“Carnaval, Bíblia e uma Pergunta que Ninguém Gosta de Fazer”
- Christina Faggion Vinholo
- 3 de mar.
- 3 min de leitura
Por Christina Faggion Vinholo, Teóloga, especialista em AT e NT
O carnaval é uma festa profundamente enraizada na cultura brasileira e, embora tenha origens em festividades cristãs, ao longo do tempo assumiu formas diversas, muitas vezes marcadas pelo excesso, pela sensualidade e pela banalização de valores que a fé cristã preza. Historicamente, o carnaval surgiu no contexto da Igreja Católica como um período de celebração antes da Quaresma, um tempo de jejum e penitência em preparação para a Páscoa. O próprio nome “carnaval” vem do latim carne vale, que significa “adeus à carne”, referindo-se à prática de abstinência alimentar e de prazeres mundanos durante os 40 dias que antecedem a ressurreição de Cristo. No entanto, essa festa também foi influenciada por celebrações pagãs, como as Saturnálias romanas e festas medievais, tornando-se um momento de intensa festividade antes do período de restrição.

Com o tempo, o carnaval se distanciou de sua conexão com a Quaresma e passou a ser um evento marcado pelo hedonismo e pela busca por prazeres momentâneos. No Brasil, recebeu influências culturais africanas e indígenas, adquirindo características próprias, como os desfiles de escolas de samba e os blocos de rua. Atualmente, essa festa reflete menos uma tradição religiosa e mais uma expressão cultural, frequentemente associada a comportamentos que vão de encontro aos valores cristãos. Diante desse cenário, como devemos nos posicionar? Como honrar a Deus em meio a uma festa nacional que, em muitos aspectos, se distancia dos princípios do evangelho?
O apóstolo Paulo nos lembra: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (1 Coríntios 6:12). Biblicamente, não há uma proibição explícita quanto à participação em festividades culturais. No entanto, somos chamados a discernir o que nos edifica e o que pode nos afastar de Deus. O carnaval , em sua forma mais popular, incentiva um estilo de vida que frequentemente colide com valores cristãos, como a moderação, a pureza e o respeito pelo corpo, que é templo do Espírito Santo (1 Coríntios 6:19-20).
Ser santo significa ser separado para Deus, mas isso não implica viver alienado da sociedade. Jesus nos ensinou a estar no mundo sem pertencer a ele (João 17:14-16). Assim, a questão não é apenas se um cristão pode ou não participar do carnaval, mas como ele pode refletir a luz de Cristo em qualquer ambiente. Para muitos, a melhor escolha pode ser se afastar desse contexto; para outros, pode significar estar presente de maneira intencional, aproveitando oportunidades para testemunhar e levar a Palavra.
Paulo descreve claramente as obras da carne em Gálatas 5:19-21, incluindo imoralidade, lascívia e bebedice—elementos que muitas vezes marcam o carnaval moderno. Como cristãos, somos chamados a frutificar no Espírito (Gálatas 5:22-23) e a viver de forma que glorifique a Deus em tudo o que fazemos (1 Coríntios 10:31). Isso não significa assumir uma postura de julgamento contra aqueles que participam, mas manter um olhar crítico e cuidadoso sobre aquilo que consumimos e promovemos.
Diante do contexto do carnaval, há várias formas de vivermos nossa fé de maneira coerente. Algumas igrejas organizam ações evangelísticas ou retiros espirituais nesse período, oferecendo uma alternativa saudável e edificante. Cada cristão deve examinar sua consciência diante de Deus. Se determinada situação pode levá-lo ao pecado ou prejudicar seu testemunho, o melhor caminho é evitá-la. Além disso, ao invés de apenas criticar o evento, podemos orar por aqueles que se envolvem nele, pedindo que a graça de Deus alcance essas vidas.
Nosso chamado como cristãos é viver de maneira sábia e piedosa, sem cair em extremos—nem do legalismo, que demoniza tudo sem reflexão, nem do liberalismo, que ignora princípios bíblicos em nome da cultura. A questão essencial não é apenas “posso participar?”, mas “isso glorifica a Deus?”. Que nossa postura seja sempre de amor, discernimento e fidelidade à Palavra, vivendo como cartas vivas de Cristo (2 Coríntios 3:2-3) em meio a uma sociedade que precisa da luz do evangelho.
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