O perigo de um cristianismo político e a identidade evangélica em jogo
- Gedeon Lidório
- 24 de abr.
- 3 min de leitura
O cristianismo evangélico sempre teve um papel significativo na formação de valores e na organização social de seus fiéis. No entanto, nos últimos anos, um fenômeno tem chamado a atenção: a crescente fusão entre a identidade evangélica e uma agenda política específica, especialmente entre imigrantes brasileiros nos Estados Unidos. O apoio incondicional a políticos como Donald Trump e a adesão a uma ideologia nacionalista tem levado muitos evangélicos a redefinir sua identidade religiosa não mais pelo evangelho da compaixão, mas por um alinhamento político.

Quando o cristianismo passa a ser um movimento político?
A fé cristã sempre influenciou o comportamento social e político de seus seguidores. No entanto, existe uma diferença fundamental entre a influência moral do cristianismo na sociedade e sua conversão em um movimento político estruturado. O que acontece quando a identidade evangélica deixa de ser definida pela fé e passa a ser moldada por uma ideologia política?
Substituição de valores essenciais: Muitos evangélicos agora priorizam pautas políticas em detrimento dos princípios do Evangelho. O amor ao próximo e a justiça social são frequentemente sacrificados para defender agendas partidárias.
O papel das lideranças religiosas: Pastores e líderes evangélicos se tornaram influenciadores políticos, usando os púlpitos não apenas para pregar a Palavra, mas para promover partidos e candidatos específicos.
Demonização do oponente: Aqueles que pensam diferente são frequentemente rotulados como "inimigos da fé", tornando o cristianismo um campo de batalha ideológico em vez de um caminho espiritual.
Com esse deslocamento, o cristianismo passa a ser visto não como um movimento de transformação interior, mas como uma estrutura de poder e controle.
Como isso pode afetar a identidade evangélica entre imigrantes brasileiros?
Para os brasileiros que emigraram para os EUA, a igreja evangélica tem sido um pilar de apoio e identidade. No entanto, com a crescente politização da fé, essa identidade está se transformando de maneira preocupante:
Adoção de uma mentalidade excludente: Muitos imigrantes evangélicos, ao se alinharem com políticas antimigratórias e nacionalistas, acabam se distanciando de seus próprios compatriotas que ainda vivem em situação irregular.
Perda da autonomia crítica: O pensamento crítico dentro das igrejas é frequentemente desencorajado, e a fé passa a ser utilizada como um instrumento de obediência política.
Divisão da comunidade: Ao se tornarem espaços polarizados politicamente, muitas igrejas deixam de ser locais de acolhimento e passam a ser ambientes de conflito ideológico.
Esses fatores ameaçam a capacidade da igreja de cumprir sua missão original de acolher, ensinar e transformar vidas com base no Evangelho, e não em plataformas políticas.
Exemplos históricos da fusão entre religião e política
A politização da religião não é um fenômeno novo. Ao longo da história, houve vários momentos em que a fusão entre cristianismo e poder político resultou em consequências devastadoras:
O Cristianismo e o Império Romano: Quando o cristianismo foi adotado como religião oficial do Império Romano, ele deixou de ser um movimento de resistência espiritual para se tornar um instrumento de controle político, muitas vezes justificando perseguições e guerras.
A Santa Inquisição: A fusão entre o poder religioso e o Estado resultou em perseguições violentas contra aqueles que discordavam da doutrina oficial.
A Religião e o Apartheid na África do Sul: Igrejas cristãs justificaram a política de segregação racial, alegando que a separação era "biblicamente ordenada".
O Papel da Religião nos Regimes Autoritários: Em várias ditaduras modernas, líderes religiosos foram usados para legitimar regimes opressores, incluindo na América Latina.
Esses exemplos mostram que, quando a religião se torna um instrumento político, ela perde sua essência e frequentemente se torna cúmplice de injustiças.
A crescente fusão entre cristianismo e política, especialmente entre evangélicos brasileiros nos EUA, representa um risco para a identidade da fé. Ao priorizar alianças partidárias e ideologias nacionalistas, muitos têm se afastado dos valores centrais do Evangelho, como a compaixão, a justiça e o acolhimento ao próximo.
Se a igreja continuar nesse caminho, corre o risco de perder sua credibilidade moral e se tornar apenas mais um instrumento de disputa política. O verdadeiro desafio para os evangélicos não é escolher um partido, mas manter sua fé fiel ao Evangelho de Cristo, que sempre esteve acima das estruturas políticas humanas.
A grande pergunta que permanece é: a identidade evangélica será definida pelo Evangelho ou por alianças políticas temporárias? O futuro da fé depende da resposta a essa questão.
Pr. Gedeon Lidório
Instagram: @gedeonlidorio
E-mail: gedeon@lidorio.com.br
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