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Foto do escritorTania Tait

Ela já atendia por “Princesa”

Ontem ao me deparar com um cachorro (ou cachorra, não analisei) andando em cima de um muro, me lembrei da pastora alemã que tive. Não que ela andasse em cima do muro, mas pelo cuidado que dela com a casa e as crianças, sempre muito atenta.



Ganhamos a Princesa do tio Sid, irmão do meu pai, meu segundo pai. Daqueles que cuidavam de todo mundo e dava muitos conselhos. E foi esse tio cuidadoso quem nos chamou, um dia na sua casa, para escolher entre dois filhotes de cachorro. De cara, o olhar doce da Princesa nos atraiu. Pensávamos em mudar o nome, mas ela estava atendendo por Princesa e assim ficou.


Recém-casados, a Princesa se tornou o terceiro membro da família. Meu pai fez uma casa pra ela, com tijolos, telhas de barro e uma portinha, um castelo para aqueles tempos. Quando a Mariana nasceu, ela ficava observando aquele pedacinho de gente. Depois veio a Ana Carla, logo as duas começaram a brincar no quintal e a Princesa correndo com elas.


Alguns a achavam doce demais para uma cachorra daquele porte, mas não sabiam que ela não permitia que as pessoas encostassem no portão quando as crianças estavam brincando na frente da casa ou que ela não deixava as pessoas entrarem em casa, se não estivessem acompanhadas por nós.


No período do meu mestrado, ela ficava deitada com as patas cruzadas, me olhando estudar e comia pipoca comigo. Hoje não pode dar pipoca né. A comida dela, na época, era uma panela enorme de polenta com pedaços de carne. Hoje, também não pode, né. Na época, não existiam as lojas PETs espalhadas pela cidade nem ração de todo tipo. A vacina contra a raiva, dada todo ano, era comprada numa loja de produtos agropecuários e a gente mesmo aplicava. Inclusive, com a escassez de médicos veterinários, era o pessoal da loja que indicava os remédios para os problemas que surgiam.


Um dia, um “safado” entrou no quintal e deixou a Princesa grávida. Ela teve 3 filhotes, demos dois e ficamos com um, que foi roubado do quintal.


Com 8 anos de idade, a Princesa se foi, acometida por um tumor que o veterinário disse que não tinha como operar. Quando ela morreu, eu estava nas aulas do mestrado na UFSCar (SP) e a família não me contou pra não me entristecer. Fiquei sabendo quando cheguei de viagem. Chorei muito, afinal, estava perdendo minha parceira de brincadeiras com as crianças e estudos. Tivemos outros animais depois, mas a Princesa foi a que mais marcou, certamente, por ser a primeira, por ser a que ficou mais tempo comigo e por ser presente do tio Sid. As crianças cresceram, a família aumentou, a vida mudou, o mundo mudou. Nos resta a lembrança da nossa Princesa e seu olhar carinhoso.


- Pra que essa choradeira, era só uma cachorra.


- Não era só uma cachorra, era a Princesa, o terceiro membro que entrou na família.

 

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