Semana do Dia dos Namorados: Bolsonaro pede para Moraes fazer parzinho como seu vice, mas dá tiro no próprio pé.
- Nelson Guerra
- há 22 horas
- 5 min de leitura
Ex-presidente tenta se defender e ser “amável”, mas tropeça nas próprias versões e reforça suspeitas contra si. Especialistas veem depoimento como “autonocaute”.
Por Nelson Guerra - Analista Político
Se a tarde de 10 de junho fosse uma partida de futebol, o ex-presidente Jair Bolsonaro teria levado uma goleada de placar elástico no Supremo Tribunal Federal. Em um depoimento que prometia ser estratégico para sua defesa, o capitão, digamos, “entregou o ouro ao bandido” e, segundo especialistas, pavimentou o caminho para uma situação ainda mais delicada. Com um linguajar que misturava negação, desculpas e um certo “efeito dominó” de contradições, Bolsonaro parece ter transformado o interrogatório em um verdadeiro “autonocaute”.

O General Batista Jr. Virou "Fumaça" na Narrativa
A primeira bola fora, que fez muita gente coçar a cabeça, foi a negação de que as Forças Armadas topariam qualquer aventura golpista. “Militar não segue ordem ilegal, pô!”, teria dito o ex-presidente, como se estivesse jogando uma partida de sinuca e a bola branca caísse na caçapa. O problema é que essa declaração contradiz abertamente o brigadeiro Baptista Jr., que, em tempos passados, deu a entender que o caldo não era tão ralo assim. Parecia que Bolsonaro tentava apagar um incêndio com um copo d’água, mas o fogo só aumentava.
Reuniões Militares: De “Plano Golpista” a “Churrasco de Amigos”
As famigeradas reuniões com figurões das Forças Armadas, que antes pareciam mesas de negociação de um plano B para o Brasil, foram minimizadas a encontros de “cunho informal”. Bolsonaro, numa tentativa de se descolar do roteiro golpista, afirmou que qualquer ideia “fora da Constituição” foi “descartada rapidamente”. É como se a coisa tivesse sido um bate-papo de comadres no portão, onde, ao menor sinal de “coisa errada”, alguém desse um “corte seco” na conversa. A plateia, claro, ficou com a pulga atrás da orelha.
Perguntou “pode desculpar?” – E obteve sim
Ah, o momento “lava a alma”! Em um movimento que pegou todo mundo de surpresa, Bolsonaro estendeu a mão (metaforicamente, é claro) para o ministro Alexandre de Moraes e pediu desculpas por insinuações de propina. Classificou a acusação como um “desabafo” sem provas, como se fosse um daqueles momentos em que a gente fala o que não deve e depois se arrepende amargamente. A cena foi tão inusitada que alguns juristas chegaram a se perguntar se o ex-presidente não estava jogando xadrez, mas com peças de dama.
Coisa de “Malucos” e a Tentativa de Descolamento
Sabe aqueles parentes que falam umas coisas que te deixam com vergonha no churrasco de família? Pois é. Bolsonaro tratou os pedidos de AI-5, feitos por alguns de seus apoiadores mais fervorosos, como “coisa de maluco”. Uma clara tentativa de se descolar da franja mais radical de sua base, como quem diz: “Olha, eu sou gente boa, mas tem uns por aí que são meio doidos de pedra”.
O problema é que, para muitos, essa “loucura” era bem conveniente na época. Parece que o ex-presidente se esqueceu de mencionar que esses “malucos” estavam nas portas dos quartéis com camisetas estampadas com seu rosto e cartazes pedindo intervenção militar.
A Minuta misteriosa: Exposição na TV e “Dedo Duro” de Mauro Cid
A tal “minuta de golpe”, que já rendeu mais pano pra manga que briga de comadre por causa de calcinha no varal, foi tratada por Bolsonaro como um mero “documento que foi mostrado na TV, não discutido”. Uma narrativa que, convenientemente, “esquece” as declarações do seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, que, em sua delação, jogou a pá de cal e deu a entender que o papo era bem mais sério. É como se Bolsonaro estivesse tentando empurrar a sujeira para debaixo do tapete, mas o tapete era transparente.
A Faixa Presidencial e o Medo da Vaia
A ausência na posse de Lula, que gerou burburinho e memes, foi justificada pelo ex-presidente para evitar “a maior vaia da história”. É como se ele estivesse com medo de um “panelaço” em escala nacional. Uma justificativa que, para muitos, soou mais como uma tentativa de preservar a própria imagem do que um gesto de preocupação com a democracia. Acredita-se que, para evitar a “vaia”, ele preferiu tomar um “banho de gato” e sumir de cena.
“Sou carta fora do baralho”
Autoproclamando-se "carta fora do baralho," Bolsonaro afirmou estar sem influência política, limitando-se a críticas ao sistema eleitoral. Ele defendeu o voto impresso, comparando o sistema brasileiro aos de Venezuela e Paraguai, e chamou o nosso de "inauditável". É como um jogador de pôquer que insiste em blefar sem cartas na mão, tentando manter sua base engajada mesmo estando fora do jogo. Ele chegou a dizer: "Têm que tomar uma providência pra restabelecer a confiança da população no sistema eleitoral nosso".
Forme par comigo: "Quer ser meu vice em 2026?"
Ninguém imaginava a ilustre visita do Cupido em um tribunal, mas ele estava lá camuflado nas palavras de um Bolsonaro manso e arrependido, em razão de sua "culpa no cartório", que em tom de leveza, na semana no Dia dos Namorados, convidou Moraes para ser seu vice. Mas o juiz (que não é de paz) declinou, e não houve match. O date viralizou na internet, colorindo o showzinho bolsonarista que buscava os aplausos dos "malucos".
Especialistas: ‘Depoimento foi um gol contra’
Ao final do depoimento, a sensação geral dos especialistas é que, em vez de se defender, Bolsonaro acabou por “ajudar” o Ministério Público. Analistas jurídicos afirmam que o depoimento reforçou as acusações e que a possibilidade de uma condenação, antes mais distante, agora ganha contornos mais nítidos. É como se o ex-presidente tivesse cavado a própria cova, com uma pá de argumentos contraditórios e desculpas esfarrapadas. Para Bolsonaro, o "xadrez" (em duplo sentido), ao que parece, terminou em xeque-mate. E o tabuleiro, para ele, ficou bem mais complicado.
Veredito Popular
Embora as acusações possam levar a uma pena de até 40 anos, a idade de Bolsonaro, 70 anos, sugere que, se condenado, ele pode cumprir a sentença em prisão domiciliar, como ocorreu com o ex-presidente Fernando Collor, que, aos 75 anos, recebeu essa medida por motivos de saúde. Isso seria uma espécie de retiro forçado para o ex-capitão, talvez com menos postagens no X e mais tempo para reflexão.
A verdade é que o depoimento de Bolsonaro virou uma mistura de show de auditório com capítulo de novela – cheio de “ops”, desculpas e comparaçõezinhas engraçadas. Mas, no tribunal, riso não salva ninguém. E diante dos holofotes do STF, o ex-presidente saiu com o discurso pronto, mas sem prova, e com o risco de prisão domiciliar subindo no telhado. No acumulado, o tom “leve, mas molhado” pode acabar afundando o barco.
Kommentare