Por: Marcio Nolasco - Analista de Políticas Públicas

Plano do Ministério da Economia prevê desvincular o reajuste do salário mínimo e das aposentadorias do índice da inflação, o que abre caminho para que os benefícios sofram ainda mais desvalorização.
ESSE VAZAMENTO CAI COMO UMA BOMBA NA CAMPANHA DO SEGUNDO TURNO CONTRA BOLSONARO E SUA EQUIPE DE CAMPANHA!
O ministro da Economia, Paulo Guedes, confirmou nesta quinta-feira (20) que o governo Bolsonaro pretende desvincular o reajuste do salário mínimo e de aposentadorias à inflação do ano anterior. Na nova regra, o piso “considera a expectativa de inflação e é corrigido, no mínimo, pela meta de inflação”.
Se isso ocorrer, a desvinculação do reajuste da inflação oficial, será o maior arrocho salarial e de aposentadorias de todos os tempos, já que a inflação está na casa do dos dígitos.
O salário mínimo no governo Bolsonaro já está há quatro anos sem nenhum reajuste acima da inflação. E note-se que inflação de alimentos é muito maior do que a inflação oficial. O trabalhador já vem perdendo poder aquisitivo. O que Bolsonaro quer é reduzir ainda mais.
A proposta do Ministério da Economia foi revelada pela Folha de S.Paulo na quarta-feira (19) e, segundo a reportagem, seria divulgada logo após a reeleição de Bolsonaro. Segundo trecho da reportagem, “o salário mínimo deixa de ser vinculado à inflação passada”.
Assim que a notícia veio a público, o comando da campanha de Bolsonaro ficou em polvorosa e mandou o ministro arranjar um desmentido. Não era para abrir o jogo sobre o arrocho antes do segundo turno. Guedes, então, disse que a proposta não estava “na mesa”. O que ele fez foi tirar da mesa e colocar na gaveta para não “atrapalhar”.
Não há surpresa com essa proposta. Depois de manter os servidores públicos sem reajuste real durante quatro anos, a proposta do ministro de Bolsonaro não é nova e é defendida desde o início do governo. “Esse tópico foi analisado no plano 3Ds [desvincular, desindexar e desobrigar]”, disse Guedes ao defender, em entrevista no Rio de Janeiro, o assalto a 75 milhões de trabalhadores e jogar no lixo uma das grandes conquistas garantidas na Constituição de 88, que afirma que nenhum benefício pode ser inferior ao salário mínimo.
Segundo Paulo Guedes, a mudança pode ser incluída no texto da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para estender o pagamento do Auxílio Brasil no valor de R $600 que só vale até as eleições, ou dezembro deste ano. Ou seja, ele inclui um golpe nos salários na proposta de extensão do auxílio.
Críticas de Meirelles
As declarações de Paulo Guedes causaram repercussão imediata nos círculos político e econômico. O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles, em mensagens publicadas em sua conta no Twitter, criticou a proposta – ele foi o criador do teto de gastos, durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).
“Ao propor uma reformulação do teto de gastos alterando a forma de corrigir o salário mínimo e os benefícios previdenciários, o plano fiscal do atual governo para um próximo mandato joga nas costas da população a conta pelas medidas eleitoreiras deste ano”, escreveu Meirelles.
“Para o governo, isso permitiria acomodar os R$ 100 bilhões adicionais de gastos criados em meio ao esforço eleitoral que estão fora do Orçamento. E criaria um ‘freio’ no crescimento das despesas atreladas ao salário mínimo. A população mais pobre receberia menos para pagar pelas medidas eleitoreiras”, completou o ex-ministro.
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