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Entendendo a Era Trump ...

Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.


Para o leigo parece tudo igual, todavia meteorologistas sabem bem as diferenças entre furacão e tornados. Enquanto os primeiros são mais longos e atingem áreas muito maiores e podem durar muito mais tempo, tornados são menores, mais rápidos e mais localizados, embora possam ser ainda mais destrutivos. Ainda que sustentado pela teoria, não me sinto seguro para definir quais os efeitos reais da posse do novo presidente americano Trump, de retorno à Casa Branca. É justo afirmar que a temperatura e os ventos sofrerão forte impacto nos próximos meses.




Com profunda identidade com estratégias de negociação e marketing, armas que Trump associa com maestria, como demonstrou no período eleitoral, os recados atravessados, como fortes rajadas de vento, impactaram áreas enormes como o Canadá, Panamá, Groelândia, China ou países em desenvolvimento, como o Brasil. Com receio do potencial destruidor da máquina de poder sob o comando do novo presidente, quase todos esboçaram reações débeis, muito mais preocupados em minimizar atritos do que em contestar as bravatas de Trump.


Com interlocutores fragilizados pela força americana, Trump sabe que agora pode baixar o tom, recado bem dado e assimilado, e liberar a diplomacia para ações mais suaves de ajustes dos mecanismos de comércio e relação entre os países, com os devidos ajustes para garantir ganhos adicionais para o público interno, foco primordial dos interesses do governo Republicano.


Abro um parêntesis para frisar a maior diferença entre democratas e republicanos, focado na prioridade dos primeiros no papel americano de maior potência mundial, intervindo para garantir um cenário internacional mais ameno, os republicanos preferem olhar para dentro, priorizando a economia e o povo americano. Ações intervencionistas apenas se alinhadas com resultados para a economia nacional. Por isto, organismos internacionais, como OMS, OEA, Pacto de Paris e outros, que sempre se inspiram em Robin Hood, fazendo os maiores bancarem ações que, em análise rasa, beneficiam mais os menores, serão minimizados ou mesmo desprezados por Trump.


Feito o registro, é importante frisar que o recuo dos EUA nas ações externas, terá um efeito positivo nos conflitos externos, como já visto na faixa de Gaza. Ninguém, leia-se Ucrânia e Israel, conseguirá financiamento pleno dos americanos para suas demandas e sem sustentação militar e financeira, será muito melhor resolver as questões na mesa de negociação do que nas batalhas de campo.


Por simplificação, é razoável supor que americanos não sustentarão nenhuma causa, guerra ou ação que não os beneficie no curto prazo. Os EUA sob Trump buscam resultados de curto prazo que resultem em ganhos econômicos e renda maior para o povo americano porque ele sabe perfeitamente que estes fatores se sobrepõem a qualquer eventual excesso que cometa porque o bolso cheio sempre atenua julgamentos mais severos.


Esqueçam ações politizadas se sobrepondo às econômicas. Nenhum país terá taxações elevadas porque é de direita ou de esquerda, mas apenas se este excedente implicar em proteção aos produtores americanos. Sem devaneios ideológicos, entender Trump exige que se raciocine com suas prioridades. Definitivamente não tem sobretaxa ideológica, mas serão sempre definidas pelos interesses comerciais e internos dos americanos. Por fim, lembre-se que excesso de taxas protecionistas tem potencial para promover estragos nas taxas inflacionárias americanas, impensáveis no conjunto dos demais parâmetros da economia.   


Dentro deste espírito, o desprezo pela luta climática, sustentabilidade ou qualquer pauta desta área, será contraposta aos estímulos da exploração máxima do petróleo e otimização de todas as potencialidades energéticas, capazes de oferecer resultados ainda dentro da sua gestão, frisando que Trump, já reeleito, exercerá o poder por apenas quatro anos. O mundo de Trump se encerra em 2029 e este é o limite de suas preocupações, a próxima década é problema de seu sucessor e isto estará muito visível em suas ações.


Acredito que o maior impacto mundial da atual gestão esteja na pauta de costumes, com a visão conservadora do governo impondo severas restrições às minorias, especialmente de gênero, em política bem definida numa única frase “a partir de agora, os EUA têm apenas dois gêneros, masculino e feminino”, sempre com a habitual objetividade de Trump.


 Preocupa também a sua leitura, expressa em muitos discursos e ações, de entender a humanidade como dividida em cidadãos de duas classes, a superiora, composta de americanos e ricos de outras nações, e a segunda classe da população do terceiro mundo e nações que alimentam o intenso fluxo migratório para o território americano.


Trump enfatiza, cada vez mais, que “a era de ouro americana começa agora”, tornando definitiva as diretrizes de seu governo, totalmente focado na economia interna, como se as históricas lutas pela igualdade, diversidade, meio ambiente, direitos humanos ou mesmo fome e miséria do planeta, pudessem ser congelados por quatro anos ou devessem se tocadas sem divisão censitária, isto é, com significativa redução das contrapartidas americanas, a maior potência do planeta.


Se você ainda vive seduzido pela visão de uma aldeia global, é melhor repensar e imaginar um palacete com a bandeira americana no centro da nova maquete planetária.

 

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