CRISE
- Célio Juvenal Costa

- 29 de jan.
- 2 min de leitura
Célio Juvenal Costa, professor da UEM
Normalmente associamos crise a coisas ruins. Crise na economia, crise na política, crise na escola, crise psicológica, crise financeira, crise existencial... enfim, quase todas as vezes que nos referimos à crise é negativamente. Portanto, evitamos ao máximo entrar em uma crise. Não gostamos e não queremos ter crise e com ela conviver. Mas, a maioria delas não são desejadas e nem provocadas intencionalmente, mesmo aquelas geradas por uma mente com problemas, pois elas nunca são intencionais ou racionalmente planejadas. Ou seja, a crise vem sem ser convidada... No entanto, há aquelas que, na minha opinião, não devem ser evitadas, não devem ser cortadas. Devem, sim, ao contrário, ser vivenciadas, especialmente aquelas pessoas que nos levam a repensar nossas convicções.

A crise, quando é vivenciada e não silenciada, abre um caminho para o autoconhecimento. Caminho difícil, é verdade, com dores, sofrimento e angústia, mas um caminho que se abre e que deve ser trilhado. O problema é que não é um caminho curto, breve, pelo contrário, e isto, num mundo em que a gente quer resolver tudo rapidamente, só torna as coisas mais difíceis. A crise normalmente expõe aquilo que não queremos ver, que nos incomoda, que nos traz angústia, dúvidas e tristeza. Nós queremos sempre ser felizes, sempre nos realizar nas nossas relações, sejam pessoais ou profissionais, e estamos certos de queremos, de buscarmos isto; no entanto, há momentos em que é necessário pararmos um pouco e tentarmos ouvir o nosso íntimo. A crise pode ser justamente isto: a necessidade de ouvir atentamente nosso eu interior e avaliarmos a situação em nos encontramos.
A crise, assim, não deve ser evitada, não deve ser camuflada e não deve ser anestesiada. Deve, sim, na minha opinião, ser encarada. A depender de como encaramos estes momentos difíceis, saímos mais inteiros, saímos mais nós mesmos. Pode ser uma caminhada lenta, cansativa, angustiante, mas, depois, o caminho se torna mais denso, mais confiável, porque nós nos tornamos mais fortalecidos. Se a crise vier vamos vivê-la, afinal, não é toa que os gregos, em sua sabedoria, cunharam a frase que foi eternizada por Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo", que é tão fácil de entender, mas tão difícil de realizar...
Nos meus vários anos de docência eu sempre falei para as minhas turmas de Filosofia da Educação para o curso de Pedagogia que meu objetivo, como professor, é que as alunas e o alunos entrassem em crise. Minha preocupação nunca foi simplesmente que tirassem boas notas, mas que se deixassem levar pelas reflexões feitas em sala de aula para, quem sabe, colocarem em dúvida certas convicções que trazemos da adolescência. Colocar em dúvida convicções é se permitir a crise, se permitir confrontar com coisas novas que eram apresentadas. Mas, ao contrário das notas, não há como mensurar a crise nas pessoas e, portanto, nunca saberei ao certo a quantidade de meus alunos e de minhas alunas que se permitiram confrontar suas convicções. O que posso afirmar com certeza é que eu próprio, em todos esses anos, entrei em crise algumas vezes e, a partir de todas elas, me fortaleci como profissional e, especialmente, como ser humano.
Meu Instagram: @costajuvenalcelio
Obs: Esta é uma versão revisada e atualizada de um texto originalmente publicado no blog: devaneioseoutrasreflexões.blogspot.com.














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