Por: Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.
Seria a medieval cultura machista que faz o legislativo tirar o foco dos criminosos e optar por penalizar as mulheres, vítimas da atrocidade do estupro?
A odiosa penalidade proposta evoca a insanidade do receituário machista; vestiu minissaia, decote baixo ou sorrisos nos lábios significa admitir a possibilidade do assédio? Serão punidas porque o bicho macho não é obrigado a saber que não é não?
Exigirão que as mulheres e as crianças, reajam contra os agressores, os imobilizem e os levem até a Delegacia mais próximas. Estas “bandidas” adolescentes que não souberam se defender de adultos asquerosos e doentes serão mesmo culpadas pelo estupro e pela gestação indesejada, principalmente por evocar a imagem que, por toda a vida, tentarão esquecer?
Talvez seja apenas pensando em ampliar a vitrine política porque a polarização tem cúmplices fiéis na sociedade?
Por fim, aponto para a busca pelo aplauso fácil, a necessidade de lacrar, subprodutos da deturpação da aplicação indevida dos instrumentos digitais disponibilizados, como motivadora deste debate que ofende a sensibilidade e a coerência.
Deprime ver as igrejas que não sabem punir padres e pastores pedófilos se aliar para condenar crianças que não sabem se defender. Padre e pastor tem perdão, compreensão, tratamento e transferência para pecar em outros rincões, mas as pobre e negras precisam servir de exemplo na inquisição moderna que substituiu a fogueira pela cadeia.
Acredito que são fatores convergentes que se somam à desinformação e a postura leviana de poupar a elite e penalizar a classe baixa.
Os números são inquestionáveis; mais de 70% das vítimas são crianças até 13 anos, negras e pobres! Os números estão disponíveis, mas a cegueira seletiva e a urgência em assumir pautas que os coloque nos trend topics da insanidade impede uma avaliação serena e despolitizada.
Estarão melindrados porque a elite contemporânea perdeu o privilégio da “pernada” que os senhores feudais e os donos de engenho detinham como soberanos dos corpos das meninas das senzalas e das aldeias dos serviçais? Todos eles, senhores das terras e do engenho, agora transformados em excelências continuam protegendo o capataz criminoso e enjaulando as vítimas em pelourinhos modernos.
É hora de cessar a hipocrisia. A filha do doutor vai no dia seguinte ao exame na clínica luxuosa, atendida por equipe médica e com toda a segurança da medicina moderna, a garota negra e favelada precisa ir à delegacia, fazer perícia, esperar a fila do SUS, solicitar autorização e esperar o agendamento.
Se o peso da incompetência e da burocracia superar 22 semanas, a vítima terá pena dobrada em relação ao criminoso, numa inversão odiosa de valores.
É a eternização da cultura colonial que criava leis para sustentar privilégios em um país que surgiu sob o manto da exploração da mão de obra escrava, negra e indígena, que, em tempos modernos, aponta o dedo para favelados e renegados.
Claro, porque pobre faz aborto, mas rico tem apenas “interrupção circunstancial da gravidez”.
Vamos ser objetivos; o debate não é sobre o aborto. Tudo que se discute já está definido na Constituição, com as consagradas exceções em que se pode interromper a gravidez. O debate versa sobre filigranas como prazos e datas e se estende ao abuso de tentar punir vítimas com o dobro da pena dos criminosos.
Peço licença para assumir o grito feminino que indaga qual a lei que interfere nos corpos masculinos, para sugerir que se altere a PL, ora em discussão.
Por que não PL da castração química para punir o criminoso?
Maldita sociedade hipócrita que joga para debaixo do tapete seus crimes e se concede o direito de proteger os fortes e punir os pequenos.
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