Heresia política na caneta do inquisidor Trump.
- Walber Guimarães
- 25 de fev.
- 3 min de leitura
Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.
No início do século XVII, o italiano Galileu Galilei foi punido pela Inquisição com toda a justiça Divina, já que ousou afirmar que a Terra não era o centro do universo, negando explicitamente as diretrizes da Sagrada Escritura. Imagine o absurdo de um cientista defender o heliocentrismo, a teoria de que o Sol está no centro do sistema solar. Prisão domiciliar para o herege para os restos de seus dias por afrontar as convicções do poder religioso. Mas, todos sabem, a história se repete como farsa, como declarou Karl Marx.

Na metade da segunda década do século XXI, cientistas americanos estão sendo punidos por ousarem investigar, pesquisar ou declarar qualquer coisa acerca das mudanças climáticas ou temas correlatos. A inquisição política, agora comandada por um presidente e não um Papa, estabelece regras rígidas para o conhecimento científico, revivendo os piores momentos da história. Pelo menos a pena será demissão e não mais a prisão domiciliar eterna.
Trump, em seu conturbado início de mandato, aponta para retrocessos que devem envergonhar os americanos de bom senso, impondo uma ampla censura sobre pesquisadores e setor das artes, instaurando um sistema onde funcionários públicos são forçados a delatar seus companheiros de trabalho. Preventivamente, todas viagens e participações em Congressos estão suspensos para que enviados do todo poderoso Elon Musk façam uma revisão completa no conteúdo para impedir a proliferação de heresias, como, por exemplo, algum cientista concordar com as mudanças climáticas, aquecimento da Terra e outras bobagens que, provavelmente, são coisas de comunistas.
Mesmo a Nasa, admirada agência espacial americana, terá corte de mil funcionários, números que podem ainda ser ampliados, lista que inclui pesquisadores e cientistas de várias vertentes, alguns, por exemplo, dedicados a avaliar assuntos relacionados à Neuralink, empresa de implantes cerebrais do todo poderoso Elon Musk, sócio das aventuras tresloucadas do presidente, em evidente conflito de interesse. Ainda mais grave, o monitoramento do surto de gripe aviária H5N1 foi suspenso. Será que eles também estão apostando na imunidade de rebanho de galinhas e gado?
Também sob orientação do todo poderoso Elon Musk, a Estação Espacial Americana deverá ser derrubada rapidamente, talvez para abrir caminho para a Space X, uma das principais empresas do todo poderoso. Naturalmente, os projetos Artemis, de volta à Lua, ou de exploração de Marte serão desativados. Claro, as empresas do todo poderoso, que investiu um bilhão de dólares na campanha presidencial, estarão liberadas para comandar o jogo, porque, ainda em 2025, a Nasa passará a depender das empresas do todo poderoso.
Limito-me as questões científicas, para não abrir o debate sobre a deportação de imigrantes irregulares nos EUA porque é uma questão interna, ressalvadas as razões humanitárias, que recebeu avaliação nas urnas. Trump foi sempre muito sincero acerca deste tema e recebeu a maioria dos votos. Reflexos internos, como falta de trabalhadores em prestação de serviços mais rudes ou na agricultura, ambos com potencial de alavancar índices de inflação, são itens de consumo interno e devem ser resolvidos pelos americanos. Lógico, que as condeno por significarem um retrocesso no conceito de aldeia global, de um só planeta para todos, e parece apontar para a demissão americana no posto de nação líder do planeta, mas entendo que a questão é dos americanos.
De longe, Trump parece mais preocupado em criar uma nova ordem mundial, através da parceria, de acordo com suas regras, com a Rússia e a China, convergindo interesses das três maiores economias, com potencial para determinarem todas as regras para as demais nações.
Lógico que na esfera política, Trump será uma referência podendo catalizador partidos e nomes, na esteira da sua trajetória, ficando a bandeira da direita em diversas outras nações, mas precisa também continuar merecendo o respeito e a admiração das pessoas, fora da bolha de extrema direita, universo muito pequeno até para a nação americana.
Sem repensar suas ações extremistas, em pouco tempo X, o filho de quatro anos do todo poderoso Elon Musk, poderá ser nomeado nosso porta voz, repetindo em linguagem direta o recado ao presidente americano, talvez inspirado nas lições domésticas “Você não é o presidente, você precisa ir embora”
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