Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.
O estopim para esta postagem foi alguns vídeos que vi nesta semana com pastores “pregando”, um deles ensinava como “criar uma filha” e outro afirmava que “crianças abusadas também tem culpa”. Para não ser discricionário, sinta-se à vontade para incluir os inúmeros abusos de padres da Igreja Católica em repetidas e pouco punidas situações. Levanto a questão não para debater religião, mas para afirmar que não se pode misturá-la com política.

Para simplificar e ser direto logo no início; Deus não pede voto para ninguém e nada confirma que alguém vinculado a qualquer igreja seja mais preparado para representar o povo ainda que seus valores religiosos possam realmente ser indícios de qualidades pessoais e de bom caráter. Mas, como toda qualquer atividade humana, dentre os religiosos também existem os bandidos de Bíblia na mão.
Absolutamente ninguém tem procuração registrada no Céu para representá-los na terra, embora muitos queiram vender esta impressão e até a insinuem. O mais grave é que é sempre crescente o número de pessoas, de pouca cultura e muita fé, que os entendem como intermediários da vontade de Deus e gastam recursos que não possuem para comparar indulgências de toda a ordem. Lógico, que o dízimo precisa ser integralmente respeitado, nas suas mais diversas formas, peculiar a cada igreja, porque elas precisam se manter e isto é lícito e necessário.
A Simonia, ato de vender favores divinos, atividade próspera da Idade Média segue praticada indistintamente por membros das mais variadas denominações religiosas, sempre com a complacência das autoridades políticas e policiais, sob o manto da impunidade das igrejas. Mas, no Brasil, país das falcatruas, logo estes aproveitadores perceberam que seu domínio sobre seus seguidores se traduzia em votos suficientes para bancar a aproximação com o poder e garantir ainda mais ilicitudes e recursos patrimoniais, basta checar rapidamente o patrimônio pessoal destes falsos profetas.
É preciso romper este silêncio cúmplice dos formadores de opinião que evitam falar de religião, como se fosse pecado. Não é, mas talvez a omissão o seja. A sociedade não pode e não deve assistir calada tanto uso indevido da fé. A coragem e a independência são atributos indispensáveis para quem tem a responsabilidade de informar e formar opinião.
Direto ao ponto, mais uma vez; como qualquer segmento social, é muito natural que religiosos se aproximem da política, emitam opinião e até disputem as eleições, mas que o façam sem o uso indevido da religião e do nome de Deus como cabo eleitoral. Deus, em todas as religiões é o mesmo para todos e trata todos como filhos, sem distinção.
Acho que precisamos escancarar o óbvio; a venda de apoio de religiosos, cada vez mais frequente, que nos afronta e nos inibe de falar com todas as letras; religiosos não tem o direito de vender votos de seus fiéis, ainda que milhares deles, por fé ou ignorância, os obedecem como ordem divina.
Meu pai, que foi político por toda a vida, sempre afirmou que políticos não podem ir à igreja discursar e padres não podem ir aos palanques rezar. Deveria ser o óbvio, mas o apelo fácil dos currais eleitorais religiosos alterou esta regra de decência e ética. Não dá mais para a sociedade se calar diante de tanta negociação em nome de Deus.
Nada contra pastores ou padres candidatos, muitos deles merecem realmente ser votados, mas se o fizer, vote porque ele será um bom representante da população e não um enviado de Deus para a política.
É hora de dar um basta nesta hipocrisia. Deixo a minha contribuição mínima, com o desejo de que milhares de vozes se levantem e restaurem a dignidade na interface política e religião, em especial aqueles que atuam na área de comunicação.
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