Cidade de Mortes, Caos na Segurança Pública e Brigas Politicas...
- Marcio Nolasco

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Por Marcio Nolasco - Analista de Políticas Públicas - ENAP

Até para o Rio de Janeiro, tão acostumado com a violência cotidiana que volta e meia faz lembrar uma guerra, a operação policial desta terça-feira contra o Comando Vermelho foi um choque. Nunca na história a entrada da polícia nas favelas deixou tantos mortos e nunca a reação do crime organizado atingiu tantos pontos da cidade ao mesmo tempo. Ao todo, mais de 130 pessoas foram mortas, outras 80 estão presas. Pelo menos quatro policiais perderam a vida nos confrontos. Diversas pessoas foram baleadas em meio aos confrontos, sendo 15 policiais e ao menos três moradores. A ação, resultado de um ano de investigações de acordo com as forças de segurança do Rio, mobilizou 2.500 agentes, além do Ministério Público, que, oficialmente, cumpriam mandados de busca e apreensão, visando desarticular lideranças do Comando Vermelho (CV) nos complexos da Penha e do Alemão. Em resposta, os criminosos utilizaram drones para atacar a megaoperação. Mais de cem linhas de ônibus tiveram itinerários alterados, vias expressas foram interditadas e aulas foram canceladas por conta da violência.

A Operação Contenção apreendeu 96 fuzis, segundo balanço parcial das autoridades, chegando à marca de 686 em 2025, um novo recorde anual no estado. Na semana passada, o Instituto de Segurança Pública (ISP) já havia registrado a marca de 593 fuzis apreendidos entre janeiro e setembro deste ano, o maior número da série histórica do ISP, iniciada em 2007.
Cálculos do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), apontam que a megaoperação na Zona Norte do Rio foi a mais letal do estado até hoje, superando uma operação no Jacarezinho, em maio de 2021, que causou 28 óbitos. Aliás, os morros da Penha e do Alemão são os mais afetados por ações mortais da polícia. Em 2022, duas operações mataram 23 pessoas na Penha, em maio, e outras 17 no Alemão em julho, além de outras 19 em junho de 2007.

A ação policial se assemelha a uma guerra civil até na tática. Além de drones e ambulâncias do grupamento de Salvamento e Resgate, os agentes contavam com 32 blindados terrestres e 12 veículos de demolição. Já os traficantes usaram drones para lançar granadas contra equipes das forças especiais da Core e do Bope, além de armamento pesado, como fuzis.
Enquanto os corpos ainda estavam sendo recolhidos das ruas e vielas das favelas da Zona Norte, uma outra guerra se desenrolava entre o Palácio das Laranjeiras, sede do governo do Rio, e o Palácio do Planalto. Diante do caos causado pela operação policial, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), tentou repassar a responsabilidade para o governo federal. De acordo com Castro, Brasília não quis apoiar a operação ao se negar a enviar blindados para apoiar a invasão das áreas comandadas pelo CV. Desmentido tanto pelo Ministério da Defesa quanto pelo Ministério da Justiça, o governador alegou ter sido mal interpretado. Em telefonema para a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, Castro disse que não disse o que disse na coletiva de imprensa. “Gleisi, quem está falando isso não ouviu minha fala”, disse ele à ministra.

O disse-me-disse do governador carioca, amplamente divulgado nas redes sociais da extrema direita, não parece ter convencido Brasília. Coube ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, as críticas mais intensas a Cláudio Castro. De acordo com o ministro, Castro deve tomar uma posição concreta sobre suas responsabilidades. “Se ele sentir que não tem condições, ele tem que jogar a toalha e pedir GLO ou intervenção federal”, afirmou o ministro. Em ambos os casos, o Rio passaria por uma intervenção federal, como ocorreu sob o governo Michel Temer, quando o general Braga Netto assumiu a segurança do Rio em 2018.
Depois dos bate-bocas virtuais o governo federal decidiu agir de forma institucional enviando uma comitiva até o Rio para discutir a questão da segurança. A decisão foi tomada após uma reunião de aproximadamente duas horas no Palácio do Planalto, convocada pelo presidente em exercício, Geraldo Alckmin. A delegação deve incluir Lewandowski; o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa; e o diretor-executivo da Polícia Federal, William Marcel Murad. O Palácio do Planalto pretende estabelecer linhas de atuação conjunta e formular uma resposta política e operacional para a atual crise na segurança fluminense. Integrantes do governo avaliam ainda que o cenário pode fortalecer o debate da PEC da Segurança no Congresso.














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