O eleitor Nem Nem.
- Walber Guimarães Junior
- há 2 dias
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Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.
Pesquisa recente aponta que 66% dos brasileiros preferem que Lula não dispute às próximas eleições e, para garantir a polaridade, 65% não querem Bolsonaro candidato. Atentem, todavia, ao índice na mesma pesquisa para intenção de voto estimulada; 41% para cada um ...

Os números admitem várias leituras, mas me atrevo em oferecer algumas delas, sendo a mais contundente a saturação com a polaridade excessiva que cega a muitos, pela compreensível razão que paixão cega, inclusive a política.
Há também um cansaço com as atitudes personalistas dos dois líderes, ambos convencidos que têm incumbência divina de salvar a nação da mão do oponente, com a adesão de milhões para esta tese maluca. Se torcedores de futebol sempre souberam que Jesus não entra em campo ou marca gol para nenhum time, talvez precisem também entender que Ele, ainda que seja brasileiro, não tem título de eleitor, portanto não vai se comprometer com nossas disputas eleitorais.
Outra questão relevante é a incapacidade do cidadão comum enxergar fora da sua bolha e, como convive quase sempre com iguais, consolida opiniões sem a oportunidade do contraditório.
Faço um depoimento pessoal, como torcedor especializado em “secar” os adversários, durante este exíguo espaço de tempo que o meu Santos está fora do pódio esportivo. Não importa quem joga contra Corinthians ou Palmeiras, será meu time durante os noventa minutos da contenda. O problema é que na política a torcida do contra não se restringe a um jogo, mas a todo o campeonato e vejo, como assisti na gestão passada, brasileiros torcendo pelo “quanto pior, melhor”, exclusivamente para facilitar o caminho de volta de seu escolhido ao poder. Seria o caso de concluir que a paixão é maior que a sanidade ou o bom senso?
Difícil falar com frieza para uma legião de convertidos, mas tem muito de igual entre Lula e Bolsonaro, sendo o mais evidente a paixão desenfreada pelo poder que bate forte no coração de ambos. Bolsonaro chegou a jogar “fora das quatro linhas”, como deixa evidente o processo da tentativa de golpe e Lula acha que tem pique e saúde para enfrentar a presidência após os oitenta anos, com previsível declínio da capacidade física e mental.
O alegado amor à pátria de ambos deveria levá-los a opção de um apoio sincero e resoluto a algum nome que defenda seu espectro ideológico. Jamais ousaria negar o amor de ambos ao Brasil, mas sou capaz de afirmar, pelo excesso de evidências, que é bem inferior ao amor pelo poder. Mas ambos preferem seguir negando as aparências e disfarçando as evidências ...
Olho para a esquerda e vejo Alckmin, Haddad e tantos outros com capacidade para comandar o país, pela experiência e principalmente pela vocação de ambos para o diálogo e a construção do consenso, desde a sociedade, a periferia até o pessoal da Paulista.
Quando viro para a direita, enxergo um conjunto de governadores bem avaliados, Ratinho à frente, pelos números das pesquisas, mas Zema, Caiado e Tarcísio com resultados significativos em suas gestões, todos eles com maior capacidade administrativa (não me refiro a liderança) superior à Bolsonaro.
Mesmo na interface entre ambos, no centro, se este espaço ainda pode ser preenchido no Brasil, nomes já carimbados como Ciro Gomes ou Simone Tebet, além de uma infinidade de alternativas significativas, que nos livrariam da insanidade, derivada inquestionável da polarização obtusa.
Lógico que minha limitada cultura política me informa que número de pesquisa é apenas um retrato circunstancial que permite leituras diversas e não necessariamente apontam uma possibilidade real. Claro que entendo que é missão complicadíssima a construção de qualquer alternativa política, de qualquer ponto da régua ideológica, porque tem um componente que nenhum outro nome, além dos dois líderes, consegue que é a tal da expectativa de vitória.
Talvez para o eleitor este fator não seja determinante, embora seja evidente que sempre foi importante para a definição do voto útil na linha de chegada, mas para os partidos, sedentos pelo poder, ainda que as regras eleitorais lhes concedam dois turnos para “acertar” o vitorioso, estão sempre determinados a nadar em direção a canoa que segue à frente.
Os números e a percepção nos indicam que o eleitor Nem Nem (rejeitam a ambos, a princípio) é amplamente majoritário no eleitorado brasileiro, todavia não tem poder para alavancar uma candidatura, sendo esta regalia restrita às legendas partidárias e, neste universo, ainda com mais ênfase que entre Lula e Bolsonaro, a verdadeira vocação é o poder e, apenas quando possível, conciliando com o projeto de Nação que tanto desejamos.
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