Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.
As principais eleições brasileiras ocorrem em dois turnos, capitais e grandes cidades e, por serem disputadas em duas etapas, exigem leituras mais flexíveis do cenário político.
A questão está afeta aos objetivos de cada legenda e isto deve implicar em ajustes nas ações e discursos a serem priorizados. Basicamente se persegue dois números; metade dos votos para os favoritos, algo em torno de 45% dos votos totais, ou atingir o segundo turno que, em função dos concorrentes, exige um mínimo de 20, idealmente mais que 25%. Lógico que metas diferentes exigem estratégias diversas.
Embora a quase totalidade das pesquisas apontem uma divisão preliminar de 70% dos eleitores nas duas pontas ideológicas, os comandos de cada campanha sabem que o índice de fidelidade, aqueles que, não importa o candidato, se manterão no espectro ideológico, gira entre 15 e 25%, de acordo com a praça em análise.
Observe que, se a meta é fechar no primeiro turno, é necessário esticar o universo eleitoral, logo, um discurso ideológico forte impede o deslocamento da candidatura em direção ao centro para complementar o contingente de votos necessários. Em praticamente nenhum local, se consegue fechar a conta com apelo apenas para uma das pontas.
Todavia, para a grande maioria dos candidatos, a ambição inicial é obter uma das vagas do segundo turno e, de acordo com o número de concorrentes competitivos, a exigência oscila entre 20 e 30% dos votos, números que admitem uma estratégia focada em discursos mais forte ideologicamente e, inclusive, direcionando as alianças com outras siglas também definidas pelo mesmo raciocínio. A escolha do candidato a vice, que já foi definida pela força eleitoral ou financeira do selecionado, atualmente precisa também conjugar o fechamento do universo ideológico desejado.
Importante também avaliar o processo de decisão do voto de cada eleitor, consideradas as variáveis macro. Claro que em eleições municipais, o eleitor tem um conhecimento muito maior dos candidatos, face a proximidade, e sem uma boa leitura inicial, nenhum apoio vai fazer milagre, ainda assim vamos percorrer um pretenso fluxo da definição do eleitor.
O fator inicial será sempre o índice de aprovação da atual gestão. O corte superior aponta para 60%; se a gestão está acima deste número, a situação só não vencerá por alguma tragédia eleitoral, todavia se a aprovação estiver abaixo de 40%, será muito difícil que o candidato à reeleição, ou o candidato da situação tenha vida fácil nas eleições. Entre estes dois números, cenário mais comum em grandes centros, a disputa percorre vários outros fatores para angariar votos.
O apoio do governador do estado tem, quase sempre, uma interferência positiva porque o eleitor sabe que a irrigação de recursos estaduais faz toda a diferença no futuro mandato. Ocorre que, em quase todos os estados, o guarda-chuva estadual inclui diversas siglas e, raramente, o governador fecha apoio para não melindrar aliados da esfera estadual e, quando o faz, está escorado em pesquisas que minimizam o risco.
Eleições equilibradas, se não forem plebiscitárias, com apenas dois nomes opostos, não terão o apoio efetivo do governador que se limitará a rápidas e pouco incisivas declarações em direção ao candidato de sua legenda, cumprindo o ritual mínimo de fidelidade.
A grande novidade deste pleito municipal é a presença de um fator ideológico bem mais evidente que nas edições anteriores. É muito provável que os índices de rejeição serão ditados, inicialmente, pela componente ideológica ainda que a porcentagem de definição de votos determinada pelo apoio dos ícones nacionais ainda ocorra sem peso quantitativo, embora, em alguns casos possam ser decisivos.
No segundo turno, quanto maior o colégio eleitoral, a tendência é mais interferência do quadro nacional, sem deixar de registrar que os fatores locais e a imagem construída pelo marketing de cada candidato sejam muito mais efetivas por conseguirem acentuar ou atenuar as questões ideológicas com razoável eficiência.
Friso que a leitura apresentada sofre ajustes em função do nível de identificação do candidato local com as lideranças nacionais ou estaduais e, reafirmo, nada supera fatores locais expressivos.
Lógico que eleições municipais, nem mesmo de São Paulo, são decisivas para projetar o jogo de 2026, mas, se tomadas no coletivo, pode apontar para players bem situados no tabuleiro político. Particularmente para atuais governadores, de olho em Brasília, vencer bem em seus estados é fundamental para se cacifar para as presidenciais e, talvez por isso, estas eleições podem ter um recorde de pautas nacionais sendo discutidas.
Tarcisio, Zema, Eduardo Leite, Ratinho, Ronaldo Caiado, ainda mais que Lula ou Bolsonaro, dependem de números em 2024 e, principalmente depois de agosto, entram em campo para fabricá-los.
Sem eles, terão que recalibrar suas ambições de curto prazo. Por isso, se 2024 não serve para cacifar ninguém, pode ser suficiente para reduzir o número de players no jogo nacional.
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