Descansar dá trabalho

Christina Faggion Vinholo, teóloga. Especialista em AT e NT

Descansar, de verdade, dá trabalho. Não falo do repouso físico que se conquista com um travesseiro macio ou uma rede à sombra. Falo daquele descanso profundo, que envolve alma, mente e coração — e que tantas vezes parece nos escapar justamente quando mais precisamos dele. Sei disso por experiência. Há noites em que acordo exausta, mesmo sem ter terminado de dormir. O corpo deita, mas os pensamentos continuam de pé. A alma vigia, angustiada, tentando entender o que não tem resposta imediata.

São preocupações que aparecem sem pedir licença, medos que sussurram no escuro, inquietações com o futuro dos que amamos. Nessas horas, faço o que aprendi ao longo dos anos: volto meu coração para Deus. Oro. Entrego. Respiro fundo. Peço proteção, consolo, clareza. E ainda assim, muitas vezes, o alívio não é instantâneo. Não há uma chave que se gira e de repente tudo se aquieta. O descanso da alma não vem com facilidade. Ele exige esforço. Exige fé.

E que fé! Uma fé que não nasce da vontade humana, mas é dom de Deus. Fé para confiar mesmo quando não vejo. Fé para me entregar mesmo sem entender. Fé para descansar não nas circunstâncias, mas na certeza de que Ele reina. Descobri que descansar exige uma entrega incondicional. E nem sempre consigo. Às vezes falho. Às vezes me sinto fraca.

Mas é justamente aí, nesse ponto de exaustão, que me lembro das palavras do apóstolo Paulo: “Quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Coríntios 12:10). E por quê? Porque o poder de Deus não precisa da nossa força. Ele se aperfeiçoa na nossa fraqueza. Que alívio saber que o descanso real não depende do quanto eu aguento, mas do quanto Deus sustenta.

Descansar, então, é um ato de fé. Não um sentimento passageiro, mas uma decisão firme de lançar sobre Deus tudo o que pesa — porque Ele cuida de nós (1 Pedro 5:7). É um movimento intencional de abandonar o controle que nunca tivemos de fato e confiar nas promessas que jamais falham. E isso, sim, dá trabalho. É o tipo de esforço que vai contra a lógica do mundo e da carne. Por isso, Jesus nos disse que o Reino de Deus é tomado por esforço, e são os “violentos” — os determinados, os que não desistem — que o alcançam (Mateus 11:12). Ele não falava de mérito ou salvação por obras, mas de uma postura ativa, um coração que luta para se submeter à graça.

Em um mundo onde tudo nos convida ao cansaço e à ansiedade, descansar em Deus é quase um ato de rebeldia santa. E, mesmo sendo trabalhoso, é o caminho da vida. Descansar é, no fim das contas, voltar sempre para aquele lugar onde sabemos que somos amados, guardados e sustentados. É lembrar, como diz o salmista, que “em paz me deito e logo adormeço, porque só tu, Senhor, me fazes viver em segurança” (Salmo 4:8).

E você? Tem descansado de verdade? Ou só tem se deitado? Que hoje, mais do que nunca, você escolha o trabalho bom de descansar — não por força, nem por entendimento, mas por fé. Porque o nosso Deus nunca dorme. E cuida de tudo, até quando a gente não vê.

Boa noite. E descanse.

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