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O 8 de janeiro derruba Bolsonaro, mas não afeta a direita.

Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.


Exceto pelos intensamente apaixonados, não restam dúvidas sobre o enredo obscuro do episódio de 8 de janeiro, epílogo de uma história construída com muito amadorismo pelo círculo próximo do Planalto em 2022. Foi uma tentativa de golpe, medíocre, mas foi.



No topo da hierarquia, havia uma nítida divisão entre conspiradores e omissos, não havendo, reações internas que resultasse em preocupações com a trama mau elaborada. Sem oposição, um grupo próximo ao poder iniciou as articulações.


Bem antes, se iniciou a construção de uma narrativa que induzisse brasileiros de boa fé para a suspeição do STF, justificada também pelo conjunto de medidas impopulares, e das urnas eletrônicas, criando uma atmosfera adequada para uma reação “dentro das quatro linhas”. Infelizmente, a única medida deste perfil que se sustenta é o cartão vermelho para o adversário que foi negado pelo juiz das eleições, o TSE. Entretanto, a imensa adesão ao discurso das urnas fraudadas surtiu o efeito desejado e conduziu milhares à frente dos quartéis, imbuídos de uma pretensa obrigação cívica de salvar o país da “esquerda bandida”, outra construção bem-sucedida e, sejamos justos, fortalecida pelo histórico do PT, no período entre Mensalão e Lava Jato.


Qualquer manual de golpes, mesmo oriundo das republiquetas das bananas latino-americanas, ensina que a unidade das forças armadas é imprescindível para o êxito da empreitada. Sem isto, não acontece ou rola muito sangue e não constrói unidade nacional. Outra lição importante; redes sociais formam opinião, mobilizam contingentes, mas não são variáveis na equação golpista. Com a postura firme do Exército, logo seguido pela Aeronáutica, a rotina pacífica foi descartada e, como alternativa, se precisava criar um quadro de insubordinação popular, somado ao caos da segurança (vide caso das bombas no aeroporto de Brasília), que justificasse leis especiais de arbítrio e alterasse a resultante eleitoral. Fiasco de novo, bem flagrante pelo abandono do país do líder, como um Jânio contemporâneo, com a mesma estratégia e idêntica frustração.


Neste momento, o Brasil assiste aos últimos capítulos desta trama, é cedo para dar spoiler mas, sem dúvida, a cena final indicará Bolsonaro como um dos vilões desta narrativa.


Bolsonaro venceu, de maneira surpreendente as eleições de 2022. Ancorado por ações extremamente eficientes nas redes sociais, um discurso, ainda que tosco em alguns momentos, profundamente identificado com o sentimento do brasileiro comum que resultou em uma avalanche que destruiu duas máquinas políticas e se impôs como presidente e ícone de uma tendência que, sempre presente, deixou de ser marginalizada e foi assumida majoritariamente pela nação brasileira. Muito mais que a pauta de costumes, foi o ideário conservador que se instalou na alma de milhões de brasileiros.


A leitura do futuro próximo mostra Bolsonaro fora de cena, mas nem isto é capaz de refrear a força das ideias do movimento que ele representou. Ainda que em qualquer eleição brasileira, por conta das regras que mantem a caneta com tinta cheia na mão de um dos postulantes, a reeleição é a opção mais provável, a visão à olho nu indica uma supremacia dos conservadores em relação aos esquerdistas, embora, também fato de domínio público, quem ganha não é quem tem mais votos, mas menos rejeição, considerando a prorrogação em segundo turno.


Lógico que o fator econômico desequilibra o jogo. Economia pra cima ou pra baixo, decide o jogo por goleada, mas, fora deste cenário, 2026 mostra Lula escalado, em constante aquecimento, como se o jogo fosse amanhã, e a direita ainda sem escalação definida. A grande questão é, se depois das necessárias etapas eliminatórias, toda a torcida vai de juntar ao finalista escalado para disputar as finais.


Direita dividida, Lula passeia em 2026 e marca a revanche para 30. Todavia, se o camisa 10 de uniforme conservador, conseguir unanimidade, o resultado é imprevisível, embora, ao final do jogo, Lula saia de cena, aposentadoria por idade, e seu adversário, no Planalto ou nas ruas, é favoritíssimo para 2030 pela incapacidade de Lula de abrir espaço para novas lideranças que possam lhe causar sombra.


Em resumo, o capítulo final das investigações do 8 de janeiro, pode nocautear Bolsonaro, mas só afetará a direita no curto prazo. Ninguém muda de time porque mudou a escalação.



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