A Era do Chefe ‘já era’! Gerenciar pessoas é cuidar de talentos; o cuidado com a empresa é consequência.
- Kaio Feroldi Motta

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Por: Kaio Feroldi Motta.
Administrador; Especialista em Gestão Hospitalar; Mestre Organizações & Empreendedorismo.
“A vida é Trem-Bala, parceiro”. A canção de Ana Vilela, escrita em meados 2016 nos convida a refletir sobre algo que é uma unidade em termos de certeza: a vida está passando (e rápido); ocorre que isso vale também para a nossa vida profissional. Ao contrário da música, que trata das conquistas e vivências pessoais, quero abordar nas próximas linhas um assunto que muitos talvez ainda não tenham se dado conta: o ambiente profissional (ou mundo corporativo, ou mercado de trabalho – tanto faz como você o queira chamar) também é ‘Trem-Bala’. O modus operandi, as exigências, obrigações, responsabilidades e afazeres em geral mudam diuturnamente, mas uma, em especial, tem sido mais significativa nas últimas décadas; estou falando da transformação na figura de autoridade dentro das organizações.
A era do ‘chefe’, aquele que comandava de cima para baixo, focado estritamente em processos, rotinas e metas nem sempre claras para o nível inferior da hierarquia, está definitivamente chegando ao fim (em algumas empresas, a finitude já chegou há um bom tempo). Em seu lugar, emerge o líder, uma figura cuja prioridade se desloca do controle rígido para o cuidado e o desenvolvimento do talento humano, mantendo-se a firmeza necessária para o cumprimento das metas da organização, mas sem se esquecer do fator humano. Não se trata de um mero modismo de gestão, mas sim de um imperativo estratégico para a sobrevivência e o sucesso sustentável no dinâmico mundo empresarial da atualidade.

A transição de um modelo baseado em comando e controle para uma liderança empática e orientada ao desenvolvimento individual é a chave para desbloquear o verdadeiro potencial de uma equipe, que perdure a longo prazo. Não importa o nome do cargo (se coordenador, supervisor, encarregado, gerente, diretor ou algo do tipo): no passado, o gestor se preocupava em cumprir as ordens vindas de cima, com os Indicadores-Chave de Desempenho (os ‘KPIs’) e em cumprirem estritamente as práticas operacionais. O ser humano era visto, muitas vezes, como uma das peças na engrenagem organizacional. Hoje, entretanto, a rigidez dos processos só se torna verdadeiramente produtiva quando impulsionada por profissionais engajados, inspirados e, acima de tudo, cuidados. O líder moderno (que não apenas dá ordens e pune, mas que ensina o porquê de cada etapa da rotina e acompanha humanamente sua execução) entende que sua principal função é catalisar o crescimento de cada indivíduo sob sua tutela. Uma espécie de professor empresarial.
Essa mudança de foco está diretamente ligada à atração e retenção de talentos, um dos temas mais críticos da gestão contemporânea. Em um mercado de trabalho globalizado e altamente competitivo, o salário por si só já não é suficiente (e, sabendo disso, surgem cada vez mais os chamados benefícios: vale alimentação, day off no aniversário, bonificação por atingimento de meta, 14º salário e tantas outras ideias que tem sido analisadas e implantadas em empresas ao redor do Brasil e do mundo). Mas, isso também não retém talentos (ajuda, mas não é ponto crucial para a retenção). Os profissionais de alto desempenho, especialmente as novas gerações, buscam ambientes onde se sintam valorizados, onde seu desenvolvimento seja prioridade e onde haja um sentido de propósito (um ‘porquê’ bem delineado de ter que cumprir determinada tarefa). Um gestor que age como líder, investindo tempo na orientação e no bem-estar de sua equipe, transforma o local de trabalho em um ímã para os melhores profissionais, melhora o clima organização, ajuda na criação de uma cultura voltada à valorização das pessoas e garante que o conhecimento e a experiência permaneçam dentro da empresa.
Antes, o foco exclusivo na empresa implicava a crença de que, se os procedimentos fossem seguidos à risca, os resultados seriam garantidos. A falha era frequentemente atribuída ao desvio da regra, e não à falta de engajamento ou motivação. Atualmente, o líder de sucesso compreende que o fator humano é o combustível mais crucial. É o profissional que, ao se sentir como parte integrante, respeitada e em crescimento contínuo, entrega resultados mais robustos e consistentes, elevando os KPIs da organização a patamares estimados de forma orgânica e duradoura. É fundamental esclarecer que, ao defender que o verdadeiro líder deve cuidar cada vez mais das pessoas até mesmo do que da própria empresa, não se está relegando a organização a um plano secundário. Pelo contrário, o cerne da questão é que o profissional que é acompanhado, orientado e zelado pelo líder passa a internalizar e a se comportar como a própria empresa. Esse alinhamento gera um ciclo virtuoso: o bem-estar e o desenvolvimento do colaborador resultam em maior produtividade, inovação e fidelidade, o que, inevitavelmente, beneficia a saúde e o sucesso da organização de maneira exponencial.
Assumir a postura de líder, ao invés de se contentar com o papel de chefe, impõe maiores responsabilidades, mas traz recompensas incomparáveis. Não se trata de transformar o líder em um agente sindical ou representante de classes; o foco é mais pragmático e estratégico. A experiência profissional que adquiri liderando pessoas ao longo de mais de uma década, aliada à vida acadêmica (com estudos na graduação, pós-graduação e mestrado) demonstraram-me que a preocupação genuína com o capital humano – com seus anseios, necessidades de desenvolvimento e bem-estar – é o que gera melhores resultados para o próprio indivíduo, para a equipe e, consequentemente, para os indicadores da empresa ao longo do tempo. O líder investe na pessoa, sabendo que a pessoa investirá de volta na empresa. Em suma, a transição para a liderança empática e focada no talento não é apenas um modismo, mas uma tendência estratégia de negócios cada vez mais indispensável. O chefe que apenas cobra processos não se sustenta sequer a médio prazo; o líder que inspira, desenvolve e cuida das pessoas é quem garante a atração e retenção dos melhores talentos e, consequentemente, a excelência e perenidade da organização na atualidade.















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