HERÓIS, HEROÍNAS, DE ONTEM, HOJE E SEMPRE
- Célio Juvenal Costa
- 9 de jan.
- 4 min de leitura
Por: Célio Juvenal Costa, professor da UEM
No final do ano passado fui visitar uma tia que eu não via há tempos e, para além de matar a saudade, conversar bastante e comer um delicioso bolo de chocolate, tive a grata surpresa de saber que minha priminha de 10 anos é fã de Ayrton Senna. Confesso que achei no mínimo curioso ela, com sua idade, ter uma camiseta do Senna em casa, pois ele faleceu, tragicamente, diga-se de passagem, há pouco mais de 30 anos. Cheguei em casa depois de iniciar o ano e finalmente fui assistir a série Senna da Netflix e, como eu já previa, me emocionei muito, de novo. No último domingo o Brasil teve a satisfação e a alegria de ver Fernanda Torres ganhar o Globo de Ouro como melhor atriz de filme dramático. O país vibrou, se encheu de orgulho e se emocionou com o discurso da Fernandinha, filha da Fernandona, que nos colocou novamente no alto da prateleira com o reconhecimento de uma atuação magnífica em Ainda Estou Aqui. Mas, o que uma coisa tem a ver com a outra? Muita coisa, arrisco eu a afirmar; Senna foi (e é ainda) um herói nacional, e Fernanda Torres se tornou, também, uma heroína nacional.


Sobre o Ayrton creio que não há quase nada mais a se falar que acrescente algo de novo. Portanto, vou falar um pouco da série da Netflix. Gostei muito! Os atores são muito bons, especialmente Gabriel Leone, que viveu o próprio Ayrton, e Matt Mella, que viveu Alain Prost que, como sabemos, foi o maior rival do brasileiro nas pistas. A produção é muito boa tecnicamente falando, pois a impressão é que nas cenas de corrida, estamos dentro do carro junto com Senna. As atuações dos atores, de forma geral, são muito boas, a fotografia do filme é quase perfeita, a direção também é muito competente. Talvez o único senão seja um excesso, em alguns momentos, de mostrar Senna como quase perfeito, levando os expectadores que não conhecem a história dele (será que tem alguém ainda assim?) a achar que ele sempre teve razão em relação aos seus adversários e, especialmente, a Balestre, o todo-poderoso chefão da FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Mas, sinceramente, não me incomodei muito com os possíveis excessos, pois sempre fui fã de automobilismo e, especialmente, de Senna. Creio mesmo que assisti, ao vivo, a pelo menos 90% das provas que ele disputou na fórmula 1 e, é claro, ao vivo assisti aos seus três títulos mundiais e à fatídica corrida de Ímola em 1994 quando ele faleceu na curva de Tamborelo. Aliás, umas das primeiras corridas que eu tenho na memória foi uma de 1980 em que Piquet venceu e Emerson Fitipaldi chegou em terceiro. Dali em diante acho que perdi poucas corridas ao vivo. Mas, enfim, vale a pena assistir a série, mesmo para aqueles que já sabem de cor e salteado a vida de Senna, e vale muito para manter viva a chama do herói que ele foi e que sempre continuará sendo. Quem nunca se emocionou com ele dando a volta da vitória segurando a bandeira do Brasil? Com ele tínhamos orgulho de sermos brasileiros, especialmente porque o mundo todo estava assistindo as suas vitórias.
E tivemos novamente este orgulho domingo com a premiação do Globo de Ouro. A vitória da Fernanda Torres foi magnífica. Se fizermos a (esdrúxula) comparação com a fórmula 1, poderíamos arriscar afirmar que ela ganhou de Prost, Mansell, Lauda, Schumacher. A atuação dela no filme foi magnífica ao encarnar a vida de Eunice Paiva, que lutou a vida toda para que a ditadura brasileira reconhecesse que seu marido Rubens Paiva havia sido morto nos porões do regime militar. Um filme sensível, com ótimas atuações, com ótima direção e fotografia, que mostrou os horrores da ditadura sem mostrar explicitamente as torturas e as mortes, sem mostrar explicitamente o sangue derramado; mas às vezes o que está implícito é mais significativo, e é o caso do filme. Ser mulher no Brasil, com sua cultura patriarcal, nunca foi uma coisa fácil; ser mulher perseguida pela ditadura militar era um peso ainda maior; ser mulher e mãe de cinco filhos ainda menores de idade com o marido preso político e desaparecido nos porões do regime militar seria motivo suficiente para ela desistir ou, no mínimo, perder a lucidez. Mas, não foi isso que ela fez, ela seguiu a vida, criou os filhos, se formou em direito, atuou nas questões ambientais e sempre lutou pelo reconhecimento oficial que seu esposo havia sido torturado e morto por ser oposição ao regime ditatorial. Ela conseguiu!! E a interpretação que a Fernandinha fez foi digna do Globo de Ouro. Orgulho dela como atriz, orgulho da Eunice por ser quem foi, orgulho dos mais de 3 milhões de pessoas que foram assistir ao filme aqui no Brasil, orgulho de quem resiste e luta pela manutenção da democracia no nosso Brasil, orgulho, aliás, por ser brasileiro!
Obrigado Ayrton Senna da Silva por toda a felicidade que você me deu ao longo de sua existência como piloto de fórmula 1!
Obrigado Fernanda Torres pela alegria e emoção que você causou em mim pela premiação justa e merecida!
Tenho orgulho de ser brasileiro, de torcer a cada dia para que tenhamos mais heróis como Senna e mais heroínas como Fernanda Torres, e de lutar a cada dia para que nosso país seja de todas e de todos e que a democracia seja sempre a nossa melhor opção para vivermos coletivamente!!
Meu Instagram: @costajuvenalcelio
Comments