O líder e o chefe – nos relacionamentos pessoais
- Célio Juvenal Costa

- há 3 minutos
- 3 min de leitura
Depois de pensar sobre os conceitos de líder e chefe na gestão, ou no comando de algum órgão ou instituição, e de utilizá-los como metáforas para repercutir o papel do professor em sala de aula, termino esta série de reflexões tomando-os novamente como metáfora, mas agora para relacionamentos pessoais.

Nos outros textos conclui que a principal diferença entre o modo chefe e o modo líder de ser na gestão e na sala de aula basicamente se refere à questão da liberdade e da autonomia. O líder procura criar um clima de liberdade e promover a autonomia daqueles que fazem parte de sua área de atuação; já o chefe cria ou instiga um ambiente de subordinação e quer que os outros lhe sejam subservientes. O líder tem desapego e o chefe tem medo de perder seu poder.
Penso que nas relações pessoais ocorre, metaforicamente, a mesma coisa. O amigo ou namorado do tipo chefe quase nunca permite que o outro tenha vida própria, que tenha ideias próprias ou gosto próprio. Em nome do afeto que é dedicado, este tipo não admite que o outro não lhe retribua o sentimento com a mesma intensidade. Também não admite que o outro possa ter outros amigos com os quais possa compartilhar a vida. O amigo/namorado chefe quer, no íntimo, que o outro passe a viver em sua função. O sentimento característico nessa relação é o ciúme, capaz de, em certos casos, ser o motivador de uma dependência psíquica do outro, passando a se sentir como se seu dono fosse. O namorado/amigo chefe sempre acha que o outro pode traí-lo e, com isso, vive num clima de perene desconfiança e medo e, portanto, é um ser que sofre, especialmente com fantasmas criados em sua mente.
O amigo/namorado líder, por seu turno, procura se relacionar com o outro de forma igual, respeitando nele a sua personalidade, suas ideias e seus gostos. Este tipo preserva a individualidade do outro, assim como preza a sua própria, não cobrando do outro nada além do que o outro pode lhe dar. A confiança é inerente à relação para o tipo líder e, portanto, não há lugar para ciúmes, especialmente os doentios, pois a relação não consistirá em criar um laço de dependência recíproca. Este tipo de namorado/amigo não traveste como amor a necessidade de controlar o outro, pois amor é, ou deveria ser, fundamentalmente, liberdade. Amor, dedicação, carinho, afeto, para este tipo de relação são sentimentos que não devem gerar sofrimento e, portanto, o medo não existe e nem fantasmas são criados. A autonomia buscada na relação baseia-se na autonomia das individualidades, se os dois crescem juntos, a relação cresce igualmente.
Na relação tipo chefe, como os laços que se estabelecem são os de dependência e, portanto, de colocar no outro a razão de sua existência, o final pode ser traumático, quando não violento; neste tipo, quem se coloca como o comandante não aceita, de forma nenhuma, que o outro possa, sequer pensar, em romper o relacionamento, afinal, pensa ele, o outro não tem o direito de não retribuir todo a dedicação, todo “amor” que lhe foi “destinado”. Já na relação tipo líder, primeiramente os dois são líderes, não há hierarquia, e se o relacionamento não deu certo, há sim que se lamentar, há sim que dar espaço para a tristeza, mas jamais será traumático ou violento, pois assim como duas individualidades tomaram a decisão de se relacionar, com o término as individualidades permanecem e estarão abertas para novos relacionamentos.
Como eu acredito que o ser humano é social, apesar de ter certas características naturais da personalidade, o aprendizado é inerente ao seu desenvolvimento. Ser líder e deixar de ser chefe é difícil, às vezes é uma luta contra si mesmo; mas, se assim não fizermos, os outros serão, sempre, pretexto para a nosso eterno desejo de dominação...
Meu Instagram: @costajuvenalcelio
Obs: Esta é uma versão revisada e atualizada de um texto originalmente publicado no blog: devaneioseoutrasreflexões.blogspot.com.














Comentários