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O impacto do desaparecimento do estudante: Hayslon Miguel Valim de Oliveira

Por Ana Floripes - Professora



Hayslon Miguel - desapareceu no dia 23/10/2021, em Cianorte-PR



Os anos letivos de 2020 e 2021, tornaram-se um desafio para a comunidade escolar, pois tivemos que ressignificar os processos ensino e aprendizagem. A necessidade do isolamento social como medida de enfrentamento à pandemia e consequentemente o fechamento do espaço físico para a realização das atividades pedagógicas impactou a todos. As atividades na modalidade de ensino remoto geraram, no início, muita ansiedade porque era necessário introduzir na cultura diária um novo modo de aprender. Logo, houve mudança de rotina e foi necessário um período de adaptação tanto para os estudantes quanto para os profissionais da educação. Para atender essa finalidade, foram criados diferentes ambientes de estudo, os mais utilizados são: plataforma Google Classroom, Google Meet e Trilhas de Aprendizagem. Até o WhatsApp foi utilizado com meio para que as orientações pedagógicas chegassem aos lares. A desigualdade social está evidente, porque grande parte dos estudantes e escolas não tinham e ainda não têm os recursos necessários.


Foi nesse cenário que perdemos o adolescente Gabriel Pereira Ribeiro, 16 anos, vítima da COVID-19, em 16/06/2021. Uma carteira ficou vazia por algum tempo até chegar a próxima matrícula. Mas seu número na chamada foi apenas riscado e justificado o motivo: falecimento. Eu fazia questão de passar perto de sua carteira e olhar suas atividades. Essa cena continua viva em minha memória. Ele era observador e muitas vezes respondia aos questionamentos com o simples balançar de cabeça. Ficou aquela sensação de que poderia ter me esforçado muito mais para ouvir sua voz...


No dia 22/07/2021, a Luciana Mara Tachini Barbosa, diretora do Colégio Estadual Igléa Grollmann, solicitou minha presença em sua sala para conhecer um estudante. Lá estavam o sr. Valdecir e seu filho, Hayslon Miguel, na ocasião, 15 anos. Ele completou 16 anos no dia 02 de novembro. De início foi observado o sofrimento de ambos. No caso do estudante, matriculado no período do ponto alto da pandemia, ficou clara sua dificuldade de socialização e em buscar ajuda ao necessitar de apoio. O pai relatou, que seu filho tinha as mesmas dificuldades ao participar de eventos sociais com seus familiares. Durante os 20 minutos de conversa, Hayslon não fez contato visual e repetiu a seguinte frase, seguidamente:

“Se mudar para cidade, vou embora para UMUARAMA. Para que sair do sítio? Lá sinto paz, ouço os pássaros. O silencio me faz bem.”

O pai justificou a necessidade da mudança da zona rural para urbana: sobrevivência. Sua profissão é jardineiro. O Hayslon pediu socorro:


“As falas das pessoas em ambiente fechado me causam irritabilidade, não consigo entender o conteúdo. Eu preciso da ajuda de um remédio. Não estou aguentando mais."

É comum, as salas de aulas, na segunda etapa do ensino fundamental e ensino médio serem compostas com no mínimo 30 estudantes e há algumas com 45 estudantes.


Ao percebermos que poderíamos estar diante de um possível diagnóstico tardio de Transtorno do Espectro Autista (TEA), no mesmo dia, fui ao Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) e agendamos sua consulta. A primeira aconteceu no dia 27/07/2021. Outro fato observado é que diante da sobrecarga sensorial ele não suportava ficar parado esperando o atendimento e a única estratégia de autorregulação (habilidade de poder monitorar e modular sentimentos, a cognição e o comportamento) encontrada, naquele momento, era abaixar a cabeça e caminhar até sua antiga residência na zona rural que ficava a 15 km do município de Cianorte-PR. Muitas vezes, seu pai o acompanhava com o carro até chegar em casa. Ele se recusava a entrar. No caminho apanhava frutas e levava consigo.


Hoje, 11 de dezembro, completa 49 dias, desde seu desaparecimento. Um adolescente que mobilizou e ainda mobiliza inúmeras pessoas em sua procura. Quantas hipóteses foram levantadas? Várias! Contudo, muitas descartadas. Todavia, ainda há algumas e no tempo certo a resposta virá. O ano letivo está terminando e queremos saber notícias de nosso aluno. Estou com a sensação de que diante de suas necessidades nas áreas da saúde, educação e assistência social, ainda foi feito muito pouco por ele com relação aos seus direitos como cidadão.


Nesse sentido, nós, comunidade escolar do Colégio Estadual Igléa Grollmann – EFM, perguntamos: “Onde está o Hayslon Miguel Valim de Oliveira?”







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