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Cianorte, depois das urnas.

Por: Walber Guimarães Júnior - Engenheiro Civil e Diretor da CiaFM


O desenho, desde o início, apontava para uma eleição histórica entre dois nomes consagrados em suas atividades profissionais e comandando grupos políticos fortes e tradicionais e realmente tivemos uma disputa muito interessante. Marco Franzato e Rodrigo Guimarães são empreendedores vitoriosos, reconhecidos e com muito prestígio em suas atividades profissionais e competiram em alto nível, oferecendo inúmeras razões para serem escolhidos pela população.



Por fim, prevaleceu a lógica eleitoral; candidato à reeleição sempre tem maiores probabilidades de sair vitorioso das urnas, em especial se sua gestão tiver uma boa avaliação, como ocorre em Cianorte.


Motivado por esta forte razão, Cianorte optou pela reeleição do prefeito Marco Franzato com 26318 votos contra 15606 de Rodrigo Guimarães, com apenas 41924 votos válidos que representam apenas 71,3% do eleitorado, com 16831 eleitores que não exerceram o direito de escolha, representando um índice bem acima da média nacional.


O histórico político brasileiro registra um percentual bastante elevado de reeleições por diversos fatores, sendo o domínio da máquina pública, a posse da “caneta’, um grande fator de desequilíbrio, sendo raros os casos em que gestões bem avaliadas são derrotadas, pela simples razão que é esta a principal questão que se oferece ao eleitor; o julgamento inicial é sempre sobre o grau de aprovação da gestão em avaliação e apenas em caso de avaliações inferiores a 50% de aprovação, os adversários são efetivamente analisados.


Em muitos casos, reeleições provocam inversões de prioridades, postergando ações importantes e antecipando ações de visibilidade que se revertam em votos. Mandatos de seis anos, sem reeleição, seriam muito mais saudáveis para as finanças municipais.


Cianorte teve realmente uma gestão acima da média, com ações transformadoras, apelando para o carimbo preferido do atual prefeito, com ações inovadoras, algumas ousadas, e uma ótima capacidade de angariar recursos nas outras esferas. O governador Ratinho foi generoso com a cidade e vários deputados, Zeca Dirceu à frente, contemplando a cidade com ótimas parcerias.


A questão negativa, a ser enfrentada pela administração, foi o estilo mais direto do prefeito, que, ao contrário dos antecessores, esteve menos acessível à população, talvez fruto da sua experiência na iniciativa privada. O retorno às ruas na campanha, que sempre é gratificante para um prefeito bem avaliado, deve servir também para pequenos ajustes no diálogo com lideranças e mesmo com a população, agilizando o diálogo mais aberto que sempre resulta em maior reconhecimento da sociedade. São lições das ruas que devem ser bem aproveitadas.


Todavia, prevaleceu a leitura positiva da gestão, ainda que o recado das ruas precise ser entendido pelo grupo vencedor, para que consiga conciliar o mérito administrativo com o indispensável jogo político,


São correções importantes e, como sugestão, indico a criação de um conselho, ainda que informal, onde questões mais importantes sejam levadas ao debate, como o necessário entendimento que gestão pública exigirá sempre maior proximidade com a comunidade para a construção de convergências.


A campanha da situação soube se manter distante destas questões e priorizou, com êxito, a exposição das ações e obras da gestão, um ótimo ativo que se mostrou convincente. Acredito que até mesmo uma parcela significativa da população votou na oposição, ainda que aprovasse a administração, manifestando maior identidade com o estilo mais acessível dos antecessores.


Registro que esta postura foi ainda mais fácil com uma Câmara dócil que aprovou literalmente tudo, sem exercer seu papel efetivo de contestação quando necessário. Houve muita omissão entre os vereadores, com destaque para a CPI dos terrenos, uma questão grave para a qual se exige transparência e que os vereadores insistem em manter no fundo da gaveta para não contrariar interesses. O resultado disto foi um índice baixo de reeleição, ainda que o ajuste de siglas tenha sido desenhado para garantir pelo menos 70% de retorno.


Nenhum vereador teve aumento expressivo de votos, ainda que nenhum tenha tido um resultado muito diferente que em 2020. Espera-se que a nova safra que assume em janeiro, entenda o recado das urnas e exerça com mais ênfase a função fiscal e a importante intermediação entre a população e a administração também nos grandes projetos e não apenas no assistencialismo e na busca de pequenas indulgências para sua base eleitoral.


Em relação à oposição, houve erros gravíssimos de condução da estratégia de marketing, já no início apresentando um empresário vitorioso apenas como filho de uma das mais importantes lideranças políticas que a cidade já teve. Os antigos eleitores e amigos do saudoso Edno Guimarães migrariam naturalmente para seu herdeiro político sem que isso transferisse a natural rejeição do grupo que comandou a cidade por dezesseis anos.


Ainda na área de marketing, o grupo queimou pautas interessantes com assinaturas sem credibilidade, desmontando a contra campanha que poderia ter sido um forte elemento na conquista do voto. A votação expressiva do Coronel Elias, vereador eleito, é fruto de uma postura agressiva de oposição responsável e devidamente assinada, conferindo credibilidade e resultando em votos.


Outra nota negativa de ambas as campanhas foi a montagem das chapas proporcionais, com absurdas dezoito legendas disputando apenas onze vagas, com o natural desperdício de votos e esforços. Foram dez legendas e quase doze mil votos jogados no lixo, deixando alguns, Gabriel Alves Biroca à frente, com 869 votos em uma legenda com péssimo desempenho. Na prática, ambas as campanhas colocaram muita gente como cabos eleitorais de luxo em uma aventura sem porto de chegada, sendo extremamente injusto com tanta gente boa, alguns até bem votados, que se dedicaram por vários meses sem nenhuma chance eleitoral, ainda que bem votados, por conta de uma estratégia ridícula de lançar um candidato a cada 240 eleitores.


Lições das urnas precisam ser bem avaliadas e se espera uma gestão ainda mais produtiva, inclusive com uma postura mais adequada do prefeito, que seja muito mais “nós” do que “eu”. A expectativa de recursos, tanto de Brasília e em especial de Curitiba é bem elevada, indicando a possibilidade de muitas obras.


Finalizando, registro comportamento extremamente digno do Rodrigo Guimarães que reconheceu com altivez o resultado das urnas, desejando sucesso ao vencedor. Rodrigo, assim espero, terá novas oportunidades e o tempo haverá de lhe reservar o momento adequado para que comande a cidade que tanto ama.

 

 

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