Por: Mirian Abreu - Colunista Bisbi - Europa/Portugual
Viajar é bom, mas viajar através da História da Alimentação é maravilhoso!
A história dos hábitos e costumes alimentares de uma sociedade são ricas fontes históricas. Esse "olhar perceptivo" como já escreveu o Professor Doutor Carlos Roberto Antunes em suas teses para a universidade de Paris, faz com que a comida saia da cozinha e passe a ser objeto de estudo com a devida atenção ao imaginário, ao simbólico, às representações e às diversas formas de sociabilidade ativa.

Foto: Assim é o paraíso chamado Algarve.
As cozinhas locais, regionais, nacionais e internacionais são produtos da miscigenação cultural, fazendo com que as culinárias revelem vestígios das trocas culturais.

Hoje, os estudos sobre a comida e a alimentação invadem as Ciências Humanas a partir da premissa de que a formação do gosto alimentar não se dá, exclusivamente, pelo seu aspecto nutricional/biológico e que os alimentos não são somente alimentos, ou seja, alimentar-se é um ato nutricional, e comer é um ato social, pois constitui atitudes ligadas aos usos, costumes, protocolos, condutas e situações.
É importante perceber que nenhum alimento que entra em nossas bocas é neutro. A historicidade da sensibilidade gastronômica explica e é explicada pelas manifestações culturais e sociais como espelho de um "modus vivendi" e que marcaram uma época.
Neste sentido, "o que se come é tão importante quanto se come, quando se come, onde se come, como se come e com quem se come."
Este é o lugar da alimentação na História. E essa viagem será sempre repleta de sabores e saberes inusitados.
Hoje, quero apresentar e oferecer à você estimado leitor, a história de uma iguaria tradicional do Algarve. Situado na região sul de Portugal, é um presente para os olhos , com cenários belíssimos, com belas praias de águas límpidas e convidativas, e também vilas nas montanhas onde se guardam segredos de uma gastronomia secular.
A cozinha algarvia é o resultado de muitas conjecturas, é um palco histórico que permitiu o encontro e desencontro entre vários povos, resultando no enriquecimento da cozinha local.
Acredito que seja a simplicidade, frescor e o modo acolhedor do povo algarvio, a razão de a sua gastronomia ser tão saborosamente única. Vejamos o exemplo do atum. A prática de beneficiamento usada tem por regra o aproveitamento total do peixe e, por essa lógica, muitas delícias foram criadas com partes menos nobres da carne.
Foi assim que surgiu a tradicional estupeta de atum, uma receita oriunda de Vila Real de Santo António, localidade no extremo leste do Algarve, onde se implantaram as primeiras fábricas de produção de conservas de atum, no final do século XIX. Este prato típico foi criado pelos próprios operários das fábricas, que aproveitavam os desperdícios do atum e os levavam para casa para consumo próprio. No caso da estupeta, são as aparas do lombo que são utilizadas e que se não houvesse a criatividade e bom gosto do povo algarvio, provavelmente seriam descartadas.

No Algarve, tudo ganha um sabor especial e é sempre a simplicidade o ingrediente essencial das delícias que têm o agrado de todos.
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