Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.
Ninguém precisa entender de política para perceber que, se pudessem, Lula e Bolsonaro disputariam as próximas cinco eleições para presidente. Mas, por razões diversas, é lícito esperar que este duelo não se repita nas urnas.

Lula terminará o atual mandato com 80 anos e já anunciou que será candidato em 2026, aliás basta observar sua prática diária para perceber que boa parte de suas ações e declarações são focadas no projeto de reeleição.
Bolsonaro está inelegível e, a despeito de seus esforços, nada indica que poderá disputar a próxima eleição e, em função do resultado das urnas, poderá estar fora de circulação em 2030.
Todavia, esta breve leitura não se ajusta aos projetos de ambos, apegados ao poder e sem o menor desejo de abrir um milímetro de espaço para eventuais herdeiros políticos.
Claro que falta muito tempo, mas seria muito razoável que as legendas tivessem liberdade para avaliar o futuro sem a tutela de seus líderes que seguem com o comando de tudo na palma de suas mãos. Não estaria sendo leviano, se afirmar que Lula pode chegar sem condições adequadas de saúde ou Bolsonaro ainda inelegível nas próximas eleições e seria bem razoável que seus campos políticos estimulassem nomes para tentarem se viabilizar como nomes alternativos para 2026 ou mesmo 2030. Um rápido olhar mostra que sobram nomes a serem trabalhados para um projeto nacional.
Quando olhamos à esquerda, saltam os nomes de Haddad e Alckimin em primeiro plano, por conta de seus cargos e suas exposições, com outros nomes, inclusive de Flavio Dino, que podem ser lapidados e chegarem ao período eleitoral com potencial eleitoral adequado.
No campo da direita, a fartura de nomes é ainda maior. Alguns com bastante apetite, como Tarcísio, governador de São Paulo, cada vez mais de olho no Planalto, embora com muito respeito ao padrinho Bolsonaro. Ratinho que, ainda timidamente, mas já assume o projeto presidencial. Ronaldo Caiado também se mexe com alguma desenvoltura. Romeu Zema traçou um plano de voo curto e deve ser opção apenas para vice e Eduardo Leite tem a missão de recuperar o estado da tragédia climática como pré-condição para eleições presidenciais.
Ainda que sobrem nomes, isto também tem ocorrido como opções nas últimas eleições, mas, sem os caciques abdicarem do quase caudilhismo que exercem, ninguém consegue se afirmar no jogo político e é razoável, admitir que Lula ou Bolsonaro não recuem um único milímetro de seus projetos pessoais, lógico ambos declarando em ato e bom som que “se sacrificam em nome do bem da pátria”.
Sem o bom senso de ambos, a disputa segue polarizada e odiosa e, qualquer que seja o resultado das urnas em 2026, a possibilidade de um quadro de convergência nacional é nula porque as competentes equipes de marketing, de posse de estratégias eficientes de fakes news, já dispararam zilhões de mensagens assegurando que o adversário é a encarnação do diabo, discurso amplamente aprovado e disseminado por suas facções, como parte de seus pretensos compromissos com a humanidade de trabalhar para proteger o país do comunismo ou o fascismo, dependendo do sinal de suas crenças.
Não tem encruzilhada nem curva para qualquer lado, é seguir em frente fugindo do perigo da direção oposta, é rezar e lutar para que o fogo das hostes inimigas não arda no quintal de suas casas, é eliminar qualquer possibilidade de um debate sereno que aponte qualidades, que são muitas, ou defeitos, que também sobram de ambos os lados.
O bom senso está desfiliado e longe da política nacional, segue este jogo obsceno de personagens focadas no poder, a população docilmente é carregada ao sabor de suas paixões e só nos resta uma esperança; o apetite eleitoral das figuras alternativas supramencionadas, além de outras de igual calibre que podem nos livrar da pretensa luta do bem contra o mal, que se ofereçam no tabuleiro eleitoral ainda que para permitir um debate sem ódio, uma escolha racional.
Absolutamente nada contra as siglas implicitamente mencionadas, PL e PT, ou outras não citadas, MDB, PP, PSD, PDT ou qualquer delas, apenas o sincero desejo de um brasileiro enojado com o ódio que exala das disputas eleitorais e saudoso do tempo em que ideias eram associadas a legendas e mesmo a candidaturas.
Pode ser diferente, seria até melhor para o brasileiro, infelizmente isto não é razoável para os nossos dois caciques.
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