EMPRESAS FAMILIARES E O CAMINHO PARA O SUCESSO

Por: Kaio Feroldi Motta.

Administrador, Especialista e Mestre em Organizações & Empreendedorismo

A longevidade e o sucesso de empresas familiares (algumas delas, alcançando o patamar de grande porte) são, sem dúvida, testemunhos de uma gestão de excelência e um legado robusto. Contudo, o crescimento não extingue as raízes familiares integrando-as em sua estrutura complexa. O preço disso, contudo, é que a gestão estratégica se torna um desafio: a fusão entre os imperativos do mercado e os laços de parentesco nas corporações familiares gera tensões que, se não administradas com profissionalismo, transformam o legado em obstáculo, minando o desenvolvimento e a perenidade do negócio a longo prazo.

Um dos principais entraves reside na intrusão da dinâmica familiar nas decisões em nível tático e estratégico e, principalmente, nos critérios de profissionalização da empresa. Em muitas dessas organizações, a meritocracia e a competência técnica são limitadas por critérios de parentesco; postos-chave de liderança e gestão são por vezes ocupados por direito de nascença, e não qualificação ou experiência, comprometendo a capacidade da organização ante às inovações do mercado. Essa prática pode não só pode limitar a eficiência operacional, mas também envia a mensagem aos colaboradores de alto potencial de que existe um "teto" até onde o crescimento profissional pode levar, limitando o engajamento e a retenção de talentos.

A dificuldade em separar o pessoal (relações familiares) do corporativo (gestão profissional) culmina em tomadas de decisões emocionalmente carregadas ou voltadas para atender aos interesses particulares (ainda que inconscientemente). Em um ambiente de negócios, com stakeholders diversos e requisitos de compliance rigorosos, o limitador do profissionalismo na gestão de recursos e na definição de fronteiras pode impactar diretamente a governança corporativa.

Para não correr tal risco, a profissionalização da gestão e a implantação de uma Governança Corporativa robusta são imperativas. Isso implica, sobretudo, na distinção clara entre a propriedade, a família e a gestão. Ao garantir que a estratégia da empresa seja definida por critérios estritamente técnicos e profissionais, e que a liderança seja exercida pelos mais competentes, a empresa se blinda das tensões internas e se mune para competir de igual para igual no mercado globalizado.

O desafio da gestão estratégica nas empresas reside, essencialmente, em conciliar o valioso legado familiar com as exigências de uma administração corporativa moderna que reconhece o passado, mas visa o futuro. Ainda que os laços de parentesco forneçam uma base de confiança e valores compartilhados (e de fato fornecem), eles não podem ser critério para a ascensão profissional e a tomada de decisões. É fundamental que as empresas reconheçam as barreiras que o excesso de pessoalismo e a intrusão familiar impõem ao seu desenvolvimento, adotando modelos de governança que assegurem a meritocracia e a competência técnica como pilares estratégicos. Somente assim, poderão garantir a continuidade do sucesso.