindo a busca de novo ponto de equilíbrio e, principalmente, um redesenho da competitividade de cada produto excedente do mercado interno que precisa ser exportado para gerar divisas e empregos internos.
O problema é que boa parte dos líderes mundiais optam por alinhamento ideológico em detrimento ao caminho mais suave para preservar a economia, todavia não seria justo julgar tal decisão sem considerar que o mundo não pode se submeter ao humor de Trump, ou qualquer outro líder de primeira grandeza, sem lutar pela integração e multilateralismo que levamos décadas para construir.
A velha regra que nações não tem amigos, mas parceiros comerciais e simpatias são irrelevantes nas trocas comerciais, jamais foi uma verdade universal porque o jogo ideológico e os interesses de grupos regionais precisam ser avaliados no processo de decisão interna.
Importa também frisar que estes fatores externos, o vento que sopra na vela da economia, são muito mais relevantes que as decisões internas, embora seja razoável entender que uma boa gestão interna potencializa oportunidades e minimiza interferências externas, inclusive porque crises também geram oportunidades.
A resposta para este dilema, em cada uma das nações, além de mudar o mapa da riqueza entre as nações, terá potencial para produzir alterações eleitorais em muitos países, pela inequívoca relação entre economia e voto, bem resumida por James Carville, estrategista de Bill Clinton na célebre “é a economia, estúpido”.
Resta ao governo, sem abrir da mão da atuação de seu país na cena global, buscar diálogo e equilíbrio na revisão dos acordos comerciais, sempre que possível insistindo na manutenção de laços diversos que evitem estrangulamentos à frente.
Mais objetivo ainda; não é o caso de escolher e se apaixonar por Trump ou Xi Jinping, mas ter maturidade para conviver com diferentes, sabendo que opções pessoais precisam ser secundárias no comando dos interesses nacionais.
Observe que este mesmo dilema se repete, em escala menor, no Brasil, onde a polarização faz com que o eleitor, doutrinado para a dualidade do bem e do mau, não perceba que governadores e prefeitos precisam manter relações cordiais verticais e isto não implica em “traição” ideológica, mas apenas pragmatismo necessário para sustentar os interesses da unidade federativa menor.
Como regra geral, parece evidente que chefes de executivo devem administrar seus impulsos e cobranças para “lacrar”, como exige o deturpado senso político atual, mas ter sabedoria para compor e preservar os interesses coletivos.
Ainda assim, difícil de entender em tempos de irracionalidade política.
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