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Echarpes, lenços, pashminas, xales e suas histórias

Foto do escritor: Tania TaitTania Tait

Outro dia fui colocar uma echarpe (pashmina, cachecol, lenço, xale...os nomes variam de acordo com o tipo e a moda) e senti cheiro de mofo. Daí resolvi verificar as demais e o resultado é que as lavei criando um varal colorido. Tenho uma coleção, de vários tipos e cores. Algumas ganhei de presente, outras comprei, algumas doei, uma pedi pra uma amiga fazer...enfim cada uma tem sua história.


Me dei conta de que boas lembranças acompanham cada uma delas, usadas em festas, viagens, trabalho ou no movimento social. No trabalho, por décadas, me protegi com elas, no frio na UEM (Universidade Estadual de Maringá), com seu campo aberto.


No tempo em que o mundo era menos raivoso, me apelidaram de "Penélope" na UEM em referência a pilota de carro Penélope do desenho Corrida Maluca pois ela usava um cachecol cor de rosa e era a única "menina" na corrida. O desenho passava na TV nos anos 1960 e 1970 e era famoso por ter um vilão, Dick Vigarista que sempre procurava trapacear nas corridas. Ela fazia parte do time dos corretos, se vestia de rosa e era chamada de “Penélope Charmosa”. Naqueles tempos, a sua figura era associada com a vaidade feminina, mesmo em uma corrida num deserto cheio de poeira e competindo com os homens de igual pra igual.


No final dos anos 1990, conheci o Peru, onde mais uma delas, adquirida na viagem, me aqueceu no frio da Cordilheira dos Andes.


Na I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, em 2004, fomos presenteadas com echarpes confeccionadas por artesãs, vinculadas a um projeto social da Petrobrás. No evento, éramos mais de 2000 mil mulheres representantes de todo o país.


Um dia andando pela cidade, em Maringá, me deparei com um cachecol diferente, fotografei e pedi pra uma amiga fazer. A amiga se tornou minha madrinha de casamento, além de atuarmos juntas desde os anos 2001 na defesa dos direitos das mulheres e da democracia.


Tem a história do cachecol feito de tricô pela mãe de um orientando do mestrado em Ciência da Computação, que me presenteou pois viu que eu usava sempre. Gosto muito de trabalhos manuais pois a pessoa faz com carinho e pensando em quem vai presentear. Tem aquelas usadas nas apresentações do Coro Feminino da UEM, a rosa e a de chita, cada uma para um tipo de evento e de músicas.


Penélope Charmosa e turma da Corrida Maluca

Imagem  capturada da Internet (21/07/2024)


No Vaticano, em 2018, a echarpe nos salvou, a mim e amigas, de sermos barradas na entrada pois estávamos com regatas devido o calor e não tínhamos visto que pra entrar os ombros precisam estar cobertos. A regra nos causou surpresa e risos pois tínhamos passado por uma rua cujas lojas mostravam  pênis da estátua de Davi e outras imagens de nudez desenhadas em chaveiros, aventais, cartões etc. Ao final, deduzimos, a gargalhadas, que o “pecado” está nos ombros nus e não nas partes íntimas.


Tenho uma das echarpes na cor vermelha, ora combinada com roupa preta, ora usada em manifestações e movimentos políticos pra destacar o vermelho como luta da classe trabalhadora. Tenho lenços na cor lilás, cor usada no mundo pelo movimento feminista e na defesa dos direitos das mulheres.


O tempo passou, o mundo mudou, mas as mulheres continuam quase inexistentes nas corridas a despeito dos esforços  das federações esportivas e das próprias pilotas, são poucas na política e nos espaços de poder. Nesse tempo de mudanças, a peça ao redor do pescoço e do colo, continuou uma exclusividade feminina, sendo relegado aos homens, o uso de um sóbrio cachecol. 


Olha aí uma boa pesquisa, se é que já não foi feita, sobre os usos das indumentárias ou acessórios para o pescoço e colo e as mudanças sociais ao longo do tempo.

 

Curiosidade:


Quem são as mulheres que já competiram na Fórmula 1? Disponível em:

Matéria de 13/05/2021.

 


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