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Decifrando o 8 de janeiro. Capítulo 2; o roteiro.

Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.


Estabelecido o paralelo entre o nosso 8 de janeiro e a invasão do Capitólio americano, é necessária uma contextualização do ambiente brasileiro anterior aos fatos, enfatizando que foi a eleição mais odiosa da história republicana brasileira, com polarização excessiva que resvalou para o ódio latente entre as torcidas e deixou sequelas profundas na política nacional.


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Foi a primeira tentativa infrutífera de reeleição, algo inédito porque as regras brasileiras favorecem todo aquele com a caneta no exercício do poder, pela intensa concentração de poder e possibilidades a serem utilizadas como moedas de troca com as forças políticas.


Nosso modelo impõe uma corrida a favor no primeiro tempo, com o candidato à reeleição buscando capitalizar seu prestígio e o índice de aprovação do governo em votos, como se fosse uma conta de chegada, se atingir a metade, fecha a conta no primeiro turno. Quando isto não ocorre, há uma inversão de valores porque o mais importante, na disputa mano a mano, é o desejo de impedir a vitória de um dos nomes, com imensa superioridade da importância da rejeição em detrimento à escolha do preferido.


Esta leitura permite entender o desvirtuamento do nosso processo eleitoral, onde ser o “menos ruim” é mais importante do que ser o melhor, até pela falta de critérios racionais do eleitorado, facilmente conduzido por razões emocionais, logo suscetível a narrativas, lendas e fakes, habilmente utilizadas pelo marketing das campanhas. Logo, ainda mais rentável que endeusar o seu candidato, é demonizar o adversário, criando um ambiente quase religioso onde se desenha um duelo entre o legítimo representante dos céus, sempre o nosso escolhido, contra o candidato das trevas, o demônio que chega para destruir as instituições e implantar o caos em nossas terras. Ambiente perfeito para polarização e potencialização do ódio como tempero adequado para inflar as torcidas.


Este contexto, onde os raros holofotes são dirigidos apenas aos polos mais radicais da disputa, impede qualquer possibilidade de crescimento de um nome diferente. Terceira via nem mesmo com Jesus Cristo como candidato porque nem seria ouvido e suas ideias seriam solenemente ignoradas, inclusive por não gerar expectativa de divisão do botim governamental e, como todos sabem, o banquete do poder também não oferece refeição grátis.


Por economia léxica, evitarei detalhes do processo eleitoral, me limitando ao ambiente posterior, evidentemente fruto de uma disputa até o último voto, diferença inferior a 2% dos votos válidos, mas cumpre realçar a evolução do clima de contestação criada, durante toda a segunda metade da gestão, vendendo com vigor a ideia de que o único resultado possível era a vitória do então presidente, restando apenas a hipótese de fraude para a vitória da oposição. Como qualquer mentira repetida milhões de vezes, a “nova verdade” se estabeleceu na mente e na alma dos convertidos. Sem que jamais qualquer investigação consistente, inclusive contratada pelos partidos derrotados e pelas forças armadas, tenha encontrado um único indício, a metade da população assumiu a adulteração das urnas como fato inquestionável.


Foi a etapa mais importante do necessário clima de contestação dos resultados, seguida das ações propostas pelas lideranças, como o acampamento nos quartéis, como um recado implícito que a população pedia e aprovava uma solução militar como antídoto ao resultado das urnas. Pedir intervenção federal ou militar virou mantra espalhada pelo país, com reforços patéticos de todas as esferas, com intensa produção de fakes e narrativas que seguiam uma estratégia quase transparente; preparar o ambiente para uma virada de mesa, com evocação do precedente histórico de 1964 e até da reação americana do ano anterior.


A despeito destas questões, a diplomação e a posse ocorreram dentro da calmaria possível, sem nenhuma reação contundente, com a ausência do ex-presidente, já abrigado provisoriamente em território americano, e com pequenos toques de normalidade democrática na transição e na singela declaração de transmissão do cargo.


Acho fundamental, neste momento, uma breve descrição do dia da infâmia que amanhece com a Esplanada dos Ministérios com segurança reduzida, apesar de alertas preliminares de órgãos de inteligência que identificaram a chegada maciça de manifestantes nos dias anteriores. O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), e seu secretário de segurança, Anderson Torres (ex-ministro da Justiça de Bolsonaro), haviam garantido que a situação estava sob controle e foram acompanhados pelos órgãos de segurança nacional. Talvez um quadro de omissão culposa que atendia interesses escusos de ambas as partes?


Embora a eclosão dos fatos tenha ocorrido no início da tarde, inúmeras testemunhas atestam que, desde cedo na caminhada do quartel até a Esplanada, paus e pedras eram comuns nas mãos dos manifestantes, inclusive com imagens de algumas pessoas usando máscaras de gás, indicando que a possiblidade de acirramento do clima era real e amplamente admitida na massa de manifestantes.


Por volta das 15 horas, milhares de manifestantes rompem as frágeis barreiras e, talvez com algum método, se dividem em três grupos, respectivamente dirigidos ao STF, Palácio do Planalto e Congresso, sendo este último, mais vulnerável, o primeiro a ser invadido, com ampla destruição de móveis, equipamentos e obras de arte.


Em seguida, o Palácio do Planalto é vandalizado, com a invasão do térreo até os andares principais, segundo e terceiro, com destruição de obras de arte de valor inestimáveis. O STF foi o alvo seguinte, cronologicamente quase simultâneo, onde as reações odiosas foram mais explícitas e cenas icônicas foram registradas.


Sem dúvida, por algumas horas, foi um ambiente de guerra com ataques aos policiais e aos jornalistas presentes e com a reação tardia dos órgãos de governo. A Polícia Militar do DF começa a agir apenas no final da tarde, como se tivesse convocado uma assembleia para decidir o que fazer naquele momento e até o Exército, através do BGP (Batalhão do Guarda Presidencial) demorou demais para reagir de maneira efetiva.


Por uma coincidência ainda a ser explicada, ninguém estava em Brasília (férias, viagens teve de tudo para justificar as ausências), com o Presidente eleito em viagem para Araraquara, fato inquestionável porque amplamente documentado, decretando Intervenção Federal em Brasília apenas às 18 horas, dessa forma, com o reforço da Força Nacional e da Policia do Exército foi possível expulsar os invasores, resultando em prisões em massa em flagrante, com condução para a Academia Nacional da Polícia Federal em Brasília.


Encerrada a breve descrição dos fatos, nos próximos capítulos dedicaremos maior atenção às questões cruciais, as respostas inquestionáveis e as dúvidas persistentes dos fatos do 8 de janeiro.

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