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Razões e Emoções em Divertidamente

Em 2015 eu e minha filha, ela então com 13 anos, fomos assistir a animação Divertidamente, produção dos Estúdios Pixar, e até aquele momento se tornou o filme que nós dois demos nota dez. Passados nove anos, eu e ela fomos assistir Divertidamente 2, e novamente demos a nota dez. Os dois filmes sobre as emoções da personagem Riley, no primeiro ela menina e no segundo entrando na adolescência, além de serem tecnicamente ótimos (somente uma cena de 15 segundos demorou três meses para ficar pronta!!), são de uma sensibilidade que, ao trabalhar com as emoções, despertam outras tantas nos expectadores.

  

 

No primeiro filme somos levados à constatação de que a tristeza é uma emoção tão importante quanto a alegria na vida de uma criança, além, é claro, do nojinho, da raiva e do medo. No segundo somos apresentados às novas emoções: ansiedade, tédio, vergonha e inveja. No primeiro, a alegria busca controlar a vida da Riley, não admitindo que ela pudesse passar por momentos de tristeza; no segundo, a ansiedade é uma protagonista, que não admite que a Riley possa se sentir frustrada.

 

Outro aspecto relevante nas duas animações é sobre como são representadas as memórias e como elas têm papel fundamental na vida da Riley. A personalidade dela vai sendo formada pelas ilhas que vão se construindo na sua vida: na infância, as ilhas da família, da amizade, do hóquei, da bobeira; na adolescência, as ilhas do romance, das boy bands, da moda. Quando as novas ilhas da memória vão se formando, as anteriores vão perdendo a importância, e algumas deixam de existir.

 

Bem, não quero aqui repetir as análises que já foram feitas sobre esta animação, pois o leitor interessado pode encontrá-las, vastamente, na internet. O que quero chamar a atenção é sobre a forma como as emoções são apresentadas e, por conseguinte, como a própria consciência, e o inconsciente, são representados, e é o que mais me fascina nas histórias. Os sentimentos de uma criança, de um adolescente e, é claro, de um adulto, não são lineares, e todos eles compõem e são importantes na formação da pessoa, especialmente aqueles que não gostamos muito de sentir. De todos os sentimentos aos quais somos apresentados nos filmes, talvez o único que gostaríamos de sentir e que, normalmente, temos como positivo, é a alegria. Na nossa vida sempre buscamos a felicidade, seja nas relações, no trabalho, nos momentos de bobeira. Todos os outros sentimentos apresentados nas animações têm o seu lado negativo e, normalmente, tentamos evitá-los, como a tristeza, a raiva e a inveja, por exemplo. Especialmente na nossa sociedade cada vez mais hedonista queremos jogar para debaixo do tapete sentimentos que nos fragilizam, nos imobilizam, nos deprimem.

 

O problema é que não adianta tentar escondê-los, pois sentimos todos eles e eles fazem parte do que somos. Na nossa sociedade que por um lado busca freneticamente a felicidade, a realização, a riqueza, por outro as doenças associadas à depressão são consideradas epidemias mundiais. Reprimir os sentimentos não é eliminá-los. Eles não desaparecem. Eles voltam, de forma mais incisiva, e nos jogam na cara que somos frágeis sim, que somos compostos por contradições, por não-linearidades, porque somos humanos, demasiadamente humanos.

 

As animações Divertidamente e Divertidamente 2 podem nos mostrar que todos os sentimentos têm a sua devida importância e todos eles podem servir para, ao mostrar nossa fragilidade, nos fortalecer. Em certos momentos de nossa vida sentimos raiva por razões que merecem nossa indignação; sentimos tristeza por razões que estão fora de nosso domínio, ou porque criamos expectativas demais; sentimos nojo por razões que merecem o asco, sejam pessoais, sejam sociais ou mesmo políticas; sentimos ansiedade por razões ligadas a esperanças que nutrimos por alguma coisa; sentimos inveja por razões de querermos ser melhores do que somos, e assim por diante.

 

Talvez algo que podemos fazer é tentar descobrir as razões de nossas emoções. Esta tarefa com certeza não é fácil, assim como viver, por vezes, não é fácil. Voltando ao Divertidamente, minha filha e eu torcemos para que a Pixar nos brinde com as emoções da Riley na juventude, na vida adulta e na velhice. E, tomara que não demore tantos anos assim...

 

 

Meu Instagram: @costajuvenalcelio

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