Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.
A tradição popular ensina que, diante da visão de um copo com água pela metade, otimistas enxergam um copo quase cheio e pessimistas o veem quase vazio. Você, no alto do bom senso, sabe que nenhum dos dois está necessariamente errado.
Lógico que outros fatores contribuem com a visão que se tem do copo. Mais que racionalidade, independente da metade que você preferis, tem muito de emoção, intuição neste julgamento. Desejo ver o copo de um jeito e o meu cérebro se ajusta à minha preferência. Já disse, em outros textos, que isto também é a essência da teoria das comunicações.
Porém, se o assunto é política econômica, mesmo que não se queira, os dois parágrafos acima descrevem o funcionamento do cérebro e coração que pulsa mais à esquerda ou à direita.
Se o teu coração pulsa em tons vermelho, a queda da Selic, com indicativo de novas reduções à frente, somada ao anúncio da PAC 3 revigorada e em valores recordes, podem ser a injeção que a nossa economia precisa, permitindo uma virada de expectativas que nos remetem a 2, em 23, e até a 4% de crescimento da economia em 24, lógico que acompanhada de crescimento de renda e emprego. Cenário que se completa com a derrocada das versões de Bolsonaro sobre o 8 de janeiro.
Mas, em número muito expressivo, existem aqueles que seguem preocupados com a ideologia e os amigos do presidente de plantão. A paixão injustificada por Maduro, as excessivas gentilezas com o argentino Fernándes e a prioridade absoluta para a pauta internacional, agora acrescidas da alta substancial da gasolina e do diesel, que todos sabem que tem efeito cascata sobre os preços, apontam para um cenário cinza, com a conjunção sempre trágica de inflação e recessão. Para estes, mais que um copo meio vazio, é possível observar um furo no fundo .....
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, já dizia o poeta com inteligência. Não parece provável que um dos cenários se estabeleça em plenitude, inclusive pelo concurso de muitos outros fatores nesta equação, como é próprio das leituras de política econômica.
É importante frisar que a competência no gerenciamento interno é muito importante, mas precisa se ajustar as macro variáveis externas. Além das guerras, eleições externas e números das economias estrangeiras, chinesa e americana em especial, costumam fazer mais estragos até que os erros e acertos da nossa política econômica. Foi assim que Lula navegou com vento a favor no primeiro mandato, com as velas içadas por Itamar e FHC. Também foi um evento mundial, a pandemia, que domou os esforços de Guedes.
Acredito que, assim como na trabalhista, a reforma tributária, com todas as justas críticas que ensejou, é muito melhor que nenhuma reforma por tudo que sinaliza para o mercado. Regras novas e ajustadas com aval do legislativo e executivo apontam para a normalidade, fator primordial para atração de investimentos. São pré-requisitos para um crescimento consistente que pode vir à frente, mas não concorrem sozinhos para o sucesso.
Como sempre, a cena política importa para garantir estabilidade institucional e, mais uma vez, a possibilidade de prisão de um ex-presidente, que em nada enobrece a nação, contribui para manter a alta temperatura do debate eleitoral.
Sei que é extemporâneo, mas soluções do modelo parlamentarista nos poupariam esforços e recursos para superar cada crise decorrente do nosso modelo decadente e personalista onde nomes, quase sempre questionáveis, movem montanhas e evocam paixões ódios que desviam atenção do essencial.
O momento exige serenidade e descarta reações emocionais. Não é Lula ou Jair, é o Brasil que está em jogo, são empregos e renda em discussão, pouco importa qual é mais competente ou menos honesto.
Tirar o olho do umbigo, olhar pra frente, esquecer paixões e acreditar que soluções precisam de consenso e apenas a unidade agiliza o crescimento ajuda. E muito!
Será que líderes mambembes são mais importantes que o país?
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